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Só por juntar funk e Gorillaz, MC Bin Laden já merece prêmio no BBB

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Preconceito com o gênero fez com que brasileiros não percebessem o sucesso internacional de MC Bin Laden. Será que isso vai mudar?

O polêmico nome artístico do MC Bin Laden, homônimo do terrorista responsável pelo ataque às torres gêmeas de Nova Iorque já cruzou a timeline de muitos brasileiros. “MC”, por si, já transmite a muita gente a sensação de que o ideal é “passar reto”, principalmente para quem não se interessa pelo gênero musical chamado de funk carioca, mesmo quando é feito em São Paulo, terra de Jefferson Cristian dos Santos de Lima, ou qualquer outro lugar do Brasil.

MC é a abreviação para master of ceremonies. Ou, Mestre de Cerimônias, em óbvia tradução. O “cargo” dado, no início da história do hip-hop, ao cara que pegava o microfone e improvisava rimas em cima das batidas. Jefferson adotou a controversa alcunha depois do sucesso que a música Bin Laden Não Morreu lhe trouxe, em 2014, pouco antes de estourar pra valer com hits como Bololo Haha e Tá Tranquilo, Tá Favorável. A escolha já lhe rendeu um tremendo perrengue na imigração americana. Em entrevista, contemporizou: “se um dia existiu um Bin Laden ruim, agora é a vez do Bin Laden bom”.

O que passou desapercebido de todos, no entanto, é de como o maluco é articulado, a ponto de ter uma música incluída na “Meca dos feats“, um disco do Gorillaz. Só para colocar os devidos pratos na mesa: o referido álbum, Cracker Island, teve feats de nomes como Beck, Robert Smith (The Cure), Tame Impala, Thundercat e Bad Bunny. Tá bom pra você?

Albarn conheceu Bin Laden durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, e os dois gravaram duas músicas (Controllah e outra ainda não lançada). Mas a colaboração em um disco dourado como Cracker Island não veio por mera sorte grande. Jefferson está acostumado a circular no meio alternativo, e eis a receita de seu bolo. Participou de um dos palcos mais hypados do festival Hack Town, dedicado à música e tecnologia, na edição 2023. Muito antes dos Gorillaz, já tinha, em seu círculo de fãs, os produtores de renome mundial Skrillex e Diplo, de quem ficou amigo.

Bin Laden é contratado pelo selo True Panther Sounds, de Nova Iorque. Na metrópole americana, teria se apresentado no museu de arte modena da cidade, o MoMA, no festival Warm Up Sounds, se não tivesse sido barrado no consulado americano, em 2016. É muita credencial para um artista que, podemos dizer, é um dos maiores propagadores do funk carioca no mundo. E que mesmo assim, não tem o reconhecimento que merece — tanto que não foi reconhecido por alguns “brothers” no primeiro dia de confinamento.

BBB?

A impressão que fica é de que alguns artistas aceitam participar do reality show da Rede Globo, Big Brother Brasil, muito mais pela curiosidade em saber como é uma casa cheia de gente estranha por dentro, do que pela vontade efetiva de entrar em uma corrida por um prêmio em dinheiro, ao final de três meses de confinamento.

Ou mesmo a de usar o programa para conquistar mais fãs.

Até porque, a participação quase executou a carreira de Karol Conká (2021), expondo sua fragilidades psicológicas e metendo-a no banco dos réus do tribunal da internet. Para Linn da Quebrada, sua sucessora, não mudou muita coisa. Ganha-se fãs dos discursos lacradores, mas pouquíssima gente se preocupa em ir nas plataformas escutar sua música.

Já com MC Bin Laden, talvez o deboche com a própria piscina hype, onde nada de braçada, possa explicar sua participação no programa. Algo como “não estou nem aí pra vocês, moderninhos de plantão!”.

Afinal, são três meses de pausa em uma carreira que certamente a pleno vapor.

Mas seu prêmio no mundo do funk carioca já está entregue. Vale mais de três milhões, para ele e para todos os os artistas que buscam seu lugar no mundo, fazendo música de um gênero musical assolado pelo preconceito.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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