beyoncé lançamentos sexta Beyoncé. Foto: Divulgação

Por que os lançamentos musicais são sempre às sextas? A culpa é da Beyoncé!

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Diva pop mudou o jogo e influenciou toda a indústria quando lançou o álbum Beyoncé, em 2013

Toda sexta-feira, uma enxurrada de música nova chega às plataformas de streaming. Sempre no mesmo dia da semana. Para quem consome música, a estratégia pode parecer sem sentindo. Por que os artistas preferem competir entre si, se existem seis outros dias disponíveis para chamar a atenção? Culpa da Beyoncé.

Até 2013, o dia “oficial” para lançamentos de discos era terça-feira nos Estados Unidos, e segunda na Inglaterra. Os dois países, grandes mercados da indústria da música, ditavam as regras. As gravadoras escolhiam o começo da semana de olhos nos charts das revistas especializadas. Os rankings dos discos (os Top 10) levavam em conta as vendas da primeira semana, depois do lançamento.

Logo, colocar o produtor nas lojas no comecinho da semana garantia o máximo de tempo possível nas prateleiras, além de pegar o burburinho que sempre rolava nas lojas aos sábados.

Era preciso levar em consideração o fator físico dos álbuns. Ele precisava chegar às terças, ir para o estoque, ser desencaixotado e colocado nas prateleiras, antes de cair na mão dos compradores. Isso levava tempo. Então, a estratégia era se adiantar.

Na segunda-feira, grandes revistas, como a Billboard, pesquisavam sobre as vendas da semana anterior e, no dia seguinte, publicavam seus charts. Importante lembrar que, para um novo artista, entrar em listas de mais vendidos, mesmo nos Top 100, significa uma mudança radical na carreira e um ganho de atenção sem tamanho.

Quando as plataformas de streaming mudaram a forma como ouvimos música, todo este processo de manipulação dos discos nas lojas caiu por terra. Dez anos atrás, Beyoncé percebeu isso e mudou o mundo dos lançamentos.

A cantora decidiu furar a fila e lançar seu álbum homônimo na sexta-feira anterior, 13 de dezembro, de surpresa. Além de ter feito a alegria dos fãs para o final de semana, deu um chapéu no algoritmo das plataformas.

O deus robô que controla o que aparece como sugestão na sua playlist leva em consideração o barulho que uma música faz no dia de seu lançamento. O número de pessoas que ouvem, reouvem, curtem e compartilham. Ao lançar seu disco numa sexta-feira, a cantora aproveitou o “modo fim de semana” da galera.

Além disso, as plataformas renovam suas playlists às segundas-feiras. Então, pegando o fervo do final de semana, o artista estava quente no momento da virada. Aquele momento em que todo mundo está contando os minutos para sair do trabalho e emendar happy hour, pista de dança, after, passeio no parque, mais pista de dança e ressaca. O momento em que encontramos amigos e, reverberadores de novidades, competimos pelo primeiro “geeeeeente, vocês ouviram o novo da Beyoncé?”.

Deu muito certo. Rapidamente, todo mundo correu atrás da trendsetter, e a cada semana os lançamentos iam se concentrando nas sextas-feiras. A ponto das associações de música se unirem para decretar, em 2015, a sexta como o “New Release Day” (“Dia do Lançamento”).

Todo mundo estava de olho nesse tempo livre do público para ouvir música com mais atenção e prazer. A estratégia também teve um leve efeito contra a pirataria. Isso porque, na época, a venda de arquivos em MP3 ainda era muito importante. Ao lançar um disco de surpresa, Beyoncé pegou os piratas de calça curta. Mas isso também perdeu o sentido hoje em dia, já que as plataformas de streaming dominam completamente o mercado.

Enquanto cada um procurava seu lugar ao sol, todos os artistas acabaram se aglomerando no mesmo espaço da calçada. Atualmente, especialistas discutem, sem consenso, se a sexta segue sendo o melhor dia para lançar música nova.

Enquanto não resolvem, espere por uma avalanche de novidades a cada dia como hoje!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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