Que tal ser recebido na festa por um gótico clubber lindo e maravilhoso? Conheça Daniel Raad, o host da ODD e do D-Edge

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Se você circula pela noite de São Paulo com certeza já viu um ser elegante, moderno e com cara de galã de filme cult alemão cuidando da porta de algumas das festas mais interessantes da cidade. Trata-se do host Daniel Raad, moço lindo e bem vestido que veio de Joinville, Santa Catarina, para São Paulo aos 17 anos especialmente para conhecer o Hell’s Club e outros points da cultura clubber dos anos 90.

Depois de trabalhar durante anos com o estilista Alexandre Herchcovitch, Daniel Raad se entregou à arte de receber bem as pessoas na festa. Sim, porque receber bem é uma arte. É ali, na entrada, que já se percebe o mood da noite. Entre as profissões relacionadas ao ecossistema do fervo, a de host/hostess talvez seja a mais delicada. Acha fácil concatenar trocentos nomes em listas diversas, manter a elegância mesmo quando se está na linha de frente de possíveis bêbados e afins e ainda se equilibrar em looks maravilhosos por horas a fio? Definitivamente não é uma profissão para fracos.

Dani Raad com outro ícone da noite, a promoter Vivi Flaksbaum

Há cerca de 15 anos vivendo em Sampa, Daniel não se arrepende de ter escolhido a cidade pra chamar de lar. Por aqui, ele cuida da porta de festas como ODD e Moving, as quintas-feiras do D-Edge, além de fazer um back-3-back superdivertido com os amigos Edu Corelli e Geanine Marques – o trio arrasou na festa de lançamento do Music Non Stop.

Batemos um papo reto com ele sobre noite, moda e DJ cultura para a coluna #MillerMusic e a dica é ler a entrevista ouvindo uma das músicas preferidas do Dani – e minha também – a ryca Sade.

Your Love Is King – Sade

Music Non Stop – Quando e por que você se mudou pra São Paulo?

Daniel Raad – Foi aproximadamente há 15 anos. Eu cresci em Joinville, Santa Catarina, num bairro tradicional alemão, é óbvio que nunca me encaixei nos moldes da sociedade local, agradeço muito à música por ter me apoiado. Na época, ouvia muito Led Zeppelin, Black Sabbath, AC/DC, depois tive o momento Ramones, Sid Vicious e meu primeiro grande amor, aos 14 anos, foi quando ouvi Siouxsie and the Banshees pela primeira vez. Meus amigos ouviam Legião Urbana, que eu detesto, e ficavam naquele clima banquinho e violão, eu tinha AVCs na época! Implorei pra ganhar uma jaqueta perfecto de couro, ninguém entendia nada. Também tive uma namorada, que me mostrou mais coisas sobre black music e uma cena disco e Miami Beat na periferia de Joinville.

Little Dani Raad já gotiquinho suave na infância em Joinville

Entrei na faculdade com 17 anos em Balneário Camboriú, libertação total. Com a mesma idade e RG falso fui parar em São Paulo para um bate-e-volta de reciclagem musical. Cheguei na rodoviária e com um guia que fiz com base na coluna Noite Ilustrada e na revista Sui Generis, passei o dia entre Galeria Ouro Fino e Mercado Mundo Mix na Barra funda, comecei a noite no The Cube até aportar no Hell’s Club às 4 da manhã, noite que mudou minha vida. Vi e ouvi Mau Mau pela primeira vez e fora todo o auê: parecia que todas as drags tinham 2 metros de altura, todo mundo dançando algo novo, nunca vou esquecer como saí de lá, queria muito achar alguém pra poder compartilhar as histórias e sensações.

Acabei formando uma turma em Balneário Camboriú muito pra frentex, onde tive contato direto com a noite e fui host de clubes, festas particulares, raves. Em 2002, fui para Curitiba, onde fiquei três anos, tinha meu trabalho convencional de dia como gerente de um estúdio fotográfico, onde era stylist, e à noite fui host do projeto mais legal que a cidade já teve até hoje, o All Starz, idealizado pelo DJ e amigo Gil Riquerme, que acontecia dentro de um cofre subterrâneo de banco, desativado. Enjoei de Curitiba e na mesma época muitos amigos migraram para SP. Acabei vindo nessa leva, pra fazer alguns cursos e estou até hoje satisfeito com a minha decisão.

Com Johnny Luxo (de boina azul), Alexandre Herchcovitch e migos da moda

Music Non Stop – Qual foi o primeiro disco que você comprou na vida?

Daniel Raad  Thriller, do Michael Jackson.

Music Non Stop – Você trabalhou muitos anos com a moda, como aproveita esse background pra trabalhar na noite?

Daniel Raad  Me vestindo bem kkkk. E sendo quem eu sou. Independentemente de onde ou com quem eu trabalho, tenho uma boa relação com os mais diversos públicos.

Daniel Raad trabalhou como stylist num estúdio fotográfico antes de se jogar na vida de host de festas

Music Non Stop – Na porta das festas, qual é a hora de fazer a simpaticona da boate? E quando tem que fazer carão?

Daniel Raad   Não tem personagem certo rs. Você sai pra dançar se divertir, é óbvio que você tem que ser bem recebido, a simpatia é espontânea e combina muito com a educação. Em compensação, muitas pessoas são bem agressivas e esquecem que porta de um clube é seu maior faturamento e que o valor da entrada proporciona a qualidade da festa. Mas acho que um bom sorriso e uma negociação desbanca qualquer carão.

Dani desbanca qualquer carão

Music Non Stop –Qual é a sua música preferida de todos os tempos e por quê?

Daniel Raad   Complexo! Tenho música para todos os momentos. Meu sonho é viver num clipe… ou ter uma jukebox sensorial. Vou fazer as três melhores: Siouxsie and the Banhees, Dazzle, porque me faz chorar, Sade, Your Love Is King, porque você fica imediatamente rico ouvindo qualquer coisa da Sade, e Traumer, Triad, porque foi a única que me surpreendeu ultimamente rs.

Traumer – Triad

Music Non Stop – Qual foi o maior bafão que já aconteceu quando você estava fazendo uma porta?

Daniel Raad   Dizem que toda porta que eu estou vira sempre um bafo do bem, se juntar com Luma Assis, piora muito… pra melhor rs. Dois anos atrás, em um clube, um cliente desceu a escada gritando meu nome e quebrou uma garrafa nas minhas costas dizendo que eu era o amor da vida dele, saiu correndo e entrou no táxi. Eu estava trabalhando com uma amiga, que não entendeu nada, pois nada aconteceu comigo e até achamos que a garrafa era cenográfica. Resumindo, nunca o conheci ou o vi novamente.

Dani Raad com Marcelona: dupla de host e hostess que têm muitos bafos pra contar

Em outra ocasião, eu e mais duas amigas saímos da porta do clube umas 8 da manhã e, na frente, várias viaturas da PM. Já achamos que era pra gente kkkkk. A avenida deserta, achamos super estranho, pensei logo que seria uma geral no povo. Na sequência, vejo um maratonista correndo, entrei atrás dele e corri também. Quando olho para trás, as outras duas juntas, na corrida e com torcida na porta do clube. Por fim, chegamos tranquilos no estacionamento, que era a uma quadra e meia do local, com sensação de vitória rs.

Music Non Stop – Você lembra qual foi a primeira festa em que você trabalhou?

Daniel Raad  Foi na Rave Circus em Balneário Camboriú, em 1998.

Na rave que foi seu primeiro trabalho como host, em Balneário Camboriú, em 1998

Music Non Stop – Quem são os seus DJs preferidos e por quê?

Daniel Raad  Gosto de DJs que me surpreendam, não me interessa se é de Berlim, se é novo ou velho, se toca techno ou lambada, gosto de gente boa sem muitos estigmas nem rótulos, só quero música pra dançar! Tenho escutado muito Ryan Smith e RonLikeHell do projeto WRECKED, projetos de synthwave, Honey Dijon, Mathew Johnson, Black Madonna, Seth Troxler, sets antigos do Greg Wilson, os do coração Edu Corelli, Pareto, Marcio Vermelho, Mau Mau, Renato Ratier, Paula Chalup, Tessuto, Lacozta (você me sugeriu um set que ouvi muito, lembra?), Benjamin Ferreira, Dany Bany, Silenzo, Discodromo, Liad Krispin, Rotciv, Marcel Dettmann, Oliver Deutcshmann… são muitos!

Ouça RonLikeHell gravado ao vivo no Wrecked

Music Non Stop – Qual é a parte mais legal de trabalhar na noite?

Daniel Raad  O cachê rs brincadeira. É ver as pessoas dançando e felizes!

VEJA AQUI UMA GALERIA DE LOOK DE DANIEL RAAD E SE INSPIRE!

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Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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