Luma Assis é a hostess fervida que pinta murais maravilhosos e dança até de ré. Conheça essa mineira que é a cara da noite de SP

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Pintora, desenhista, ciclista, costureira, bordadeira, cozinheira, hostess, garota-Bosch, mãe de gato. Podia ser um anúncio de emprego, mas é a descrição da página do Facebook da mineira que há muito tempo virou paulistana da gema Luma Assis.

Seja você iniciante na vida noturna ou PhD nos bailes da vida, é provável que já tenha trombado com Lumita em alguma pista de dança. Hoje em dia é bem fácil ver meninas de cabelo ruivo da cor do diabo e com o corpo inteiro rabiscado de tattoos, mas nos anos 90, quando ela chegou a São Paulo, Luma causava tanto com seu visual, seu humor infinito e ácido e suas muitas formas de se expressar artisticamente que ela era famosa, conhecida como a chefe das clubbers de Minas – isso muito antes de Instagram ou das webcelebrities existirem.

Luma praticando seu esporte preferido: fazer palhaçada

Antes da entrevista, um giro rápido pelo CV desta clubber que, apesar de cuidar da saúde (ela anda de bike, frequenta academia e é vegetariana há anos), não nega uma boa ferveção sem hora pra acabar: ela já teve vários fanzines engraçadíssimos sobre a cena clubber; tocou numa banda; fazia performance quando isso nem se chamava performance direito; já foi hostess na B.A.S.E., promoter da Loca e hoje trabalha aos sábados na porta do D-Edge; tem uma foto na capa de um vinil de uma dupla nacional de techno (a resposta está na entrevista) e teve até uma marca de toy art com duas amigas da noite (Marina Dias e Ana Baravelli).

Mais recentemente, um de seus talentos dos tempos de criança vem tomando cada vez mais seu tempo – e se transformando em profissão; a pintura de paredes e murais. Os desenhos são tão lindos que ela tem feito pinturas cada vez maiores e não mais apenas para os amigos – um dos mais recentes foi pintado num hospital infantil em São Paulo. Enquanto ela se prepara para sua primeira exposição coletiva, que estreia dia 19/8 na Funarte (al. Nothmann, 1058, Santa Cecília, São Paulo), a coluna #MillerMusic fez este tricô com a pintora-clubber. Agora aperta o play aí embaixo, na música preferida dela de todos os tempos, e divirta-se.

I Feel Love – Donna Summer (ao vivo em 1978)

Music Non Stop – Você é de BH e já foi conhecida como chefe do clã de Minas do Hell’s Club. Como veio parar em SP?

Luma Assis – Eu trabalhava fazendo arte final de estampas pra uma marca descolada, ainda morava com minha mãe, mas estava pensando em morar sozinha. Meu chefe, que era meu amigo, conseguiu um trabalho pra mim aqui em São Paulo. Marquei a entrevista para a segunda seguinte do show da Madonna, ixxxxperta que já fiz tudo junto. Voltei pra BH, busquei uma mochila e me mudei pra SP uma semana depois. Isso foi em dezembro de 93. Ui!

Music Non Stop – Como e por culpa de quem você se apaixonou por música eletrônica?

Luma Assis – Sempre fui muito interessada por música e pesquisava os lançamentos em vinil numa loja alternativa no centro em BH. Fiquei louca com tudo que ouvia, desde acid house, coletâneas de new beat, rock, e coisas exóticas. Comprava tudo e tenho até hoje. Frequentava a noite fervida de BH e tive dois namorados, bem no começo da carreira de DJs, que me apresentaram muita coisa legal. Melhor nem dar nomes. Fria! Ah, detalhe: meu amado vira-latas que se chamava Dee Jay.

Luma teve vários fanzines ótimos, que eram bancados por amigos donos de marcas ou empresas

Music Non Stop – Você escrevia um fanzine hilário, Ataque de Crise, sempre com textos muito engraçados, chochando tudo! De onde saiu a ideia do zine, quanto tempo ele durou? Como fazia para pagar a impressão?

Luma Assis – Começou na época do [grupo] I Love Miami, junto com a Ida [Feldman]. Eu andava com um caderninho anotando as merdas que os amigos falavam e idéias absurdas. Todos colaboravam muito com idéias, artes e fotos. Era um fanzine palhaçada da turma mesmo. Me juntei com a Ida e fizemos algumas edições do MoDessss’s e, em 2000, na época do Pix, eu e a Ana Baravelli fizemos mais 3 edições. Foram 10 edições ao todo de 97 a 2005 e era patrocinado pelos amigos que tinham marca ou empresa.

Music Non Stop – Você é hostess do D-Edge há anos, já trabalhou na Lôca, em quais outros clubes, me passa uma ficha corrida, por favor?

Com Anibal Aguirre, na época em que trabalhava no clube A Loca

Luma Assis – Na época que trabalhei na agência SmartBiz e no SmartBiz Café eu tava mais do que enfiada na cena eletrônica de SP, e os amigos me chamavam pra trabalhar como hostess. Fora de ordem cronológica: Lillith Bar (99!), Vegas (Hell’s), B.A.S.E., Breakin’ (festa do Morcerf e Pareto), A Loca (como promoter do projeto Locurama do Morcerf), Pix (como hostess e promoter), Ultralounge, Stereo e há 12 anos no D.Edge. Ufa!
Será que esqueci algum? rs

Gente que rala no D-Edge: com Anna Biazin, DJ Focka, Luma e Daniel Raad

Music Non Stop – O que é mais difícil em transformar a noite em trabalho? E o mais legal?

Luma Assis – O mais difícil é ter que lidar com gente que não sabe se divertir. Seres do além (chatos, bêbados, sem noção etc) e o mais legal é a montação e o fervo com os amigos.

Music Non Stop – Você fazia umas performances muito doidas no Pix. Conta algumas peripécias dessa época?

Luma Assis – Nos anos 30 (rs), em BH, já fazia desfiles, performances em festas e em shows com a banda de metal Gothic Vox. O Paulo Gandolfi tinha esse projeto das performances no Pix, e fiz dupla com ele uma vez só. Teve performances da Xumina nos Dilaus, com vestido de noiva e peruca. Afe! Teve filme também, de terror (não foi divulgado), O Faroeste das Galinhas, mas Um Domingo Qualquer resume bem essa a época. O Daniel Zanardi tem tudo documentado (meda!).

O Faroeste das Galinhas

Music Non Stop – São muitos talentos, né? Além de zineira, clubber, performer, teve uma momento de tocar em banda ou eu tô viajando?

Luma Assis – Teve, mona: I Love Miami. A banda tinha mais integrantes que os Titãs. Uma mistura linda de bicha, sapatão, travesti, boy e mina. Só dois sabiam tocar de verdade: o Focka e o Adriano Cintra, a gente só cantava, causava e fingia que sabia tocar alguma coisa. Quanto mais barulho, melhor. E olha que fizemos vários shows, no festival Mundão teve van e cachê, kirida! niilismo clubber!

Ensaiando e fazendo pose com o baixo no ensaio da banda I Love Miami

Music Non Stop – E a Luma biker, esportista, malhadora. Como faz pra frequentar a boate e manter essa pegada de pessoa que frequenta academia e só anda de bike?

Luma Assis – Kirida, eu era meio atleta em BH, pedalava duas horas por dia, corria e nadava mas AMO pedalar! Aqui em SP faço tudo de bike porque economizo tempo e dinheiro. O mais legal é sair montada de bike pro D-Edge. Vou, mas às vezes não volto rs.

Music Non Stop – Todo mundo quer saber de onde vem esse incrível talento com a pintura. A senhora faz altos murais e isso está se tornando uma profissão, né?

Luma Assis – Desenho desde criança, mona. Minha mamis me botou na aula particular de pintura na adolescência e depois fiz faculdade de Artes Plásticas e Design Gráfico. Alguns anos atrás resolvi pintar as paredes do meu apartamento que era muito grande, postei as fotos e daí foi. Agora sou representada pela Mais Galeria de Arte e tenho três exposições programas pra este ano. A primeira abre dia 19/8 na Funarte. Pode botar minha pagina do FB?

Pode. Clica aí ó: Luma Assis Studio

Conheça mais sobra a Luma pintora 

Music Non Stop – Você está na capa do disco Simpaticona da Boate, do Lacozta, e marcou presença no clipe também. Mas confessa, em que momento você se sente a simpaticona da boate?

A foto original de Nino Andrés, que se transformou na arte da capa do Lacozta, feita por Luca Lauri

Luma Assis – Recebendo bem e ajudando no que eu posso.

Music Non Stop – Finalmente, qual é a música que te faz dançar mesmo que estiver arrasada de cansada?

Luma Assis – Uma só? Uó. Donna Summer – I Feel Love.

PERA QUE TEM MAIS. SE LIGA NESTE BOOK DE FOTOS DA LUMA ASSIS

 

QUER MAIS #MILLERMUSIC? TEMOS!

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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