Bassiani Geórgia Pivô da famosa “rave protesto” de 2018, Bassiani é um dos principais clubes do país.

Casas noturnas da Geórgia denunciam repressão à comunidade LGBTQIAPN+

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Conjunto de leis propostas pelo governo do país inclui proibição de transição de gênero e de adoção por casais homoafetivos

Que o planeta Terra é redondo, quase todo mundo sabe. O que passa despercebido por muitos, no entanto, é que em alguns lugares desta bolota, ele gira ao contrário, fazendo com o que o tempo siga em marcha ré, do futuro para o passado. Talvez seja esta a única explicação para o que tem acontecido em alguns países do leste europeu, em especial a Geórgia. O pais governado pela presidente Salome Zurabishvili segue na contramão de tudo o que vem sendo feito no mundo no que diz respeito aos direitos da comunidade LGBTQIAPN+.

Surfando em uma base de apoio formada por forte presença do pensamento de ultradireita, o congresso está presentes a aprovar um conjunto de leis que retrocede todas as casas no que diz respeito à diversidade. Segundo o Resident Advisor, uma das propostas visa proibir “encontros” que discutam o tema ou que promovam a luta por direitos iguais, já de olho na repressão em eventos como a Parada Gay. Outras, vetam a transição de gênero e a adoção de crianças por casais homoafetivos.

Clubes importantes do país, como Bassiani — protagonista da famosa rave protesto de 2018 —, TES, KHIDI, Left Bank e Eau De Cologne, assim como seus promoters e outros profissionais da noite, se uniram para denunciar a eminente onda de repressão, inclusive enviando comunicados para veículos de imprensa internacionais. As casas temem que o governo siga replicando legislações vigentes na vizinha Rússia, notoriamente atrasada no tema. O levante classifica as propostas de lei como “opressivas” e “altamente discrimatórias”.

Usando o discurso clássico de ódio, desumanização e medo (avalizados pelo governo), alas reacionárias do país têm conseguido promover manifestações dignas da idade das trevas. Em julho do ano passado, mais de dois mil “cidadãos de bem” georgianos invadiram violentamente o Gay Pride Festival, na capital Tbilisi, forçando seu cancelamento. A presidente Zurabishvili veio a público prometendo punição aos envolvidos, o que não aconteceu. O Ministro do Interior, Alexander Darakhvelidze, alegou que a área onde rolou o festival “era muito extensa e difícil de policiar”.

De maioria cristã ortodoxa, religão formada após o desmembramento com a ingreja católica em 1054, a população da Geórgia elegeu sua primeira presidente mulher (a quinta da história do país) em 2018. Zurabishvili é francesa e veio com a promessa de lutar por uma aproximação com a Europa, dando lugar à forte influência que a Rússia, parceira na extinta União Soviética, ainda tem sobre o país.

Como tem acontecido em diversos lugares do mundo, a eleição foi apertada e repleta de denúncias de fraude, o que tem permitido a evolução de movimentos que promovem, no lugar de ideias econômicas ou sociais, discussões sobre costumes, tradições e manutenção de preconceitos.

Há tempos, o leste europeu tem desenvolvido fortes cenários de música eletrônicas, com festivais, clubes e talentosos DJs. Países como Croácia, Romênia, Polônia, Ucrânia e a própria Geórgia mantêm grandes eventos, arrastando milhares de turistas europeus em busca de novidades e preços mais baixos.

Graças a esse movimento, a região mantém uma forte comunidade festeira. Uma cultura que, essencialmente, é a favor da diversidade. A união dos clubes georgianos na luta para barrar a destituição de direitos da comunidade LGBT+ tem muito potencial para fazer barulho. Agora, é torcer para que o presente vença o retrógado.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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