Diplo Foto: Reprodução

DJ da Madonna, embaixador do funk e hóspede de Regina Casé: os laços de Diplo com o Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Saiba mais sobre a estrela que irá abrir o show da Rainha do Pop no Rio de Janeiro

Depois de confirmada a apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, dia 04 de maio, uma operação logística gigantesca foi disparada envolvendo produção, artista e a prefeitura da cidade. O negócio é pitoresco. Um avião cargueiro trouxe os equipamentos de som da exigente cantora, o horário do metrô foi alterado para funcionar até as 04h na madrugada do show, megaoperações de trânsito e segurança foram planejadas para abrir o público esperado de 1,5 milhão de pessoas e até mesmo a Marinha foi envolvida, fechando a Baía de Guanabara para que somente embarcações cadastradas e vistoriadas naveguem na área.

Lembra desse hit de 2017? É apenas uma das colaborações de Diplo com Anitta e Pabllo Vittar

Uma das etapas desta gigantesca produção, no entanto, foi facílima de resolver: a escolha do DJ que faria a abertura do show. Para esta missão, um artista traz em sua biografia todos os requisitos para animar o povo enquanto Madonna não sobe ao palco: o DJ e produtor estadunidense Thomas Wesley Pentz, mais conhecido como Diplo.

A maioria das pessoas o conhece de nome, mas os que não são inseridos na história da música eletrônica não sabem tanto sobre ele. Não há melhor cavaleiro para esta cruzada. Diplo, além de amigo pessoal e parceiro musical de Madonna, é um dos maiores divulgadores do funk carioca pelo mundo. É o gringo mais funkeiro que existe, e tem uma longa relação com o Rio de Janeiro e o Brasil.

O cara, que começou tocando nos EUA e produzindo em projetos como Major Lazer e a cantora M.I.A. (de quem foi namorado, no começo dos anos 00), foi chamando atenção do mundo pop, a ponto de ser convidado para fazer música com nomes como Justin Bieber, Busta Rhymes, Björk e… bingo, Madonna!

Além do Major Lazer, Diplo participa de vários projetos musicais, como o Silk City, com Mark Ronson, e teve a oportunidade de gravar com estrelas como Dua Lipa

“Eu não achei que ela iria me levar a sério. Pensei que seria apenas mais um produtor trabalhando em um de seus álbuns” — contou Diplo sobre suas expectativas antes de conhecer Madonna e trabalhar em Rebel Heart, de 2014, à Complex. “Eu não esperava fazer uma grande amiga para a vida toda, e não esperava contribuir tanto para o seu disco.”

O lance é que, além da Rainha do Pop, o astro tem outro “grande amigo para a vida”, o funk carioca. O artista sempre esteve envolvido com a música do gueto, chamada lá de guetto house, e a bass music. Apareceu misturando Miami bass — gênero musical cujo ritmo foi usado nas primeiras produções de funk carioca — com a barulheira saturada e pesadona da música eletrônica em alta na virada do milênio, o maximal, ao lado de conterrâneos como Skrillex e Steve Aoki. Através de seu relacionamento com M.I.A., caiu de cabeça na música periférica latina, africana e até indiana, país onde mochilou por uns tempos.

Quando veio ao Rio de Janeiro pela primeira vez, em 2004, e conheceu o funk carioca, caiu de quatro. Era isso! Um som feito com poucos recursos, de uma das mais inebriantes quebradas do planeta, derivado do Miami bass que tanto amava. Ainda em 2004, produziu para a então namorada um funk que virou hit no cenário mundial: Bucky Done Gun.

Muito mais do que incorporar elementos do estilo em suas produções (o que efetivamente fez), Diplo se tornou um arauto do batidão. Voltou para cá inúmeras vezes, chegando até a alugar a casa que Regina Casé mantém em Salvador, na Bahia. Mergulhou de cabeça na noite carioca, subiu os morros, fez amigos produtores de funk e ajudou a produzir um documentário sobre esta cultura, Favela On Blast.

“Ah, um gringo valorizando música brasileira e dando um tapa na nossa cara, que batido. Já aconteceu com a bossa nova, o rock psicodélico e os chamados ‘brazilian grooves’, amados por caras como David Byrne. Isso tudo faz parte do nosso complexo de vira-latas.” Não é bem assim.

Nós enxergamos um movimento cultural no formato de um filme. Um elemento externo, que chega e dá de cara com tudo acontecendo, vê uma fotografia. Nós conhecemos os problemas sociais e a violência, e com isso, vêm junto o preconceito e a resistência. Já alguém que não traz consigo o contexto, enxerga coisas que nós, mesmo os de dentro, não somos capazes de ver. Muitas vezes, este elemento oculto à nossa percepção é justamente o seu valor. E isso não é um comportamento “de brasileiro”. Acontece em qualquer cenário musical do planeta.

É por isso que em Favela On Blast, Diplo e sua turma nos mostram cenas de festas cariocas em favelas que são muito parecidas com o que vimos em documentários sobre o funk original, o começo do hip-hop, da disco music, do reggaeton e da cumbia. A cultura da quebrada é a mesma em qualquer lugar do planeta: música feita para arrebentar as muralhas da marginalização e da repressão. Foi o que o americano viu e resolveu mostrar o resto do mundo. Foi o que o resto do mundo também viu, e é por isso que, hoje, o funk carioca anda conquistando grandes palcos nos Estados Unidos e na Europa.

Se Anitta e Ludmilla (nomes, por sinal, com quem Diplo já colaborou) estão se apresentando em grandes festivais e excursionando com pompa e glamour pelas cidades mais hypadas do planeta, devem muito ao que o “DJ da Madonna” fez pelo Rio e pela música de seus morros!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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