Rolling Stones Brasil Foto: Reprodução

Por que os Rolling Stones são a banda gringa mais brasileira da história do rock

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Dentre todos os ícones da música pop, ninguém tem mais histórias no nosso país do que o grupo de Jagger e Richards

Brasil, país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.  Não foram poucos os grandes nomes da música que se encantaram por aqui. No entanto, este encanto se mostra em diversos níveis.

Os grandes artistas demonstram seu amor (ou vontade de conquistar fãs) pela nossa terra de várias formas. Uns botam uma bandeira nas costas durante shows e fotos. Outros fazem passagem relâmpago, se derretendo em elogio para os fãs, caso da recente vinda de Beyoncé a Salvador, e outros aprendem gírias locais para ler no palco, como aconteceu na última turnê de Paul McCartney.

Por mais que todos tentem, porém, nenhum artista da música pop internacional teve uma relação tão intensa com o Brasil quanto os Rolling Stones. Suas histórias são várias e, muitas delas, icônicas.

Sympathy For The Devil, um dos enormes sucessos da banda, é baiana

Apesar de mais parecer uma visão de gringo turista com as tradições tribais africanas — tanto que, durante seu lendário show gratuito em Londres, os Stones levaram ao palco dançarinos de lá para dançar no palco montado no Hyde Park enquanto tocavam —, Sympathy for the Devil, gigantesco hit da banda lançado no disco Beggars Banquet (de 1968), nasceu em Salvador.

Em janeiro de 1968, Mick Jagger e sua então namorada, Marianne Faithfull, estiveram na capital baiana. Ficaram dez dias por lá, a ponto de se hospedarem em uma cabana de pescadores na praia de Itapuã. Resolveram visitar, também, um terreiro de candomblé, quando Jagger se encantou pelo som dos tambores.

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Mick Jagger com a então namorada Marianne Faithfull, o filho dela, Nicholas, e moradores de Arembepe (BA). Foto: Adger Cowans/Folhapress/Reprodução

De volta à Inglaterra, o músico compôs a canção que seria uma dos maiores sucessos do disco de 1968. A visão de gringo paraquedista sobre o que é a religião de matriz africana transpareceu na canção, intitulada como “Simpatia pelo Diabo”, com uma letra que em que o próprio cramunhão relata seus feitos desde o início dos tempos.

Os Orixás provaram que também tem bom humor, e deixaram passar esse deslize.

Festa junina no interior de São Paulo

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Fazenda Boa Vista, em Matão/SP, foi onde Mick Jagger e Keith Richards se hospedaram em 1969 (Foto: Wilson Aiello/EPTV/Reprodução)

Quem imaginaria que Mick Jagger, Keith Richards e Mariane Faithfull, no auge de suas carreiras, passariam uns dias em Matão, no interior de São Paulo, fazendo festa junina com direito a sanfoneiro local? Pois é, os Rolling Stones fizeram.

Em sua segunda visita ao país, agora para o Reveillón do Rio de Janeiro,  já na virada de 68 para 69, a banda já dividia o posto de maior do mundo com os Beatles. Os excessos de Jagger e Richards, no entanto, renderam um arranca rabo entre eles e os seguranças do Copacabana Palace, hotel em que estavam hospedados, e a história chegou à imprensa carioca.

As duas viagens feitas pelos Stones ao Brasil eram, justamente, para fugir do assédio da imprensa. Preocupados com a reverberação midiática da treta, a turma queria se esconder dos jornalistas. Foi então que o banqueiro Walter Moreira Salles ofereceu ao grupo sua Fazenda Boa Vista, em Matão, interior de São Paulo.

Agora em rolê caipira, Jagger, Richards, Faithfull e Anita Pallemberg (então namorada de Keith) aproveitaram para curtir a bucólica Matão. Passeavam pelas padarias da cidade, curtiam festinhas na beira da piscina e chegaram a promover uma festa junina, convocando um sanfoneiro local para animar a festa.

Como não se preocupavam em ficar confinados na fazenda, logo a notícia de que os Rolling Stones estavam na cidade se espalhou. Fotógrafos profissionais e amadores ficavam trepados em árvores nos arredores da propriedade, prontos para descolar aquele clique exclusivo.

O grupo chegou, inclusive, a viajar até Araraquara para visitar, mais uma vez, um terreiro.

Matão, no entanto, gerou uma inspiração mais “faroeste”. Na fazenda de Salles, eles compuseram Honky Tonky Woman.

Antes de voltar à Inglaterra, o grupo visitou o Pantanal mato-grossense e, convencidos por Jagger, ainda deram uma passadinha em Salvador.

Até Sorocaba caiu nas graças

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Charlie Watts dando autógrafos em uma de suas visitas a Sorocaba. Foto: Reprodução/G1

Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, era um apaixonado por cavalos árabes. Tanto que sua esposa, Shirley, manteve um haras na Inglaterra, onde se dedicava a criar animais da raça. Em uma das turnês pelo país, na década de 90, Watts ficou sabendo que em Sorocaba, interior de São Paulo, residia o mais famoso reprodutor vivo, o cavalo Ali Jamaal. O batera quis conhecer o garanhão, e foi secretamente até o Haras Meia-Lua, a quinze quilômetros da cidade.

Charlie ficou amigo do casal que administrava a fazenda. Sempre que a banda voltava ao Brasil, ele dava um jeito de passar um dia por lá, longe dos jornalistas. “Ele gostava de vir aqui antes dos shows para passar um dia calmo”, contou ao G1 o criador João Acácio Franco, dono do Haras.

Enfim, um filho brasileiro

Mick e o filho Lucas Jagger em um parque em Nova Iorque, em 2014. Foto: AKM-GSI/Reprodução

Para selar de vez a ligação entre os Rolling Stones e o Brasil, Mick Jagger acabou se relacionando com a então modelo Luciana Gimenez, com quem acabou tendo um filho, Lucas Maurice Morad Jagger.

O relacionamento entre Jagger e Gimenez foi breve, no final dos anos 90. Tanto que, quando Lucas nasceu, em 1999, o casal não estava mais junto. O garoto vive hoje em Nova Iorque e tem mais sete irmãos paternos. Lá, foge dos holofotes da vida de “filho de Mick Jagger”.

Em 2024, os Stones virão ao Brasil pela quinta vez, segundo o colunista do Metrópoles, Leo Dias. Baseando-nos na relação que a banda tem com o país, a confirmação oficial tem altas chances de se concretizar — e sabe-se lá que novas histórias e composições não podem acabar surgindo dessa brincadeira.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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