Mulheres na Música Foto: Reprodução

10 artistas trans revolucionários que você precisa conhecer

Jota Wagner
Por Jota Wagner

A comunidade transgênero tem revolucionado a arte mundial. E não é de hoje

Na data em que celebramos o Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), somos alertados a pousar nossa atenção sobre a luta pela equidade desta comunidade nas esferas sociais, profissionais e, também, artísticas. Falando somente sobre a cadeia cultural, existe um gigantesco déficit de representatividade de pessoas trans em um meio que se gaba em ser norteado pela subversão dos costumes e convenções sociais.

Mas se é assim, então por que há tão poucos artistas trans em atividade?

Talento, esfuziante alegria e dor intensa são componentes que dão propulsão à criação artística. Se além de tudo isso, uma impactante experiência de vida for agregada ao caldo, temos o elemento necessário para que surja arte de alto nível, capaz de transformar não só o artista, como todos os que estão a sua volta, e ainda os que tiverem acesso a ela.

Claro que, para criar bem é preciso se dedicar muito. E para se dedicar muito, é preciso algum sossego na vida, e dinheiro para, pelo menos pagar as contas do mês. O que é sempre mais difícil para que tem de dividir as tarefas comuns a qualquer um com a luta contra preconceitos, repressão e portas fechadas.

Existem, sim, obras revolucionárias criadas por artístas trangêneros em todo o planeta. E em dias como o 29 de janeiro, é importante fazer um panorama de alguns artistas indispensáveis para você conhecer.

Wendy Carlos

Mulheres na Música

Foto: Reprodução

Primeira artista trans da história da música, Wendy Carlos foi responsável pelas trilhas de Laranja Mecânica, Tron e O Iluminado. Caso ainda ache pouco, foi uma das responsáveis, ao lado de Robert Moog, pelo desenvolvimento do sintetizador mais querido do mundo, o Moog.

Wendy foi revolucionária ao mergulhar sobre as sonoridades sintéticas e, principalmente, a gravar discos mostrando ao mundo a grande novidade. É dela o best seller Switched On Back, de 1968, que deixou todo mundo de queixo caído.

Coincidência ou não, assinou como Trans-Electronic Music Productions.

Cassils

Cassils usa as artes plásticas para lutar contra a violência contra transgêneros, e para isso usa seu próprio corpo em performances artísticas que a fundem a outros elementos da cena, como verdadeiras esculturas vivas.

Esculpir, aliás, é apenas uma das linguagens com que flerta. Cassils também fotografa, filma, pinta e atua, valendo-se de todas as possibilidades para provocar e modificar o público.

Jayne County

Criadora e vocalista da banda de proto-punk Wayne County & The Electric Chairs, Jayne nasceu em 1947 e acumula 6 décadas de carreira artística, cada dia mais ácida, conhecida por performances dedicadas a botar no chão convenções sociais caretas e provocando mutações em quem atravessa seu caminho.

Amos Mac

Artistas trans

Foto: M Sharkey/Reprodução

O fotógrafo americano Amos Mac registra pessoas transgêneras em seu trabalho, captando personalidade, estilo de vida e sonhos em quadros coloridos e estimulantes, inspirados em revistas teen dos anos 90. A itentidade de gênero não está na superfície do trabalho, mas camadas além.

O trabalho de Mac é considerado um sopo de ar fresco no mundo da fotografia, e já figurou, além de exposições ao redor do globo, na revista Vogue e no New York Times.

Silas Howard

Criado no cenário queer punk de San Francisco (tocou na banda Tribe 8), o diretor de cinema Silas Howard estreou no cinema indicado ao prêmio Sundance. Considerado um dos mais importantes profissionais do chamado New Trans Cinema (termo criado pelo historiador Ruby Rich), lançou, em 2018, o filme Uma Criança Como Jake, sobre um casal de pais que tenta compreender a inconformidade de gênero de seu filho.

ANOHNI

Anohni Hegarty, a ANOHNI, é uma cantora, compositora e artista visual nascida na Inglaterra, em 1971. Ela apresentou trabalhos solo e como vocalista da banda Anohni and the Johnsons, anteriormente conhecida como Antony and the Johnsons.

Se você a viu num palco, certamente não esqueceu. Visceral, exposta, Anohni se desintegra e renasce durante a execução de cada música, em entrega autobiográfica. É assim com o The Johnsons, foi assim no Hercules & The Love Affair, que liderou quando atropelou o cenário indie dance mundial.

Autora de sucessos de crítica e público, Anohni se tornou a primeira artista abertamente transgênero indicada ao prêmio Academy Award for Best Original Song (da AMPAS), pela canção Manta Ray, do filme Racing Extinction. Também concorreu a prêmios como Brit Awards e Mercury Prize, do qual saiu vencedora em 2005.

Laura Jane Grace

Nascida Thomas James Gabel, em 8 de novembro de 1980, Laura Jane Grace é uma musicista americana mais conhecida como fundadora, vocalista, compositora e guitarrista da banda de punk rock Against Me!, além do seu projeto solo Laura Jane Grace & the Devouring Mothers.

Grace se notabilizou como uma das primeiras artistas do cenário punk rock a se assumir publicamente como transgênero, o que ela fez em maio de 2012.

Kim Petras

Kim Petras é uma cantora e compositora alemã baseada em Los Angeles, Califórnia. Petras começou a gravar ainda adolescente, e estourou logo com o seu primeiro single, I Don’t Want It At All, em 2017, aos 25.

De lá pra cá, ela gravou diversos sucessos, incluindo mais de dez músicas que tiveram, cada uma, mais de um milhão de streamings no Spotify

Kim já se identificava como uma menina desde os dois anos de idade, e teve que lutar bastante, tanto na infância, quanto na adolescência, para ser reconhecida como tal.

Laerte Coutinho

Artistas trans

Foto: Reprodução

A carreira de Laerte foi acompanhada de perto por todos nós, e isso faz com que sua importância na disseminação da informação acerca da comunidade transgênero se multiplique. Quando decidiu por sua transição (e aqui falamos de transição mesmo, por que seu processo de autocompreensão foi bastante gradativo), ela já era uma das cartunistas mais geniais que o país já teve, esbanjando profundidade psicanalítica e social em suas tiras.

A artista levou sua transição de forma pública, tanto em entrevista, como em seu trabalho. A partir de 2010, começou a se definir como crossdresser (um homem que prefere se vestir como mulher), depois se referia a si mesmo como travesti. Mais tarde, como mulher trans, e atualmente, valendo-se da grandeza intelectual e criativa que tem na bagagem, como “a mulher possível”.

Lana e Lilly Wachowski

Artistas trans

As irmãs Wachowski. Montagem: Olhar Digital/Reprodução

Sabe Matrix, o filme que virou a cabeça de nove entre dez pessoas quando lançado? Pois é, no time que integrou sua concepção estavam as irmãs Lana e Lilly Wachowski. Cineastas, roteiristas e produtoras, elas provaram que, às vezes, um raio cai duas vezes no mesmo endereço.

As Wachowski tomaram de assalto o mundo do cinema pop, subvertendo (como na série Matrix) aquilo que se entende por “normal”. V de Vingança, adaptação do clássico dos quadrinhos de Alan Moore, Speed Racer, blockbuster infanto-juvenil, e a premiada série Sense 8 têm, em sua produção, a mão das meninas.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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