Prince Foto: Reprodução

Há 45 anos, Prince subia ao palco pela 1ª vez — e logo, começava polarização com Michael Jackson

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Ícone da soul music falecido em 2016 é famoso por suas incríveis performances ao vivo e rivalidade com o Rei do Pop

Quando subiu ao palco pela primeira vez em show solo, no dia 5 de janeiro de 1979, Prince Rogers Nelson era ansiedade pura. O artista tinha plena consciência da sua grandeza técnica, estava no começo do que seria uma carreira repleta de grandes feitos, mas, naquele tempo, ainda tinha de provar seu valor para muita gente, principalmente os executivos da gravadora Warner.

Multi-instrumentista, Prince subiu ao palco do Capri Theater, em Mineápolis, nos Estados Unidos, para alguns sortudos que o viram dar o pontapé inicial em uma vida artística que, dentre outros troféus, tentou mostrar ao mundo (e, principalmente, à Warner) a potência de suas apresentações ao vivo.

O ponto crucial nesta jornada é que Prince já nasceu grande. Filho de músicos, conviveu com instrumentos em sua casa desde criança. Se desenvolveu a ponto de descolar, com os pais, conhecimento tão grande sobre o mundo da música, que seu primeiro disco já seria lançado por uma grande gravadora, em 1978.

Prince já sabia o que queria, e o quanto podia desde cedo. Um ano antes, em 1977, foi convidado para um almoço, acompanhado de seu empresário, pelos executivos da Warner. Rango batido, o encontro acabou sem uma decisão definitiva. O artista voltou para casa, compôs e gravou uma música. Dias mais tarde, foi até o escritório da Warner, botou a fita para tocar e avisou ao pessoal que a canção havia sido composta para eles. O nome da música era I Hope We Work It Out. Espero que a gente dê certo, em português.

Assinaram (depois de um presentão desses) um contrato de três discos. Prince, então, começou a gravar seu álbum de estreia, For You, lançado em abril de 1978 — escrito, arranjado, produzido e com todos os seus instrumentos tocados por ele. O disco é pura ambição. Sua primeira canção, For You, é um obra-prima vocal, um coral de Prince interpretando uma harmonização de cair o queixo. Era o cara mostrando para a gravadora que não se arrependeriam da contratação.

Apesar da primazia, a turma da Warner, talvez até por medo em dar ao mundo a mínima chance de criticar o garoto, segurou os shows de lançamento. Acharam que ele precisava “se desenvolver mais um pouquinho” antes de subir no palco. Hoje, conhecendo a autoconfiança que Prince teve ao longo de sua carreira, dá para imaginar um artista arrancando os engomados cabelos, contando os dias para fazer sua performance. Afinal, desde os 15 anos de idade, já era prodígio.

Na vontade de mostrar à gravadora do que era capaz, Prince conseguiu, através marido de sua prima, duas datas no Capri Theater. Com capacidade de mais de 800 lugares, ele vendeu meros 300 ingressos para sua primeira apresentação, incluindo amigos e família. O evento foi típico de artista iniciante querendo ser grande: arrebentando no figurino exagerado e deixando a desejar na performance. Prince estava nervoso.

“Demorou um tempão até eu conseguir bloquear, na minha mente, o fato de que havia gente na plateia assistindo. Vi que era muito difícil tocar para um público. Justo eu, que tenho dificuldade até mesmo para lidar com outros músicos, em um ensaio”, disse Prince, mais tarde, ao jornal Minneapolis Star.

Prince

Primeiro show de Prince foi no Capri Theater, em 5 de janeiro de 1979. Foto: Sherry Rayn/Getty Images

O show, ainda visto como um teste pela Warner, não a convenceu completamente. A sua relutância tinha explicação. Apenas três meses após For You chegar às lojas, Michael Jackson lançava Off The Wall, pela concorrente Epic Records. Além de recheado de sucessos, Michael já era escolado nos palcos, onde atuava desde criança com a banda The Jackson 5.

Nascia ali uma rivalidade mortal entre os dois, tanto na disputa profissional, quanto na vida pessoal. Ambos bebiam da mesma fonte, cantavam em falsete e, o mais importante, eram puro talento.

Tanto que a primeira tour de Prince, com uma sequência de shows e aparições em programas de TV, aconteceu somente depois do lançamento de seu autointitulado segundo disco, em outubro de 1979 (ano em que Michael Jackson não havia lançado nada, começando a trabalhar em sua próxima bomba, Thriller, ao lado do produtor Quincy Jones).

Apenas entre novembro e dezembro de 79, o artista fez sete shows pelos Estados Unidos, e realizou sua primeira aparição em um programa de TV em 12 de janeiro de 1980, no Midnight Special. Em seu segundo show na TV — American Bandstand —, a estrela em ascenção já mostrou seu lado marrento, respondendo com incrível falta de paciência às perguntas do apresentador mala.

A partir dali, os dois reis do pop seguiram firmes na missão de serem melhores do que o outro. A resposta de Prince para Thriller (1982) foi Purple Rain, em 1984. Qualquer aproximação entre os dois tornar-se-ia impossível desde então. E as poucas tentativas que existiram foram bloqueadas por parte do primeiro.

Quincy Jones resolveu chamar Prince para produzir Bad, de Michael Jackson. Quando os representantes da gravadora levaram a música para apresentar ao convidado, ele pegou o papel com a letra, leu apenas o primeiro verso (“your butt is mine” — “sua bunda é minha”) e devolveu, sem nem ouvir a demo.

Mais tarde, Michael foi convidado para assistir e subir ao palco de uma apresentação de Prince em Las Vegas. Durante o “feat”, Prince tocou de forma desleixada, encarando e provocando Michael, que saiu do palco puto da vida. Foi o fim definitivo de uma relação que só existia mesmo no antagonismo.

Prince perdeu rapidamente seu medo do palco. Existem listas elencando as apresentações mais fantásticas do artista. Uma das grandes pérolas da biblioteca musical presente na internet é uma captação de uma das primeiras vezes em que tocou Purple Rain, em 1983, com incríveis 12 minutos de duração, esbanjando talento nos vocais e na guitarra.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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