Veneza Imagem: Divulgação

Em “Veneza”, Miguel Falabella acerta a mão na difícil mistura entre teatro e cinema

Amandha Monteiro
Por Amandha Monteiro

É possível viver sonhos mais reais que a realidade, e realidades mais mentirosas que os sonhos

Hoje é dia de falar de arrependimentos e sonhos. Veneza conta a lúdica história de Gringa, uma meretriz aposentada que abriu mão do seu grande amor e do ideal de viver uma vida padrão em prol de outro sonho: ser uma mulher independente e bem-sucedida (esse é o problema, né? Às vezes, nossos sonhos se contrapõem, e é preciso escolher).

Acontece que décadas depois dessa escolha, Gringa entende que não quer partir dessa vida sem voltar a ver seu amado. Na despedida, ele disse que a esperaria, e ela acredita. Velha, cega e cansada, ela precisa pedir perdão a ele pra poder descansar em paz.

Faltou dizer um detalhe: nem ela, nem sua “família” têm dinheiro algum. É uma gente muito simples que nunca saiu do Brasil, e o cara, se é que existe, e se é que ainda está vivo, mora em Veneza. Até que um dia, as meninas do prostíbulo, que têm o circo como sua diversão, têm uma brilhante ideia para levar a personagem à cidade italiana.

Se você for assistir, e eu sugiro que assista, é importante que o faça desde o início com olhar lúdico. Veneza é lúdico desde o início, mas essa ludicidade vem em fade, e vai sendo intensificada. Digo isso porque o seu cérebro vai procurar pelas coerências da realidade no início, e isso será uma perda de tempo. O filme é um grande teatro!

O Miguel Falabella, que há muito tempo é um grande diretor de teatro, fez uma das melhores fusões das linguagens teatral e cinematográfica que já ví — é uma combinação fácil de errar a mão. Falabella orquestra cuidadosamente roteiro, cenário, figurino, direção de arte, fotografia, trilha sonora e efeitos especiais (aliás, que lindos os efeitos especiais!) numa metáfora linda da vida, em que realidade e ficção se misturam. É possível viver sonhos mais reais que a realidade, e realidades mais mentirosas que os sonhos.

A fotografia também merece destaque. Junto com a direção de arte, entrega um quadro mais lindo que o outro!

Encabeçado pela atriz espanhola Carmen Maura, temos um grande elenco, formado por Carolina Virguez, Dira Paes, Du Moscovis, Pia Manfroni, Maria Eduarda, Yuri Ribeiro, Roney Vilella, André Mattos, Carol Castro e Danielle Winits. É muita gente, e a maior parte dela, com vasta experiência no teatro.

Sabe aquele tipo de filme que quando acaba, você, sem se dar conta, tá sorrindo? Depois de ver Veneza, você vai voltar pra vida com vontade de preenchê-la de sonhos e de bons amigos! A obra é bonita, e a resultante dela na alma quando os créditos subirem fará ter valido a pena cada minuto de tempo empregado.

Veneza está disponível no Star+.

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Amandha Monteiro

Amandha Monteiro é diretora e roteirista. Membro da Academia Brasileira de Cinema, formada em Comunicação, com pós em cinema e licenciatura em artes cênicas, reúne em seus trabalhos diversos saberes nas vertentes artísticas. Seu vocabulário de conhecimentos artísticos 360 construíram, ao longo dos anos, um olhar sensível e apurado para o cinema e o teatro. Amandha já foi diretora e roteirista de TV, e hoje roteiriza e dirige para algumas das grandes empresas brasileiras, em campanhas institucionais e lives. No teatro, é coautora e protagonista de "Amor e Ódio em Sonata", sobre a vida do escritor russo Leon Tolstoi — primeiro espetáculo brasileiro a ser convidado pelo governo russo para temporada no país. No cinema, foi protagonista do longa "O Perfume da Memória", dirigido por Oswaldo Montenegro, ganhador de vários prêmios em festivais mundo afora. Louca por arte e por tudo o que expanda a alma, Amandha produz diariamente seu conteúdo exclusivo sobre cinema, em que o critério é a qualidade. Uma curadoria única, gêneros diversos, e seu olhar sobre as obras em tom provocativo e bem-humorado.

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