Techno Berlim A Love Parade em 2001. Foto: Wolfgang Kumm/AFP

Techno em Berlim agora é patrimônio imaterial da UNESCO

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Comunidade da música eletrônica alemã celebrou a inclusão como uma “salvação” para o cenário berlinense

Agora é oficial. A cidade que sedia casas noturnas seminais como Berghain e Tresor, cujas ruas receberam milhões nas Love Paredes e o lugar para onde vários DJs foram para consolidar a carreira, está em festa. A UNESCO reconheceu a cena de techno de Berlim como patrimonio imaterial da humanidade.

Conforme destacado pela NME, coletivos como o Rave The Planet (justamente o sucessor da Love Parade) encamparam uma campanha para conseguir tal reconhecimento. Realmente, o techno é o estilo musical que melhor traduz a atmosfera da capital alemã: industrial, compassada e futurista.

Berlim adotou o gênero mais do que qualquer outra vertente da música eletrônica, tão logo ela explodiu para o mundo em 1988, vinda dos Estados Unidos e adicionada à trilha sonora da revolução cultural chamada na Europa de Segundo Verão do Amor.

Estabeleceu-se rapidamente como polo de produção musical, sediando diversos selos que hoje são históricos para o estilo, como NovaMute, Plus8, Axis e a própria Tresor Records, braço de sucesso da casa noturna que foi, na década de 00, um Santo Graal para DJs do mundo todo.

O cenário de música eletrônica recentemente vem recebendo bastante apoio da prefeitura da cidade, a ponto de Berlim financiar reformas em clubs, para evitar seu fechamento por problemas de poluição sonora por exemplo.

O selo da UNESCO coloca definitivamente essa cultura no cofre da humanidade, servindo como argumento para políticas públicas de manutenção e promoção do cenário, o que é sensacional para DJs, produtores, selos e casas noturnas. Geralmente, a inclusão na lista da agência é dada a ritmos e culturas tradicionais. É como se o techno deles fosse o samba no Rio de Janeiro.

Eventos como a Love Parade, que reunia turistas do mundo inteiro e chegou a ser a maior parada de rua do mundo, foram fundamentais para estabelecer Berlim como a cidade do techno — muito mais do que Detroit (EUA), berço do estilo musical.

A Love Parade começou pequenininha em 1989 e juntava mais de um milhão de pessoas até 2010, quando um incidente provocou uma correria na multidão, resultando na morte de 21 uma pessoas e mais de 500 feridos.

A parada acabou ali, mas provocou a fragmentação em clubes e festas menores, que mantêm Berlim techneira até hoje.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.