Vivi Seixas, que já era uma ótima DJ, lança primeiro EP autoral, e a gente adorou

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Da lista de gracinhas que as pessoas soltam pros DJs quando estão na pista, “toca Raul” é uma das mais antigas. Agora imagina quantas vezes a DJ Vivi Seixas, filha do homem, não teve que ouvir isso enquanto tocava?

Mas não teve encheção de saco nem preconceito capaz de parar esta carioca linda e determinada, que largou a faculdade de Turismo pra seguir carreira fazendo o que ama: tocar – e agora produzir – house music.

Desde a primeira gig oficialmente como DJ, ao lado do DJ Mau Mau, em 2006, quando mal conseguia colocar a agulha no disco de tão nervosa, até hoje, lá se vão anos de estudo, noites trabalhando fazendo o que ama e agora sim um EP autoral pra chamar de seu.

Lançado pelo selo nacional Perception Corp, RSVP vem com remixes da dupla Mumbaata (Lennox e Pedro Poyart), do produtor André Gazolla e do requebrante Nego Mozambique, que agora vive no Canadá (falamos com ele, lembra?).

A cada entrevista, me torno mais fã da Vivi, por sua determinação, humildade e pela maturidade de ter conquistado seu espaço sem ter que usar crachá de “filha de”. Se você ainda não ouviu o EP, faça isso já. Depois de apertar o play, parta pra entrevista deliciosa que a convidada da coluna #MillerMusic desta semana nos concedeu.

Music Non Stop – Na sua vida, chegou a rolar algum tipo de pressão (nem digo da família, mas das pessoas em geral) pra que você virasse roqueira?

Vivi Seixas – Minha família sempre me apoiou no que eu quisesse seguir, me lembro que a única coisa que minha mãe me pedia era que terminasse uma faculdade. Um dia, sentada ali naquela sala de aula, estudando Turismo, vi que estava perdendo meu tempo. Caí fora para me dedicar à minha carreira de DJ.

Ao contrário do que as pessoas pensam, no começo não foi tão fácil pra mim. Sofria preconceito tanto do lado dos fãs fervorosos do meu pai, que esperavam que eu cantasse ou tocasse guitarra, mas também da cena eletrônica, que achavam que eu estava lá só porque era filha do Raul Seixas… ou que eu fosse tocar Raul na pista (rs). Por isso eu fiz questão de que tudo fosse no seu tempo, comecei tocando pros amigos, toquei muito de graça. Lembro do meu primeiro cachê, cobrei R$ 300, fiquei toda feliz e fui levar minha melhor amiga pra almoçar. Isso foi por volta de 2003.

Um dia um amigo que já estava na cena antes de mim me falou: “Pra você ser respeitada tocando house music tem que tocar com vinil”. Lá fui eu aprender a tocar com vinil, foi aí que mexeu tudo dentro de mim, que sensação gostosa ter a música na palma da mão, era uma onda tão diferente do CD-J e foi aí que tive certeza de que era isso que eu queria pra minha vida.

Lembro da minha primeira gig pela minha primeira agência, a Smart Biz, foi ao lado do DJ Mau Mau, em 2006. Fiquei tão nervosa que nem consegui colocar a agulha no disco de tanto que tremia (rs).
Hoje fico muito feliz em ter encarado com coragem os preconceitos, seguido o meu caminho em fazer o que eu amo, e agradeço muito à música eletrônica, pois foi através dela que encontrei a minha vocação.

Music Non Stop – Sei que você se encantou por música eletrônica durante uma viagem. Refresca a minha memória aqui.

Vivi Seixas – Foi em 1996, quando fiz uma viagem de intercâmbio pra Austrália, naquela época ninguém ia estudar na Austrália e eu achei superinteresante. Lá fui aos meus primeiros festivais de musica eletrônica, quem me levou foi a DJ brasileira Tati Sanches. Lá o bichinho da house me mordeu.

Aprendendo a tocar

Music Non Stop – Você se lembra da primeira vez que acertou uma mixagem na mosca e pensou: “acho que vai dar certo isso de ser DJ”?

Vivi Seixas – Quem me ensinou a tocar foi meu grande amigo, o produtor Lennox, ele já era DJ na época, um dia tive um sonho que eu tava tocando numa festa, comentei com ele desse sonho e ele me disse: “você tem ritmo, bom gosto, carisma, por que não aprende a tocar?”. Ele levou os CD-Js dele, Pioneer 100, pra minha casa, ligamos no meu soundsystem e comecei a aprender. Aliás, ele foi um fofo, deixou na minha casa os equipamentos dele durante um tempão pra que eu pudesse treinar. Lembro como se fosse hoje ele me ensinando a marcar o cue, a contar as batidas. Onde eu ia, escutava música eletrônica no Discman e ficava contando na minha cabeça: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 rsrsrsr. Sou muito agradecida ao Lennox.

Music Non Stop – Você se tornou DJ há vários anos e agora está saindo seu primeiro EP autoral. Como foi a transição pra produção?

Vivi Seixas – O primeiro EP que lancei foi um álbum de remixes das músicas do meu pai a convite da gravadora Warner. Como não produzia na época fiz ele junto com meu ex-marido, o produtor californiano Mike Frugaletti. Desde dessa época fazia uns sons em casa, mas nunca tive a confiança de produzir sozinha. Foi aí que senti necessidade de me aprimorar e fui fazer um curso de produção musica em São Francisco (EUA), em 2016. Nesse mesmo ano, o Bredes Fernando, do selo nacional Perception Corp me chamou pra lançar um EP, me sugeriu uma track original com três remixes. Aceitei o desafio e nasceu a RSVP, uma track com influência musical de um label que curto muito, o Dirty Bird. Não tive dúvidas quanto aos produtores que chamaria para remixarem, os meninos do Mumbaata (Lennox e Pedro Poyart), André Gazolla, que é um produtor brasileiro de que gosto muito, toco várias tracks dele no meu set, e o Nego Mozambique, que eu tive o prazer de trazer para uma festa no Rio em que eu era residente chamada Clubbing. Conheci o som do Nego anos atrás com o hit Bonde Fumegante e desde então virei fã. Amo essa pegada goXXXtosa broken beat que ele faz.

Esse EP está cheio de pessoas e produtores que eu amo e admiro muito. Gostei muito do resultado final e acho que as tracks estão bem variadas e pra todos os gostos. O EP se chama RSVP porque um dia eu tava brava, com certas pessoas que nunca respondiam meus emails… kkk. Ele foi lançado dia 31 de julho com exclusividade no Beatport e, a partir de 14 de agosto, estará no Itunes, Deezer, Spotify etc.

Vivi de dreads e cabelo raspado, em 2007

Music Non Stop – Conta um pouco sobre o seu momento da carreira, soube que você está numa nova agência, com gigs internacionais marcadas

Vivi Seixas – No começo do ano entrei pra agência da Jana Matheus, a Jam Bookings, e estamos trabalhando muito bem. Acho importante pro artista algo a mais que bookings. Foi aí que a BOOSH, que é uma agência de artist management, me convidou para trabalhar com eles. Eles cuidam de agenciamento de carreira, licenciamento e branding. Agora estou com uma equipe maravilhosa trabalhando comigo. Este ano está sendo muito bom pra mim, já foram três gigs no D-Edge (D-Edge RJ com Seth Troxler e The Martinez Brothers, D-Edge SP fechando pro Hot Since 88 e outra abrindo pro Lee Foss, na Moving). Também acabei de fechar duas gigs no exterior, um festival de três dias numa ilha chamada Anguilla, no Caribe, onde toco ao lado de Kerri Chandler, Mathias Kaden, Chus & Ceballos e Technasia. A outra será no Club District em Cape Town, na África do Sul. Dois lugares que nunca imaginei que fosse tocar. Estou animadíssima.

Music Non Stop – Você ainda sente que a mulher tem que se provar constantemente no universo ainda machista da música eletrônica?

Vivi Seixas – Só no mês de julho toquei em três festas com line-up exclusivo de mulheres, e em NENHUMA das festas NENHUMA DJ deixou a desejar. Foi lindo a sonzera, do começo ao fim. Fiquei muito orgulhosa! Tô adorando essa moda dos lines femininos (rs).

Acho que esse machismo e preconceito com as meninas DJs está perdendo a força a cada dia. As mulheres estão provando cada vez mais que são tão boas e capazes quanto os homens. Na produção nacional então nem se fala, ANNA, Blancah, Devochka, Grazi Largura (Drunky Daniels), entre outras… meninos se preparem que a mulherada tá vindo com tudo!

Music Non Stop – Qual música você sempre leva no case praquele momento de resgatar uma pista que amornou?

Vivi SeixasPerrengue Freaky, do DJ Glen, não tem como ficar parado.

QUER MAIS #MILLERMUSIC? AQUI

 

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.