Time Warp 2024 Foto: Thiago FM Xavier/Divulgação

Review: Os destaques e as birras de um tiozão exigente no 2º dia do Time Warp 2024

Laerte Castagna
Por Laerte Castagna

Laerte Castagna cobriu os dois dias do rolê para o Music Non Stop

Depois de um primeiro dia em que Richie Hawtin foi o grande destaque, o sábado, derradeiro dia do Time Warp Brasil 2024, começou com a notícia de que o DJ Daley Padley, conhecido como Hot Since 82, não viria mais. Ele contou que sofreu uma tentativa de assalto após se apresentar em uma festa no Rio de Janeiro e estava sem condições psicológicas para tocar. Mais um problema para a produção resolver. 

Uma das melhores/piores características de festivais é ter que escolher entre duas ou mais atrações que se apresentam ao mesmo tempo. Assim, infelizmente não pudemos conferir o alemão Roman Flügel, fundador dos selos Ongaku, Klang e Playhouse, metade do Alter Ego e autor de pedradas como Betty Ford e Rocker. Pegamos apenas o início do set de seu compatriota Klangkuenstler, que desceu a lenha sem piedade, mostrando por que é um dos preferidos da nova geração que curte techno pesado em grandes festivais. Isto porque logo nos dirigimos ao hangar, onde mais uma lenda germânica estava em ação.

Se existe uma lenda viva na cena eletrônica mundial, esse é “Papa” Sven Väth, DJ, produtor, organizador de festivais, dono de clube e festeiro pé na jaca como poucos que já podemos ter conhecido. Discotecando desde o começo dos anos 80, já produziu pop, trance, techno e electro. Seus sets viajam nessa atmosfera que exala rave na praia, hedonismo e Ibiza. sua vinda ao festival foi para lá de especial, já que a marca Time Warp completa 30 anos e nosso campeão chega aos 60, com pelo menos 40 deles a tocando e festejando a todo vapor.

Sven sabe como poucos controlar uma pista, dando doses de techno gordo, teclados tranceados, batida quebrada e baixos electro em uma atmosfera irresistível. E foi isso que ele entregou em três horas de um set perfeito para deleite da galera. Como era costume dizer, em três horas ele conta uma história através das músicas e das atmosferas criadas com tensão, devaneio, hipnose e êxtase. Há bombação, mas ela não é regra e muito menos a única ferramenta que utiliza, como parece ser o que impera por aí. Ah! E ele toca com vinil.

Time Warp 2024

Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Na pista outdoor, informações davam conta que Alex Ridha, mais conhecido como Boys Noize, mantinha o povo fervendo com sua mescla de electro sujo, techno, house com uma pegada meio punk. Deveria ter ficado mais lá, mas quería muito conferir o tão falado set A/V do Bicep, que prometia uma viagem sinestésica de seu som com imagens manipuladas ao vivo. Bem, pelo menos era o que eu esperava; no entanto, o som era morno, e as imagens e lasers, pouco significativos.

Em seguida, é a vez de mais um peso pesado subir à cabine, o americano-cubano Eric Estornel, bem mais conhecido como Maceo Plex. Com um som na intersecção do deep house, trance, minimal e tech house, ele agrada em cheio o público chegado em uma música bela, viajante e sem grandes sobressaltos. Corre a máxima que é som para playboy dançar e não derrubar o drink. Piadas maldosas à parte, Plex é extremamente eficiente em construir seu set, e assim o fez, com muitos climas e hits. Aliás, se fosse escolher uma palavra para definir a performance, esta seria “pop”.

Quando o WhoMadeWho entrou para fechar a tenda principal com mais som cozinhando meus miolos, foi a deixa para ir até o palco outdoor para checar a performance de Sara Landry, chamada de uma nova cara do hard techno e alta sacerdotiza do Ableton. Bem, ela toca pesado mesmo, porém o que mais se ouve é hardcore 90, hard trance e… psytrance. Pois é, o onipresente psy, mesmo que em sua versão lenha, domina a parada para minha tristeza e tédio. Mas o que mais incomoda é o método.

Time Warp 2024

Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Não sou purista em todas as situações, e posso até mesmo tolerar bem essa mistura toda que se faz hoje. O que incomoda um pouco é aquela performance “cada virada é um flash” que abunda nas cabines já faz algum tempo. Não há engano: a cada final de música uma paradinha, baixa tudo e volta o kick pesado com “baixo do cavalinho” e tzim tzuim tchck tzum! Em TODAS as viradas! E outra, com tanto som pesado rolando, já passou da hora desses grandes eventos escalarem nossos PETDuo para tocar em suas edições mundo afora. Na boa, a diferença é brutal. 

Parece papo de saudosista, mas deve ser só coisa de tiozão que está mal acostumado com os sets mais elaborados de artistas como Surgeon, Jeff Mills, Oscar Mulero ou Richie Hawtin. Ou simples, mas perfeitos, como o de Sven Väth, nosso herói da noite. E da manhã também, já que ele se apresentou ainda no after da festa, onde estava escalado para tocar por mais cinco (CINCO!) horas. Mas dessa vez o tiozão aqui infelizmente não conseguiu conferir. Espero que a molecada tenha ido. E alguns DJs também.

Laerte Castagna

Cresceu ouvindo o rock dos anos setenta e acompanhou in loco as explosões do punk, do pós punk e da música eletrônica. Vagou e se jogou pelas pistas esfumaçadas de clubes e after-hours em subterrâneos e telhados paulistanos. Bagunceiro amador, apaixonado por música ao vivo, discos e fitas, assuntos sobre os quais escreve. Dedica-se à confecção de playlists reais e ultra reais para festeiros em repouso ou expansão de consciência.

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