Maestro Imagem: Reprodução

Apesar de críticas contraditórias, “Maestro” é um dos melhores filmes de 2023

Amandha Monteiro
Por Amandha Monteiro

Obra dirigida, roteirizada e protagonizada por Bradley Cooper tem tudo para consagrá-lo com seu primeiro Óscar

Nem Leonardo DiCaprio, nem Cillian Murphy — o melhor ator deste ano é Bradley Cooper!

Hoje, vamos falar do filme que tem divido a crítica especializada. Maestro apresenta a história de um dos maiores gênios da música americana, o maestro Leonard Bernstein. Indicado em quatro categorias para o próximo Globo de Ouro (Melhor Filme de Drama, Melhor Direção, Melhor Ator e Melhor Atriz), ele certamente também figurará entre os mais indicados do Óscar.

Meu único senão é o nome, porque “Maestro” te induz a pensar que a obra é sobre a arte desse grande artista, a carreira e seu processo criativo, mas não é! Óbvio que a música está presente o tempo todo, mas estamos falando de uma cinebiografia em que o foco está na relação familiar dele com sua esposa, Felicia Montealegre, em paralelo às suas relações amorosas extraconjugais com garotos.

Felicia e Leonard se amam, são famosos, amigos e cúmplices no segredo de Bernstein em também gostar de meninos, e tá tudo certo, até o momento em que ela sente seu lugar de importância no coração do marido e a estabilidade emocional dos seus filhos, ameaçados. O roteiro, inteligentemente sutil, trata circunstâncias delicadas de forma delicada.

Maestro é brilhante, mas tem recebido críticas esquizofrênicas. Ao mesmo tempo em que há críticos dizendo ser um filme difícil, feito pra não ser pra todo mundo, outros dizem que Bradley Cooper fez um trabalho de condução popular pra cair nas graças do povo. Eu não sei dizer se a intenção do diretor era ser altamente popular e teatral ou ser cool em exercícios complexos de direção. O que eu posso garantir é que a obra tem os planos mais bonitos que ví no cinema neste ano.

E se eu paro pra pensar que Cooper dirigiu o filme ao mesmo tempo em que fez, de forma brilhante, o melhor trabalho de interpretação da sua vida… pelo amor de Deus! Quem me acompanha, sabe que eu falo constantemente sobre a dificuldade que artistas excessivamente belos têm para que seus talentos sejam reconhecidos à altura. Aqui, o trabalho de caracterização é tão brilhante, que eu demorei cinco minutos para entender que era ele no início — e não somente pela maquiagem!

Fisicamente, com um excepcional trabalho de corpo, ele envelheceu a personagem com movimentos mais pesados e lentos. Tá simplesmente perfeito! Mas como o cara é lindo demais, a caracterização tem sido criticada. Aposto que se ele tivesse engordado 10 quilos, acrescentado 15 quilos de prótese e não continuasse excessivamente belo, estariam aplaudindo de pé!

Bradley desempenha três funções: roteirista, diretor e protagonista — excelente nas duas primeiras e excepcional na terceira. Ele já foi indicado ao Óscar por nove vezes, quatro como ator, mas é agora, na pele de Leonard Bernstein, o grande maestro americano, sua chance mais consistente.

Já a atuação da Carey Mulligan é sensível, elegante, irretocável. Além de grande concorrente ao Globo de Ouro, aposto meu reino que ela também estará indicada ao Óscar de Melhor Atriz.

Outro destaque é o som — e não estou falando só da trilha, mas do áudio mesmo. Como estamos falando de um cara que viveu envolto pela música, há inúmeras inclusões musicais e sonoras que são um espetáculo à parte! Duas execuções de Bradley como maestro merecem ser vistas com bis no final:  

  1.  A primeira vez que ele toca à frente de uma grande orquestra;
  2. A cena que ele toca em uma igreja. 

Nesta segunda, a decisão do diretor de parar o filme pra fazer a execução da música toda é espetacular. Se você for assistir em casa, assista com fones de ouvido. Foi assim que eu vi, e a experiencia foi absurdamente imersiva. Parecia que eu estava assistindo ao concerto lá dentro!

Ao final, é provável que você sinta vontade de saber mais sobre a vida deles. Se isso acontecer, não deixe de assistir aos vídeos reais do maestro conduzindo sua orquestra visceralmente. Há vários na internet, como este abaixo! 😉

Maestro está disponível na Netflix.

Leia mais da coluna de Amandha Monteiro!

Amandha Monteiro

Amandha Monteiro é diretora e roteirista. Membro da Academia Brasileira de Cinema, formada em Comunicação, com pós em cinema e licenciatura em artes cênicas, reúne em seus trabalhos diversos saberes nas vertentes artísticas. Seu vocabulário de conhecimentos artísticos 360 construíram, ao longo dos anos, um olhar sensível e apurado para o cinema e o teatro. Amandha já foi diretora e roteirista de TV, e hoje roteiriza e dirige para algumas das grandes empresas brasileiras, em campanhas institucionais e lives. No teatro, é coautora e protagonista de "Amor e Ódio em Sonata", sobre a vida do escritor russo Leon Tolstoi — primeiro espetáculo brasileiro a ser convidado pelo governo russo para temporada no país. No cinema, foi protagonista do longa "O Perfume da Memória", dirigido por Oswaldo Montenegro, ganhador de vários prêmios em festivais mundo afora. Louca por arte e por tudo o que expanda a alma, Amandha produz diariamente seu conteúdo exclusivo sobre cinema, em que o critério é a qualidade. Uma curadoria única, gêneros diversos, e seu olhar sobre as obras em tom provocativo e bem-humorado.

× Curta Music Non Stop no Facebook