Ferrari Gabriel Leone em Ferrari. Foto: Divulgação/Diamond Filmes

Exclusivo: Gabriel Leone conta como foi atuar em “Ferrari”, sua 1ª experiência em Hollywood

Amandha Monteiro
Por Amandha Monteiro

Em cartaz no Brasil, novo filme do “raro” diretor Michael Mann precisa ser visto no cinema

“Foi um sonho ter feito parte desse projeto. Admiro o Michael Mann já há muito tempo, é um dos grandes diretores vivos. Eu olhava e pensava: ‘os grandes atores, os caras que eu mais admiro, estão sempre filmando com ele. Alguma coisa obviamente ele deve ter, pra além da qualidade dos filmes’.”

Foi assim que o ator brasileiro Gabriel Leone (conhecido por seus papeis em Eduardo e Mônica e Verdades Secretas) começou a contar a esta colunista como foi sua primeira experiência em Hollywood — já de cara, tendo a oportunidade de trabalhar com um dos diretores mais conceituados de sua geração em Ferrari, que está em cartaz nos cinemas brasileiros.

“Eu fiz um teste, um self tape que chegou pra mim. Foram duas cenas que inclusive estão no filme, e dois dias depois, de uma maneira totalmente surpreendente, eu soube que tinha passado. O meu personagem foi o último a ser escalado. Então foi bem aos 45 do segundo tempo. Mas ele me deu muita confiança desde o início: ‘esse personagem foi feito pra você, você foi feito pra esse personagem’.”

Galã de Ferrari, nosso menino prodígio arrasa na pele do piloto Alfonso de Portago — um jovem focado e afoito que vai fazer de tudo pra ganhar a Mil Milhas, corrida de 1.600 km que ia e voltava de Bréscia a Roma.

“O meu personagem é um marquês, então o Michael sugeriu que eu fizesse aulas de dança clássica para pegar a postura. No roteiro, ele descreveu o Alfonso como se lembrasse o Marlon Brando no The Wild One. Então também teve uma pesquisa minha em relação à estética e a energia dos filmes do Brando jovem.”

“O processo não podia ter sido melhor. Fui constatando tudo aquilo que eu já sentia assistindo aos filmes do Michael. Há um nível de perfeccionismo, quase que uma obsessão por materializar o que está na cabeça dele, sabe? Na primeira prova de figurino, a gente ficou horas e horas experimentando cintos, porque ele queria achar a fivela correta”, continuou Gabriel, nitidamente encantando pela experiência.

“O Michael está com 81 anos, e é um artista tão inquieto… É inacreditável vê-lo no set, a energia e a paixão que ele tem por filmar, por cinema, por história, atores, personagens… É muito inspirador. E ele tem uma característica que é a de repetir muitas e muitas vezes os takes, de ir escavando as cenas, ensaiando e experimentando formas diferentes. O processo é completamente vivo. Pra mim, foi um grande aprendizado, e a gente se deu maravilhosamente bem. Posso dizer que ficamos amigos. Um baita de um privilégio!”, concluiu.

Ferrari

Sexy e dramático, Ferrari traz a história do magnata Enzo Ferrari contada por Michael Mann, um “diretor raro”, como dizem por aí, que foge das narrativas emotivas. Sua assinatura está na construção de seus filmes como máquinas rítmicas.

Aqui, ele escapa da biografia tradicional, que vai do berço à cova. Afinal, se a menor parte do todo contém o todo, fiquemos com o melhor recorte! E, como Gabriel me contou, esse era um projeto de vida do diretor, que tentou financiá-lo durante quase 20 anos — “nosso roteirista morreu em 2009!”.

Ferrari começa com Enzo já adulto, pai de família, logo a após a perda do seu filho primogênito Dino. Profissionalmente, sua fabricante de automóveis passa por dificuldades financeiras, e a competitividade das corridas está mais acirrada que nunca. Em casa, ele lida com uma mulher em luto, que também é sua sócia em um casamento falido. E na cidade vizinha, lida com a jovem amante, que apesar de doce, exige que o filho deles seja reconhecido como um Ferrari. Xeque-mate por todos os lados!

Haveria muito pano pra manga e o filme poderia ser um drama clássico, mas esse não é o core de Mann — e eu ouso dizer que, provavelmente por fugir do drama exposto, ele ficou fora do Oscar! Mas convenhamos, encher de lágrimas a história de um homem que curou suas dores e resolveu seus problemas beijando na boca da velocidade e da morte, seria prostitui-la intelectualmente. O drama está posto: é ele quem dirige o carro vermelho! Mas se você só tiver olhos pro carro…

O roteiro é preciso, limpo, honroso. O elenco é divino. Bota reparo nas construções de personagem de Adam Driver, como Enzo Ferrari, e Penelope Cruz, como Laura Ferrari.

Ele, que se esquiva da dor, está sempre se esquivando da câmera, de lado. Já Penelope, que constrói a personagem mais minimalista e profunda da sua carreira, está disposta a lidar com a dor. Por isso, aparece o tempo todo de frente pra câmera, como se quisesse compartilhá-la com você. Um monstro em cena!

O casal protagonista desenhou duas personagens cheias de peso dignas das clássicas histórias italianas.

Este é o tipo de filme que você só verá em sua totalidade se assistir no cinema, então fica o conselho. A trilha é excelente, e o som, um acontecimento!

Leia mais da coluna de Amandha Monteiro!

Amandha Monteiro

Amandha Monteiro é diretora e roteirista. Membro da Academia Brasileira de Cinema, formada em Comunicação, com pós em cinema e licenciatura em artes cênicas, reúne em seus trabalhos diversos saberes nas vertentes artísticas. Seu vocabulário de conhecimentos artísticos 360 construíram, ao longo dos anos, um olhar sensível e apurado para o cinema e o teatro. Amandha já foi diretora e roteirista de TV, e hoje roteiriza e dirige para algumas das grandes empresas brasileiras, em campanhas institucionais e lives. No teatro, é coautora e protagonista de "Amor e Ódio em Sonata", sobre a vida do escritor russo Leon Tolstoi — primeiro espetáculo brasileiro a ser convidado pelo governo russo para temporada no país. No cinema, foi protagonista do longa "O Perfume da Memória", dirigido por Oswaldo Montenegro, ganhador de vários prêmios em festivais mundo afora. Louca por arte e por tudo o que expanda a alma, Amandha produz diariamente seu conteúdo exclusivo sobre cinema, em que o critério é a qualidade. Uma curadoria única, gêneros diversos, e seu olhar sobre as obras em tom provocativo e bem-humorado.

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