Terror e horror Kathy Bates em “Louca Obsessão”. Imagem: Reprodução

Terror e horror: parecem a mesma coisa, mas não são!

Amandha Monteiro
Por Amandha Monteiro

Apesar da indústria cinematográfica misturar tudo no mesmo balaio, trata-se de categorias diferentes; entenda!

Você sabe a diferença entre terror e horror?

Eu tenho muita dificuldade com filmes de terror. E foi exatamente por ter confundido terror com horror, que passei anos sem entender que de horror eu gosto, e bastante!

Um excelente exemplo disso é o clássico Louca Obsessão, clássico de 1990 de Rob Reiner adaptado do romance de Stephen King, Angustia, de 1987. Se você olhar a classificação do gênero, ele consta como terror. A indústria faz isso pra facilitar, mas na verdade este é um filme de horror.

Essa é a história de um escritor famoso que está em viajando de carro sozinho numa estrada meio deserta e sofre um grave acidente, em razão da neve, até ser salvo por uma fã de seus livros. “Ufa! Que sorte!” Seria, se ela não fosse uma total e completa psicopata! A mulher querer acabar com a vida dele lentamente. Vai ter uma hora que você vai pensar: “Seria melhor ter morrido no acidente!”.

A obra é incrível! Tem nota 7.8 no IMDB e rendeu a Kathy Bates o Oscar e o Globo de Ouro de melhor atriz naquele ano —
algo que nunca aconteceria em um filme de terror. Afinal, você nunca viu um deles figurar em nenhum grande prêmio, certo?

E como gosto é subjetivo, não vou entrar no mérito do que é melhor ou pior. As intenções, porém, são objetivamente diferentes. A intenção do terror é te causar sustos e medo. Medo do escuro, da assombração, do desconhecido, do fenômeno, do diabo, da menina do poço… Já o horror tem intenção de te horrorizar.

Assistindo a Louca Obsessão, eu não sinto medo de ver uma mulher gordinha, com cara de dona de casa louca, torturando, em plena luz do dia, um homem acamado. Mas isso me horroriza! E o faz porque me coloca frente a elementos humanos inerentes a todos nós, mas praticados apenas por alguns: crueldade, vileza, psicopatia, manipulação, narcisismo e violência.

Portanto, filmes como O Chamado, Invocação do Mal, O Exorcista e O Poço são terror! Já Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock fazem horror. Aliás, o Hitchcock explicava isso bem. Ele dizia que o terror vive dos sustos, e um susto de um segundo, qualquer um consegue produzir. O exercício dele era trocar cinco sustos por 50 minutos de suspensão e tensão. Isso, só um grande diretor consegue fazer!

O terror precisa de escuro pra existir! Horror é aquilo que acontece na casa da vizinha que você cumprimenta todo dia quando vai à padaria, e não faz ideia!

Eu confesso que ainda me custa, mas ver filmes como Louca Obsessão nos faz questionar comportamentos, buscar referências e mergulhar um pouco na psique humana.

Leia mais da coluna de Amandha Monteiro!

Amandha Monteiro

Amandha Monteiro é diretora e roteirista. Membro da Academia Brasileira de Cinema, formada em Comunicação, com pós em cinema e licenciatura em artes cênicas, reúne em seus trabalhos diversos saberes nas vertentes artísticas. Seu vocabulário de conhecimentos artísticos 360 construíram, ao longo dos anos, um olhar sensível e apurado para o cinema e o teatro. Amandha já foi diretora e roteirista de TV, e hoje roteiriza e dirige para algumas das grandes empresas brasileiras, em campanhas institucionais e lives. No teatro, é coautora e protagonista de "Amor e Ódio em Sonata", sobre a vida do escritor russo Leon Tolstoi — primeiro espetáculo brasileiro a ser convidado pelo governo russo para temporada no país. No cinema, foi protagonista do longa "O Perfume da Memória", dirigido por Oswaldo Montenegro, ganhador de vários prêmios em festivais mundo afora. Louca por arte e por tudo o que expanda a alma, Amandha produz diariamente seu conteúdo exclusivo sobre cinema, em que o critério é a qualidade. Uma curadoria única, gêneros diversos, e seu olhar sobre as obras em tom provocativo e bem-humorado.

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