Time Warp Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Review: 1º dia do Time Warp 2024 teve Richie Hawtin como destaque

Laerte Castagna
Por Laerte Castagna

DJ precisou passar por cima de problemas técnicos bastante desafiadores

Após o excelente evento do ano passado em Interlagos, o festival alemão Time Warp decidiu realizar sua edição comemorativa de 30 anos no Vale do Anhangabaú. É sempre muito bom participar de eventos pelo Centro de São Paulo, com incríveis cenários como o Edifício Martinelli e o Prédio do Banespa emoldurando a pista.

Começamos com a mistura de house com minimal e tech house do holandês Chris Stussy, que entra de cara com uma edit de Casa no Campo, de Elis Regina, nitidamente para ganhar a audiência. Parece que ganhou, porém fomos para a tenda 1, onde a australiana Teneil Throssel, ou HAAi, fazia um set energético e com uma pegada quase pop. Como Sama’ Abdulhadi não iria se apresentar por motivos de saúde, a australiana tocou por uma hora a mais. De certa forma ela foi obrigada a dar uma cozinhada no som, calcado em psy, fuzz, sobe-desce, muitas viradas e bombação. Conseguiu empolgar a pista e deu uma puxada boa na parte final para passar o bastão.

Com a mudança, e como eu queria ver o próximo set inteiro, acabei não conferindo o Mochakk, que sem dúvida era um dos mais aguardados pela molecada — inclusive, vimos muita gente com camiseta dele. Mas deu tempo para checar o DJ set de Andy Butler, conhecido como Hercules and Love Affair. Muita house fina, disco futurista e outras rebolações mantinham a pista em alta temperatura. Deu para sacar que o clima estava ótimo, contudo nossa noite estava reservada para conferir Richie Hawtin na tenda principal, então voltamos para o hangar.

Uma hora antes do previsto, às 03h da manhã, Hawtin assumiu os controles. Conhecido por sua técnica e uso de várias traquitanas que ele mesmo desenvolve, é considerado um inovador do techno, com diversos serviços prestados ao gênero. Seja em seus projetos Plastikman ou F.U.S.E., ele sempre é explorador de novas tecnologias, e pode ser creditado como um dos responsáveis pela rápida transição do analógico (e mesmo do CD) para a música digital.

Time Warp

Foto: Jorge Alexandre/Divulgação

Ironia do destino, Richie enfrentou sérios problemas técnicos neste Time Warp ao ter o som interrompido por queda do sinal de seus equipamentos para o PA. E não foi uma nem duas vezes, mas três panes que cortaram totalmente o som e a vibe da tenda, logo nos primeiros 15 minutos. Esse começo desastroso obrigou-o a retornar cada vez mais firme em suas batidas para assumir o controle da pista e fazer a apresentação. E conseguiu, construindo um excelente set do mais puro techno, que nos faz refletir: nessas horas, só o bom e velho technão que resolve! Resolveu, e o canadense saiu muito aplaudido.

Um problema sério enfrentou o público, já que o sistema de som da tenda 1 parecia descontrolado, com muitas oscilações de volume, principalmente durante Hawtin. Em boa parte do set, o som estava extremamente alto, de machucar. Não era algo distorcido ou de má qualidade, mas estava desconfortável, a ponto de muita gente não conseguir ficar na frente das caixas. Bom para dançar, mas só nos aventuramos por lá com guardanapos enfiados nos ouvidos.

Em seguida, entrou o francês Guillaume Labadie, mais conhecido como I Hate Models, realizando sua performática mistura altamente energética de trance, hardcore, techno e electro. E psytrance, é claro. Aliás, ele escolheu começar o set com os dois pés no psy em alta rotação. De certa forma, foi uma boa opção, pois já se deslocou totalmente do set anterior e ganhou a pista, predominantemente de jovens na faixa dos 20 e poucos anos.

Time Warp

Foto: Thiago FM Xavier/Divulgação

Quando o dia principia é hora do café, então fomos conferir o Black Coffee cativar a audiência com um som cheio de classe e beleza. Com muitas referências de jazz, afros em geral, latinidades e brasilidades, deixou bonito o amanhecer. O som agradou em cheio aquela galera que curte um som cozinhadão, mas com muita elegância. Ainda passamos pela tenda 3 a tempo de ver o final do set do DJ Seinfeld, que aparentou ser bem divertido e para cima.

Entre os vários problemas, do som, da produção, banheiros longe da pista, cancelamentos de última hora e o tal do copo que tinha que ser carregado durante a festa toda, o saldo foi positivo. E há de se levar em conta que o Time Warp tem muito crédito ainda, por toda história e eventos impecáveis.

O destaque fica para Richie Hawtin que, mesmo com tanta adversidade, fez um excelente set. Corre um meme nos meios de música eletrônica que diz “Todo mundo é DJ até…”, e então aparece alguma imagem bizarra de aparelhagem ou situação que desafia qualquer um. Bem, Hawtin experimentou na pele o teste e saiu dele com louvor. Podem falar o que quiserem (e fala-se bastante) mas ele ainda é um baita DJ!

Laerte Castagna

Cresceu ouvindo o rock dos anos setenta e acompanhou in loco as explosões do punk, do pós punk e da música eletrônica. Vagou e se jogou pelas pistas esfumaçadas de clubes e after-hours em subterrâneos e telhados paulistanos. Bagunceiro amador, apaixonado por música ao vivo, discos e fitas, assuntos sobre os quais escreve. Dedica-se à confecção de playlists reais e ultra reais para festeiros em repouso ou expansão de consciência.

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