Top Gun Imagem: Reprodução

Batalha no cinema: por que Índia e China querem ter o próprio “Top Gun”

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Países lançam suas reinterpretações do clássico filme americano, ambientadas em suas próprias forças áereas

Top Gun (Ases Indomáveis), filme lançado em 1986 nos Estados Unidos, com direito a ganhar uma sequência bem sucedida em 2022, chamada Maverick, poderia ganhar uma Leão de Ouro, prêmio internacional dado às melhores peças publicitárias.

A receita foi impecável. Dois atores desejados pela garotada, Tom Cruise e Val Kilmer, interpretam pilotos da força aérea americana. Incorruptíveis, grandes amigos, parceiros de batalha, comandando aeronaves caríssimas, ultratecnológicas e mortais pelos ares, defendendo a liberdade e o sonho americano.

Top Gun deu um lucro tremendo à sua produtora, a Paramount. Custou 15 milhões de dólares, e rendeu 357 milhões de bilheteria. Deu, também, prestígio a seu diretor, Tony Scott. Juntou-se à imensa lista de filmes que propagandeiam a idoneidade das Forças Armadas dos Estados Unidos, imprescindível na proteção contra o “inimigo”, justificando o imenso orçamento do governo dedicado a este fim.

Hoje, os Estados Unidos não são os únicos candidatos ao posto de donos do mundo, e isso gerou a gana da concorrência em valorizar seus exércitos, também. Faz sentido, portanto, o dinheiro investido por China e Índia para botar suas próprias versões de Top Gun nos cinemas.

Na hora de escolher o dono do hype nas casernas, as forças aéreas sempre saem na frente. Nos navios, mesmo durante as batalhas, a operação é lenta, em tempo de sonho. No exército, o soldado é removível, sujeito a granadas, tiros, membros removidos e picadinhos nas trincheiras.

Já na Força Aérea, não. Homens voam, em máquinas supersônicas caríssimas! Disparam seus mísseis contra a terra e depois borboleteiam em piruetas jocosas, brincando felizes em busca da próxima vítima. São super-homens.

Na disputa pelo segundo lugar, a China saiu na frente. Lançou, em 2023, um Top Gun para chamar de seu: o filme Born To Fly foi exibido nos cinemas (incluindo os dos Estados Unidos), para mostrar ao mundo que seus aviões voam rapidão, fazem manobras muito loucas e seus pilotos são rapazes legais, obstinados, patriotas e competentes. A estrela do filme é Lei Yu (membro da boyband Wang Yibo), e a direção é de Liu Xiaoshi.

O roteiro, como é de se esperar, segue a linha do sucesso de 1986: a convivência camarada de pilotos na base área, testando supermáquinas e cumprindo missões.

A Índia correu para concluir o seu Fighter, com lançamento marcado nos cinemas para 25 de janeiro. Estrelado por Hrithik Roshan, o Tom Cruise da vez, e dirigido por Siddharth Anand, o trailer do filme já começa entregando, sem entrelinhas, o porquê de países com investimentos em forças armadas apostam em filmes como esse.

Para nos encontrar? Você deve ser bom.

Para nos acompanhar? Você deve ser rápido.

Para nos abater? Você deve estar brincando.

Em nenhum dos três filmes, há uma guerra rolando — nem contra alienígenas ou zumbis. A propaganda é preventiva: “Não tentem nada! Nós somos imbatíveis, gente boa, bonitões e vamos gastar alto para criptografar isso no inconsciente coletivo”.

Maverick e Iceman, vocês não estão mais sozinhos!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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