Escola de funk Dz7 já é casa noturna, e agora que abrir escola profissionalizante. Foto: Divulgação

São Paulo pode ganhar escola de funk

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Saiba mais sobre o projeto da DZ7, que foi aprovado via Lei Rouanet

Quando se trata dos movimentos culturais periféricos, parece que a gente nunca aprende. De um lado, repressão policial pesada, generalizando todo mundo que está na rua como bandido, julgado e condenado. De outro, iniciativas públicas de reconhecimento e financiamento de projetos para profissionalizar quem já está trabalhando e ganhando seu dinheirinho com a música. No meio, entre o cassetete e a sala de aula, os jovens.

Em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, um núcleo que começou suas atividades como equipe de baile, a DZ7, está tentando mudar a realidade do movimento funk. O projeto já se transformou em uma casa noturna, mas eles querem mais: transformar a iniciativa em um instituto, com atividades formativas e profissionalizantes dentro do universo do funk, um mercado cultural que já movimenta uma grana tanto para artistas quanto para quem vive de seus bailes. Isso envolve desde os bares e casas noturnas até o vendedor ambulante.

Os criadores da DZ7 deram o primeiro passo para realizar este sonho. Aprovaram seu projeto, com valor de captação de 2,5 milhões de reais, via Lei Rouanet. Isso significa que agora podem bater na porta de empresas privadas atrás deste valor. Os eventuais patrocinadores investem no projeto e tem como contrapartida descontar o valor em impostos a pagar, no final do ano fiscal.

Conseguir convencer empresas a associarem suas marcas às culturas periféricas não é fácil, mas também não é impossível. Diversas companhias de grande porte destinam parte de sua verba de patrocínio cultural para ações que causam modificações sociais. Todo mundo ganha. A comunidade fica com mais opções de emprego no local onde moram, profissionais técnicos ganham conhecimento para poder expandir sua área de atuação e os artistas aprendem a gerenciar melhor o complicado mundo dos direitos autorais.

Estudos do Ministério da Cultura revelam que, para cada 1 real concedido em isenção de impostos via Lei Rouanet, o retorno em faturamento de impostos futuros gerados pela atividade patrocinada é de 1,59 reais em média. Ou seja, até mesmo a Receita Federal ganha com ações como a que a RZ7 pretende realizar.

São Paulo já é a segunda maior cidade brasileira no cenário do funk, atrás apenas da cidade natal do gênero, o Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia do quanto é preciso olhar para a profissionalização deste mercado, somente na capital carioca, o gênero musical movimentou 1,4 bilhões de reais, considerando pagamento de direitos autorais e receitas de bailes.

Se o pessoal de Paraisópolis conseguir vender a ideia para os patrocinadores, em breve a capital paulista terá uma escola capaz de atender 1.200 novos profissionais por ano. Outra vantagem? Vai sobrar mais tempo para a polícia se dedicar aos reais problemas da cidade.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.