Steve Albini Foto: Reprodução

Produtor de álbuns célebres do rock e fã de poker: quem foi Steve Albini

Laerte Castagna
Por Laerte Castagna

Saiba mais sobre um dos maiores engenheiros de som da história do rock alternativo

A música veste luto pesado hoje com a passagem do produtor musical Steve Albini, 61, um dos mais importantes produtores do rock alternativo, responsável pelos álbuns In Utero, do Nirvana, Surfer Rosa, do Pixies, e Rid Of Me, da PJ Harvey, entre muitos outros. Ele calculou em alguns milhares o número de artistas e bandas em que foi engenheiro de áudio ou produziu. Albini, que é jornalista de formação, sempre foi um crítico ferrenho da indústria musical e, mais recentemente, dos serviços de streaming.

Formou o Big Black em 1981, banda fundamental em apontar caminhos no rock fora da caixa. Pode ser considerada pioneira e influência do rock industrial e noise. Com álbuns essenciais, como Atomizer e Songs About Fucking, e uma performance insana, o grupo durou pouco mais de seis anos e deixou o que talvez seja o melhor cover do Kraftwerk já feito para a canção The Model. Com o fim do Big Black, fundou o Rapeman e depois o Shellac, e passou então a realizar mais gravações e produções para esses milhares de discos.

Steve preferia ser chamado de engenheiro de som do que de produtor, e entre esses dois cargos, foi responsável por álbuns de algumas lendas do rock independente, como Godspeed You! Black Emperor, The Breeders, Slint, Mogwai, The Jesus Lizard e Whitehouse, mas também de alguns grandes do mainstream, como Jimmy Page & Robert Plant e The Stooges. Considerava seu trabalho como o de um encanador ou prestador de serviço, como escreveu em carta ao Nirvana para dizer suas condições.

Com o Shellac, vieram mais alguns álbuns tipo “discoteca básica”, como At Action Park, 1000 Hurts e Excellent Italian Greyhound, e a performance de palco era incrementada com interação com a plateia por meio de sessões de perguntas. Albini, que adorava uma boa polêmica, costumava dizer: “Eu sou Steve Albini, pergunte-me qualquer coisa”. E assim, entre as canções, o povo fazia perguntas sobre a banda, vida pessoal ou temas bizarros em geral, e ele respondia de sopetão para em seguida descer outra paulada sonora.

No início de 2000, o Shellac comunicou a decisão de não tocar mais em festivais, porém foi chamado pela banda Mogwai a conhecer as condições de um novo festival, o All Tomorrow’s Parties, um dos mais legais que já existiu. Com a proposta de ter uma curadoria rotativa, apresentar as bandas tocando álbuns clássicos e ter os músicos hospedados junto ao público, ele foi definitivamente convencido. Em 2002, foram os curadores e tocavam nos primeiros horários para obrigar o público a acordar cedo e ver as outras bandas.

Tive a sorte de vê-lo tocar várias vezes, algumas no ATP, e sempre foi uma experiência singular. O festival era realizado em hotéis do tipo colônia de férias, com chalés e uma área de convivência e lazer. Em todas as edições em que participou, Steve Albini mantinha uma mesa de poker, que era sua maior paixão após a música, e era considerado um jogador notável. É claro que, ao saber disso, fomos até lá conferir. Confesso que nem gosto de jogos, menos ainda de baralho. O resultado foi surpreendente? Para mim não, fui rapelado inapelavelmente. Mas hoje posso contar esse caso, e quando todos disserem que ele está lá no céu tocando, eu direi: “só se não puder jogar poker”.

Laerte Castagna

Cresceu ouvindo o rock dos anos setenta e acompanhou in loco as explosões do punk, do pós punk e da música eletrônica. Vagou e se jogou pelas pistas esfumaçadas de clubes e after-hours em subterrâneos e telhados paulistanos. Bagunceiro amador, apaixonado por música ao vivo, discos e fitas, assuntos sobre os quais escreve. Dedica-se à confecção de playlists reais e ultra reais para festeiros em repouso ou expansão de consciência.

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