Space Ibiza Foto: Reprodução

Balada histórica de Ibiza, Space vai ressurgir em solo italiano

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Carl Cox, o mais “spaceiro” dos DJs, está confirmado para a inauguração da Space Riccione

Quando a ilha festeira de Ibiza acendeu o pavio que daria início a uma nova revolução cultural, chamada de Segundo Verão do Amor, a Space estava lá. Com seu terraço e sua arena cheia de gente dançando sob o sol baleárico, o club não só testemunhou, mas ajudou a erguer a temperatura da febre que tomou conta, primeiro dos jovens britânicos, depois do resto do mundo.

Ajudou, também, a transformar um paraíso hippie em um caríssimo destino de férias. Quando a energia do amor foi deixando a ilha, a do dinheiro ficou, trazida por turistas de todo mundo, sem pena de gastar uma bela grana com suas festas.

Aberto em 1989, o clube fechou suas portas, para surpresa geral, três décadas depois. Apesar de seguir fazendo festas de sucesso, Pepe Rosello, seu fundador, não conseguiu renovar o contrato de aluguel do terreno onde ergueu o que chamou de “Meca da música eletrônica”, em uma das áreas (agora) mais valorizadas de Ibiza, a praia D’en Bossa, próxima ao aeroporto da ilha.

Don Pepe e sua equipe nunca se conformaram com o fechamento, e seguiram prometendo um grande retorno da Space. Primeiro em 2021, depois 2022… E nada. O terreno de Ibiza segue espinhudo para eles. Ainda que não tenha desistido de reabrir o clube na ilha que o fez tão famoso, Rosello resolveu não esperar mais. Como parte de uma “expansão global”, segundo o empresário, a Space está abrindo sua primeira unidade fora da ilha, em Riccione, na Itália.

O clube segue o padrão Space, com seus jardins, terraços e pista em forma de arena, decoração branca e, claro, uma vista de tirar o fôlego no litoral italiano. A abertura está marcada para dia 2 de junho, pelas mãos de Carl Cox, o mais “spaceiro” dos DJs. Residente por quase 15 anos, Cox foi o responsável pela última música tocada da casa, em 2016, em um momento emocionante.

Riccione fica pertinho do aeroporto de Rimini, no mar Adriático, e apesar de não ter a mesma fama de Ibiza, também tem um cenário festeiro interessante, um dos mais movimentados da Itália. Assim como era a ilha espanhola antes do “efeito Space”. Saberemos, logo logo, se a casa terá o poder de hypar a praia italiana também!

A Space na fila do pão

Space Ibiza

Palco principal da Space Ibiza em 2015. Foto: Tilllate.es/Reprodução

O chamado Segundo Verão do Amor, em 1988, uniu o ecstasy, antidepressivo ressuscitado em laboratórios holandeses, com uma nova mistura musical que estava sendo cozida há 10 anos no clube Amnesia, em Ibiza, em long sets comandados pelo lendário DJ argentino Alfredo.

A ilha, até então, era um dos destinos turísticos mais baratos da Europa, buscado por hippies e mochileiros. Paul Oakenfold e seus amigos foram para lá em 1986, e o que viram saindo dos toca discos de Alfredo mudaria suas vidas, e de toda uma geração. O DJ tocava, no mesmo set, rock psicodélico, pós-punk, house music americana e synth-pop, criando uma mistura progressiva, festiva, que viria a ser chamada de “balearic beat”.

A sinergia entre lugar, música e o público foi tão grande que inspirou a criação de projetos de clubes específicos para aproveitar essa avalanche de gente que chegava a Ibiza. E então, surgiram clubs como Space, Pacha e Cafe Del Mar, além de várias outras casas noturnas ativas desde a década de 70, que se remodelaram para surfar na onda.

Foi nesse contexto que a Space se destacou como um dos mais importantes rolês da ilha, responsável por eventos que entraram para a história da música eletrônica como seus lendários Reveillóns, a noite Music Is A Revolution (comandada por Carl Cox) e, principalmente, a domingueira I Love Sundays, que rolava semanalmente das 16h às 06h da manhã.

A virada do milênio viu surgir um dos primeiros fenômenos de gentrificação no cenário eletrônico, movimento que tomaria de assalto também outros destinos clássicos das festas underground. Ibiza ficou cara e, por consequência, ficou branca. Não restou a esses clubes muito a fazer, além de ganhar um bom dinheiro com a turistada cheia da grana.

A Space de hoje, esta que se reinventa na costa italiana, não tem mais o poder de transformação que encabeçou em 1986. Nem teria como fazê-lo sozinha. Mas traz consigo uma importância histórica que não pode ser esquecida, mesmo que, em sua pista, seja necessário um poder extrassensorial para identificá-la, nesta louca década de 20.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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