Úrsula Zion Foto: @vctrndz/Divulgação

Conheça Úrsula Zion, DJ que defende a cultura ballroom em Brasília

DJ Oblongui
Por DJ Oblongui

Trazendo a cena de BSB para o Music Non Stop, DJ Oblongui bateu um papo com a artista

Com grande entusiasmo, assumo a honra de me juntar à equipe do Music Non Stop, onde trarei Brasília para o centro do palco da música eletrônica nacional. Este espaço será dedicado a explorar as vibrantes batidas e os talentos inovadores que compõem a rica cena eletrônica, direto do coração da capital. E para abri-lo, trago uma entrevista com um talento local, a Úrsula Zion.

Úrsula é DJ, produtora musical, dançarina e produtora cultural. Iniciou os estudos em discotecagem de forma autodidata em 2018, a partir da inserção na cultura ballroom. Sua trajetória acumula balls, eventos culturais, festivais, podcasts e oficinas de música ballroom por várias partes do país, como Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Vitória, Campinas e São Paulo. É DJ residente das festas LUST, Kaverna BSB, Batekoo DF e Bloco Bunda do Delírio.

DJ Oblongui: Quais artistas ou DJs foram suas maiores influências quando você começou sua carreira na música ballroom?

Úrsula Zion: Eu comecei a estudar o universo da música ballroom no mesmo período em que comecei a estudar discotecagem num geral, então meio que rolou uma fusão de tudo. Da cena internacional, minhas maiores influências sempre foram Vjuan Allure (NY), MikeQ (NY) e Lazy Flow (FR). No Brasil, EVEHIVE (RJ), b o u t (RJ) e BADSISTA (SP). Essas influências me trouxeram perspectivas e inspirações tanto de discotecagem quanto de produção musical.

Como você vê a evolução da cena ballroom no Brasil em comparação a outros países, especialmente os EUA, onde ela tem raízes profundas?

De um modo geral, eu vejo a cena ballroom brasileira em uma crescente constante. De 2018 pra cá, rolou um grande boom generalizado por todo o país com muitas movimentações, e isso é ótimo porque a cena vem se consolidando cada vez mais. Nos Estados Unidos, já é uma cena mais antiga, estruturada e definida, enquanto no Brasil, por ser uma cena nova, temos a oportunidade de moldar e criar coisas com a nossa cara. Sempre com muito respeito e referência à cena de Nova Iorque, pois sabemos que estamos fomentando e vivendo uma cultura que, por mais que dialogue e contemple muito a nossa realidade, não foi criada por nós.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao introduzir e promover a cultura ballroom no Brasil?

Quando eu comecei a me aproximar, a cena já estava aí e muita coisa já tinha sido construída. Reconheço que tive uma forte contribuição na disseminação de estudos sobre a música ballroom, mas isso só foi possível graças às pessoas que já estavam aqui antes de mim e me guiaram da melhor forma possível. Acredito que o maior desafio é a língua, pois estamos falando de um cultura que nasceu nos Estados Unidos, então, além disso dificultar a nossa interação com pessoas de fora, a maioria das informações disponíveis está em inglês. Então se tem um trabalho coletivo de tradução e disseminação desses conteúdos, pra que fique acessível pro maior número de pessoas aqui no Brasil.

Há algum artista ou DJ com quem você ainda não colaborou, mas gostaria de trabalhar no futuro?

Vários! Na ballroom mesmo, tenho vontade de trabalhar com quase todos os artistas que ainda não tive a oportunidade. Alguns nomes que me vêm à cabeça são Aurora Abloh, Zaila B, Maia Caos, Clementaum, DJ Kaim, EVEHIVE, b o u t e Brunoso.

Como você vê o papel da música ballroom como uma ferramenta de ativismo e empoderamento para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil?

A música tem o poder de transformar a vida das pessoas e de contar histórias. E a música ballroom dialoga diretamente com a história da cultura, então ela também é um resgate à house e disco music, que são movimentos musicais e culturais protagonizados por pessoas racializadas e pessoas LGBTI+. Ter esse som e suas referências invadindo a cena mainstream traz reconhecimento, identificação, pertencimento. Essa movimentação também traz oportunidade pra comunidade ballroom estar em destaque e entrar mais no mercado de trabalho, além de visibilidade e remuneração justa.

Onde você vê a cena ballroom no Brasil nos próximos cinco a dez anos? Há alguma tendência ou evolução específica que você antecipa?

Imagino a cena pelo menos umas três vezes maior do que atualmente. Mais consolidada, articulada, branda e alinhada. Acho que algo específico que eu anteciparia é o aumento de produções ballroom se destacando mesmo. Acredito muito que vai ser cada vez mais comum a gente ver a ballroom em espaços de muito prestígio, como o Coletivo AMEM e a Casa de Candaces realizando balls na Bienal de Arte em São Paulo; Brunoso, Clementaum e Irmãs de Pau participando do álbum de remixes da Pabllo Vittar; HellBall RJ realizando ball e outras programações no Festival Presença, no Rio de Janeiro; Lunna Montty e a cena ballroom participando do club Renaissance com a Beyoncé em Salvador, e muitas outras movimentações bárbaras que tão rolando pelo país. 

Que conselho você daria para jovens DJs ou artistas que desejam entrar na cena ballroom e seguir uma carreira semelhante à sua?

Acredite em você. Ser artista no Brasil é muito difícil, ainda mais pra quem vive em contextos de marginalização social. Entrar na cena ballroom vai pra além de um espaço de expressão artística, porque você precisa vivenciá-la e experienciá-la, então é importante que você esteja de coração aberto pra viver tudo que essa cultura pode te proporcionar. Apesar das dificuldades, o mais importante é ter um trabalho consistente e de qualidade, que você vai conseguir se dedicando e sendo responsável. Procure se estruturar pra que você possa investir na sua carreira e se profissionalizar, porque isso vai agregar e fazer muita diferença na sua trajetória.

Você pode compartilhar algum projeto ou colaboração futura na qual está trabalhando atualmente?

Tem coisas bem interessantes no forno por virem neste ano! Um dos meus objetivos é me jogar total nos estudos de produção musical. Quero resgatar projetos engavetados e começar coisas novas também. Então podem aguardar que tem muita coisa legal vindo aí em parceria com artistas da cena ballroom de alguns lugares do Brasil!

DJ Oblongui

DJ Oblongui, nome artístico de Guilherme Mendes, é uma figura emblemática na cena eletrônica brasileira, com uma paixão que remonta a 1991 e uma carreira profissional iniciada em 1994. Conhecido por sua versatilidade musical, abrangendo estilos como house, tech house, deep house e techno, é também um dos responsáveis pelos influentes perfis TUNTISTUN e a festa TREMA TECHNO.