Ricardo Villalobos Foto: Reprodução

Como Ricardo Villalobos ajudou a criar o minimal techno. Chileno toca em SP em 22/03

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Um dos principais expoentes do gênero visita o Brasil no final de março, em São Paulo; leitores do Music Non Stop ganham 5% de desconto!

No começo dos anos 2000, o mundo da música eletrônica voltou suas antenas para Berlim. A cidade, há pouco, havia recebido uma overdose de novas ideias e de pessoas, graças à reunificação da Alemanha, cujo símbolo maior, o muro que separava a cidade ocidental e oriental, fora demolido em 1989. Além dos alemães orientais, a cidade começou a receber moradores de vários lugares do mundo, interessados em seus aluguéis baratos e, principalmente, sua aquecida vida noturna.

No meio desse êxodo hedonista estavam Ricardo Villalobos (Chile), Richie Hawtin (Canadá), Luciano (Suíça) e Mike Shannon (Canadá). O núcleo duro de uma onda que traria à música eletrônica seu lado mais experimental, não comercial e cool — o minimal techno (ou minimal house, se preferir).

A música eletrônica é feita de antíteses. Um lento movimento de pêndulo. A sonoridade, a atitude e o jeito de curtir uma festa buscaram, a partir de Berlim, uma resposta ao ultracomercialismo que andava tomando conta do planeta dançante — dos superclubes caríssimos de Ibiza e Londres à apropriação capitalista da Love Parade, na capital alemã, que chegou a reunir milhões de turistas dançando na rua, durante a década de 90. Villalobos, Hawtin e sua turma encontraram no movimento minimalista a saída de emergência.

Menos é mais

O termo “minimalista” foi usado muitas vezes durante todo o século XX, e em diversas expressões artísticas, para designar movimentos em que o espaço dava lugar ao elemento na proposição do conteúdo. Na música clássica, por exemplo, Philip Glass é considerado minimalista. Já nas artes plásticas, Dan Flavin. E assim segue, classificando desde projetos de design de móveis e arquitetura, até a literatura.

Comparada ao pop, toda música eletrônica pode ser considerada minimalista, uma vez que seu formato (em diversos subgêneros) suprime vocais, refrões ou construções. O adjetivo casa perfeitamente com o Kraftwerk, por exemplo.

No entanto, dentro do imenso universo que hoje abrange o mundo da dance music, aquela feita para os DJs e para as pistas de dança, o gênero que Ricardo Villalobos ajudou a criar e propagar é bastante defectível: um rítmo que passeia entre o techno e a house sem as dezenas de camadas sobrepostas que dominavam tais gêneros na virada do milênio. Em seu lugar, foram posicionados ruídos, espaços e microssamples (picotes de microssegundos retirados de um ritmo, vocal ou sintetizador de outra música).

O termo minimal foi usado pela primeira vez 1992, pelo jornalista Simon Reynolds, para descrever a música de Derrick May, lenda vida do techno de Detroit. Mas embora pipocasse em resenhas de discos aqui e ali, foi a partir de 2001, lideradas pelos quatro de Berlim, que as pistas de dança viram nascer um novo movimento, seguido por uma geração que estava se cansando dos excessos sonoros das raves e festas de techno em galpões, as warehouse parties.

A mais básica regra da música é o conceito da “tensão e relaxamento”. Uma batida retesa o corpo, aperta o coração, e o espaço seguinte o relaxa. Inspiração e respiração. E o movimento minimal compreendeu isso como ninguém. Multidões agarraram o novo som como náufragos em uma boia. Villalobos, Hawtin e Luciano se tornaram DJs globetrotters, e o som foi ganhando, entre os DJs, adeptos em todos os cantos — no Brasil, de Vermelho ao Jamanta Crew.

O movimento foi ganhando tanta expressão que até chegou a ganhar um superhit pop, daqueles que são tocados para as dançarinas do Luciano Huck nos intervalos de seu programa de TV. Foi o caso de Heather, do produtor suíço-iraniano Samim. O tão famoso “techno da sanfoninha”.

O sucesso da música não significou, no entanto, que o minimal techno estava na boca (ou melhor, nos pés) do povo. Mas que sua difusão andava tão rápido, que produtores do mainstream já estavam de olho em suas fórmulas e dispostos a reproduzi-las, como sempre acontece no mercado musical.

Ver Ricardo Villalobos contar em long set toda sua trajetória como DJ no próximo 22 de março, no Sonora Garden, em São Paulo, é receber uma aula da história do movimento minimal, de uma forma bastante divertida. Na lista das 15 faixas fundamentais do estilo compiladas pelo site especializado Technostation, duas são do produtor chileno.

A superDJ e empresária Eli Iwasa, a primeira promoter a trazer Villalobos ao Brasil, em 2002, atesta a genialidade do DJ.

“O vi algumas vezes — inclusive, sua primeira apresentação no Brasil foi no Technova, meu projeto no Lov.e Club —, e a mais memorável  foi seu B2B com Richie Hawtin no Sónar Barcelona, em 2003. Foi a minha primeira vez no festival catalão, junto com a minha amiga amada Claudia Assef, e nos últimos 15 minutos de set, caímos no choro de tão poderoso e emocionante que foi estar ali e ouvir algo tão avançado. Foi transformador, e impactou meu jeito e estilo de tocar”, declara Eli.

Sua posição de embaixador do gênero endossa, além de tudo, a resistência que o minimal mostrou em duas décadas à utilização de fórmulas prontas e à subjugação ao comercialismo. Ao menos pelas mãos de Villalobos, a música segue provocativa, profunda e, principalmente, fiel ao conceito estético de um termo que vai muito além do som.

Serviço

Ricardo Villalobos – Extended Set

Data: 22 de março (sexta-feira)
Horário:
A partir das 22h
Local:
Sonora Garden – Complexo Canindé: R. Comendador Nestor Pereira, 33 – Canindé, São Paulo/SP
Ingressos: Via Ingresse.com, com desconto de 5% usando cupom “musicnonstop”

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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