Paul McCartney Milton Nascimento, Paul McCartney e a cópia autografada de “Milton” (1970). Foto: Reprodução/Twitter

Paul McCartney, Bruno Mars e Bruce Springsteen ensinam como multiplicar fãs no Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Estrelas mundiais deixaram o país muito maiores do que quando chegaram, graças à simplicidade e à simpatia

Quem trabalha no show business aprende que trazer grandes estrelas da música pode ser um dos maiores desafios de suas carreiras. Jornalistas do meio também. Afinal, são comuns os chiliques e estrelismos dos superastros.

Glória Maria sofreu na mão de Freddie Mercury, vocalista do Queen, quando este notou que o inglês da jornalista não era tão bom. O próprio cantor negou a entrada de estrelas da música brasileira que gostariam de entrar em seu camarim, no primeiro Rock In Rio, para cumprimentá-lo. Quando o produtor do festival argumentou que eram artistas muito importantes na música brasileira, ouviu como resposta: “Então porque eles sabem quem eu sou e eu não sei quem eles são?”.

E quem não se lembra do festival de patadas que Marília Gabriela tomou de Madonna, em uma das mais difíceis entrevistas de sua carreira?

Para sorte de quem circula no backstage, nem todos são assim. Pelo contrário, alguns artistas, de tão bacanas e humildes que se mostram (seja por vontade própria ou estratégica de comunicação), experimentam um crescimento gigantesco em sua base de fãs, encantados que foram pela simpatia demonstrada com o país e sua população.

Paul McCartney deu aula, durante sua mais recente turnê pelo país. Para começar, pediu para a produção brasileira descolar umas gírias locais para falar durante seus shows. Em São Paulo, mandou um “boa noite, mano” e “o pai tá on”, para delírio da massa paulistana. Em Curitiba, a frase de encantar foi “E aí, piazada?”. Encerrando a turnê, ganhou o coração de 66 mil pessoas com o cumprimento “qual é, cariocas?”.

Paul McCartney

Paul McCartney no Allianz Parque, em São Paulo. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

As manhas de Paul não param por aí. Ele pede para a assessoria de imprensa puxar a capivara do jornalista que o entrevistará. Já no primeiro contato, o Beatle inicia a conversa falando sobre algo pessoal do entrevistador, quebrando o gelo (e as pernas) de qualquer um que pudesse chegar com perguntas maldosas ao grande astro da música.

Quando foi entrevistado por Pedro Bial, entrou no set cantando Pedro, The Fisherman, canção dos anos 50, de Harry Parr-Davies. Quando a vez de encontrar o grande astro foi do jornalista Paulo Terron, à época na revista Rolling Stone, ao atender o telefone, ouviu: “E aí, xará? Meu nome, Paul, é Paulo em português!”.

E o que falar desse encontro recente entre ele e Milton Nascimento, com direito a pedido de autógrafo e tudo?

Milton Nascimento, Paul McCartney e a cópia autografada de “Milton” (1970). Foto: Reprodução/Twitter

Ainda que blindado por assessorias cuidadosas, estar disposto à cultura e às pessoas do país gera, aos artistas, um resultado incalculável. A ida de Mick Jagger à feira de artesanato de Embu das Artes, em 1995, para comer feijoada é lembrada por todos — aos moradores da cidade, para sempre.

Bruno Mars foi outro que deitou e rolou durante sua turnê brasileira, no segundo semestre deste ano. De olho no meme “please, come to Brazil”, o artista se filmou dando rolês por várias ruas do país, brincando com pedestres que não o reconheciam, usando a clássica camisa canarinho da seleção brasileira. Ao deixar o país, editou um vídeo incrível com os versos e assinou como “Bruninho”.

 

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Claro que viralizou. E choveram fãs novos nas redes do cantor.

O país inteiro se derreteu de amores, também, com o ícone da música estadunidense Bruce Springsten, espécie de deus da classe trabalhadora de lá — chamado de “The Boss” (“O Chefe”) até mesmo por Barack Obama. Em português, o cantor mandou uma parte de Sociedade Alternativa, sucesso de Raul Seixas. A jogada faz parte de uma estratégia do cantor. Ele canta uma música local nos países por onde excursiona. Em Londres, por exemplo, toca sempre London Calling, do The Clash, em suas apresentações.

Funciona sempre. E embora muitos possam classificar com uma pensada jogada de marketing, demonstra cuidado e esforço para dizer ao público que não existe só música e ídolo nos Estados Unidos.

Quem dera, todas as estratégias de propaganda fossem assim. Quem não amaria esse chamego?

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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