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De ABBA a Britney. Entenda como a Suécia se tornou a maior produtora de hits do pop mundial

Britney Spears

Britney Spears durante sessão de fotos do álbum Glory. Crédito Randee St. Nicholas/Divulgação/RCA

A Suécia, país escandinavo que faz fronteira com a Noruega e a Finlândia, já não é mais reconhecida unicamente por suas belas florestas boreais e montanhas de gelo. Desde os final dos anos 1990, o país, cuja população é inferior à da cidade de São Paulo, com pouco mais de 10 milhões de habitantes, controla o PIB do pop mundial.

Talvez você não saiba, mas dá pra dizer que boa parte dos hits que você canta e ouve no Tik Tok foram escritos ou produzidos por compositores da Suécia. Apesar do barulho enorme que as canções escritas por suecos fazem, esse é um segredo relativamente bem guardado, graças a uma tradição local, chamada “Jantelagen”, traduzida literalmente como “lei de Jante”. Basicamente, ela diz que “você não é melhor do que ninguém”. Ou seja, os suecos fazem sucesso, sim, e muito, mas dificilmente irão se gabar disso.

 

 

A história por trás do sucesso dos produtores, DJs e músicos suecos foi recentemente contada de forma brilhante no terceiro episódio da série This Is Pop, produção da Netflix. O jeito divertido de contar a história faz você adentrar o universo dessa nação que ama estar em família, fazer pausas para a fika (que é como eles chamam um lanchinho com café ou chá) e se aventurar na natureza.

This is Pop Stockholm Syndrome from abbaregistro allvideos on Vimeo.

E, diga-se, uma nação que ama, acima de tudo, se reunir para assistir na TV o Melodifestivalen, uma competição nacional que elege o representante sueco para o Eurovision – o grande festival da música europeu, que teve o grupo ABBA como grande vencedor em 1974, com a música Waterloo – primeira vez que uma música em inglês foi defendida numa final.

Então, se você quer entender de uma vez por todas por que artistas como Britney Spears, Taylor Swift, Katy Perry, Pink, Usher, Backstreet Boys, ‘N Sync, Nicki Minaj, Lady Gaga, Pitbull, One Direction, Adele e tantos outros big names importaram seus produtores, compositores e DJs da Suécia, clique nessa playlist de hits “by Sweeds” e leia o nosso top 10 motivos para o sucesso do povo sueco na música pop.

1. Escolas Municipais de Música

Vale a pena investigar mais de perto como as crianças suecas são criadas – especialmente no reino da música. Talvez uma das pedras fundamentais para o sucesso dos suecos nos hits pop sejam as escolas municipais de música e artes, que, embora não sejam obrigatórias, foram muito populares na Suécia durante as décadas de 1970 e 1980 – e ainda são. O sucesso de artistas como o grupo ABBA deu a jovens músicos suecos a esperança de que, embora a Suécia seja um país pequeno, ainda assim poderiam causar um grande impacto na cena musical internacional.

O acesso a instrumentos e aulas é oferecido por escolas de música administradas por vários municípios, então muitas crianças experimentam diferentes tipos de instrumentos antes de finalmente descobrir em quais são naturalmente boas.

Há também a Rytmus, uma escola secundária com foco principal em música. Tove Lo, Molly Sandén e Icona Pop são grandes nomes que frequentaram esta escola.

A dupla sueca Icona Pop, que explodiu em 2012 com I Love It

2. Cantar em corais

Para quem gosta de cantar, a Suécia é o lugar! Segundo cálculos da União Sueca de Corais, mais de 600.000 suecos cantam nas centenas de corais disponíveis – isso representa mais de 6% por cento da população, uma das maiores porcentangens do mundo. Esse hábito vem da tradição de cantar músicas folclóricas em família, mas com certeza só aumentou ao longo das décadas graças ao sucesso de grupos como ABBA, Ace of Bass, Roxette, entre muitos outros orgulhos locais.

Tem como não querer cantar músicas como Listen to Your Heart, do Roxette?

3. Editais e premiações

Desde 1997, todos os anos, o governo sueco distribui o prêmio Music Export em reconhecimento ao sucesso internacional de seus cidadãos. Já foram homenageados por esse prêmio artistas como ABBA, Ghost, Max Martin, Robyn, Roxette, Swedish House Mafia e Tove Lo.

Além de premiar, a Suecia também fomenta seus artistas desde os primeiros anos de carreira. Todos os anos, são distribuídos 2.5 bilhões de coroas suecas (cerca de 1.5 bilhão de reais) em forma de editais e bolsas para incentivar estudos e aprimoramento dos talentos locais. Como apoio ao mercado, a Export Music Sweden ajuda a promover a exportação de música sueca. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que apóia compositores, músicos, artistas musicais e empresas da indústria musical a se tornarem globais.

O duo Swedish House Mafia se tornou o primeiro artista sueco a se apresentar no Madison Square Garden, em Nova York, em dezembro de 2011

Avicii foi o primeiro artista de dance music a tocar no Radio City Music Hall, em Nova York, em 2012.

4. Denniz Pop, Max Martin, Shellback e outros gênios

Tudo começou com um DJ com ótimo feeling para a música pop. Produtor e DJ, Denniz Pop – o cérebro por trás de hits como Everybody (Backstreet’s Back), dos Backstreet Boys – fundou o Cheiron Studios, celeiro de produção de alguns dos primeiros hits de artistas suecos que explodiram mundo afora, como Ace of Base e Roxette. Vale dizer que o estúdio Cheiron era apertado e sem nenhum conforto e foi lá que Britney Spears e Backstreet Boys criaram junto com a equipe de Denniz Pop suas primeiras grandes composições. O estúdio encerrou as atividades em 1998, após morte prematura de Denniz Pop, mas seus pupilos, especialmente o genial Max Martin, autor de mais de 100 hits pop, elevaram o nome da Suécia dentro do reinado da música mundial.

Denniz Pop, os Backstreet Boys e Max Martin no Cheiron Studios na Suécia em 1996

Ex-aprendiz da Cheiron, o compositor e produtor Max Martin escreveu músicas para Britney Spears, Taylor Swift, Katy Perry, Pink, Usher, Backstreet Boys, Justin Timberlake, ‘N Sync, entre muitos outros. O produtor Shellback entrou para a história ao criar top ones para artistas como Maroon 5. E RedOne se tornou o preferido de Nicki Minaj, Lady Gaga, Pitbull e One Direction.

A Suécia também ostenta diretores de videoclipes como Johan Renck, que dirigiu para estrelas como Kylie Minogue e David Bowie, além do diretor Jonas Åkerlund, que brilhou com vídeos ousados para Madonna, Lady Gaga, Metallica e muito mais.

Max Martin e Denniz Pop numa entrevista nos anos 1990

TOP 5 VENDEDORES DE DISCOS DA SUÉCIA 
(somatória de álbuns e singles)

ABBA – mais de 500 milhões
Roxette – mais de 75 milhões
Ace of Base – mais de 50 milhões
Zara Larsson – mais de 35 milhões
Avicii – mais de 30 milhões

5. Independência acima de tudo

Muitos artistas suecos assumem o controle total de seu processo criativo – desde a composição até a criação de seus próprios selos. Um bom exemplo é a sensação pop Robyn. Ela criou a Konichiwa Records em 2005 para cuidar de todos os aspectos de sua carreira, como gerenciamento de mídia, contratos de gravação e seu processo criativo.

Outros exemplos de gravadoras independentes incluem: Today Is Vintage Records, fundada pelo rapper sueco Rebstar; Rabid Records, dirigida pela dupla de electropop The Knife; e Ingrid, que é um selo coletivo fundado por 13 artistas e músicos, incluindo Lykke Li e Peter Bjorn & John.

Robyn e um de seus hits, Dancing on My Own

Peter Born & John e a chiclete Young Folks

O hit levanta festa I Follow Rivers, de Lykke Li

6. Spotify, Soundcloud… tecnologia sueca para a música!

Novas maneiras de distribuir música… hum… isso também faz parte do DNA dos suecos. O Spotify, por exemplo, é o equivalente digital moderno das recomendações de música “boca a boca”. Criado em 2006 por Daniel Ek e Martin Lorentzon, o Spotify é atualmente a maior plataforma puramente musical do mundo, com mais de 140 milhões de usuários ativos por mês. Fundada em 2009, a Epidemic Sound oferece uma biblioteca de áudio com milhares de faixas livres de royalties. Os assinantes podem usar a música para adicionar uma trilha sonora a um vídeo ou outro conteúdo, por exemplo. Outro caso de sucesso é a plataforma Soundcloud, criada em 2008. A ferramenta inovou ao permitir aos artistas fazer upload de suas próprias músicas e disponibilizá-las aos fãs.

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7. A febre Eurovision e Melodifestivalen

O Melodifestivalen é o programa de TV mais assistido na Suécia, com cerca de 4 milhões de espectadores e quase 10 milhões de votos na final (o que equivale a quase a população toda do país). É o vencedor do Melodifestivalen que representa a Suécia no Eurovision Song Contest anual – o evento não esportivo mais assistido do mundo. A Suécia tem seis vitórias no Eurovision, sendo o segundo país mais vencedor depois da Irlanda, que já venceu sete vezes.

ABBA na final do Eurovision em 1974

9. Inglês como segunda língua

A população sueca fala fluentemente o inglês, porém, como toda segunda língua, o inglês dos suecos tem suas particularidades e liberdades poéticas. Talvez até por isso, seus compositores sintam-se tão livres em viajar na maioneses, em letras às vezes bem non-sense, como “baby, hit me one more time” e “I want it that way”, que não fazem lá tanto sentido para quem fala inglês como língua nativa.

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9. Frio, Jantelagen e moderação

Dizem os estudiosos da música sueca que, apesar da aparente alegria das canções escritas por suecos, sempre há um quê de melancolia embutido nelas. Não esqueçamos que o país passa boa parte do ano enfrentando temperaturas baixíssimas e pouco sol. Além disso, fatores como o jantelagen, sobre o qual falamos no início do texto, e de outra conduta que se aprende desde pequeno, que é a moderação, fazem do povo sueco a nação perfeita para conseguir lidar com a barra que é fazer tanto sucesso.

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10. O efeito ABBA

Vamos falar a verdade, quem não gosta de ABBA bom sujeito não é. Na rasteira do sucesso do quarteto, que reinou nos anos 1970 e início dos anos 1980, tornando-se o segundo grupo de maior sucesso da história, atrás dos Beatles, vieram Roxette, Neneh Cherry e Europe, que explodiram nos anos 1980 e início dos 1990.

A década de 1990 trouxe a dance music de Ace of Base e o irmão de Neneh, Eagle Eye Cherry, ao lado de bandas como The Cardigans, que mais tarde passaria a batuta no início dos anos 2000 para nomes como os roqueiros independentes The Hives, Peter Bjorn & John e Jens Lekman. Depois, Zara Larsson entrou na lista dos mais vendidos de todos os tempos e “Dancing on My Own”, de Robyn, foi eleita a melhor música dos anos 2010 pela revista Rolling Stone.

E, sim, a compilação de maiores sucessos do ABBA, “Gold”, se tornou o primeiro disco a passar 1.000 semanas na parada de álbuns do Reino Unido.

Bônus track para quem ficou até aqui:

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