O light jockey Johnson Teles já teve música feita em sua homenagem e é brother dos artistas que passam por sua cabine. Conheça seu trabalho

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Se você é dessas pessoas que reparam no movimento da cabine do DJ e já frequentou clubes como D-Edge, Lov.e e (pros mais velhos) Columbia, B.A.S.E, em São Paulo, vai ser lembrar da figura misteriosa do iluminador Johnson Teles.

Olhando de longe, ele parece mais um DJ na cabine – tem tattoos, cabelo com franjão, barba, é todo estiloso. Na real, tem quem diga que ele é um irmão perdido do chileno Ricardo Villalobos.

Apesar de não ser DJ, a função do Johnson na boate é fundamental para criar a atmosfera da noite. Isso porque, além de light jockey, ele também manja muito de som, e acaba dando toques maravilhosos aos artistas – o produtor L_cio, por exemplo, conta que ele foi o primeiro a dar um feedback sobre seu som, uns bons 10 anos atrás.

Vai dizer que Johnson não tem pinta de DJ?

Acontece que o trabalho de Johnson é tão respeitado que ele acaba sendo uma das figuras mais importantes mesmo da noite. Afinal, se a luz não der o clima perfeito na hora do drop da música, o que seria do trabalho do DJ? Ou imagina aquele momento de dançar deep, na maior instrospecção, e a luz da boate começasse a piscar e rajadas de fumaça invadissem a pista? Flop.

Tem muitas histórias divertidas e outras cabulosas nesses 26 anos de carreira do Johnson, o iluminador que é brother dos artistas mais legais da música eletrônica. Por isso, a gente o elegeu pra ser o personagem desta semana na coluna #MillerMusic. Vem com a gente saber mais sobre ele, mas antes dá um play na faixa que o produtor Propulse fez em homenagem a ele.



Music Non Stop – Como vc foi parar numa cabine de som? Como se iniciou na carreira?

Johnson Teles – Em 1989 fui fazer a instalação da iluminação do Rose Bom Bom, projeto do arquiteto Paulo Milane. Foi quando eu conheci o Angelo Leuzzi (dono do Rose que mais tarde abriria o Columbia). Em 1991, entrei para trabalhar no Columbia a convite do Angelo, à frente da manutenção, das 9h às 17h e sempre no final da tarde chegavam a equipe da montagem de som e luz. Fiquei encantado com os equipamentos de luz, som, mesas, botões, cores, mixer etc, e eles precisavam de uma pessoa da casa que soubesse tudo sobre a parte elétrica do clube! Conversamos e comecei ajudando na montagem do clube e aprendendo ao mesmo tempo. Até que numa terça-feira, noite do Projeto Dance e Arte, do Cesar Semensato, Daniel Almeida e Fran, o iluminador da festa havia sofrido um acidente de carro e estava no hospital e não teria como ir trabalhar!

A pista do clube B.A.S.E, o segundo emprego noturno de Johnson como light jockey

Começaram a procurar um profissional para fazer a luz do desfile e da pista, mas como estava em cima da hora não acharam ninguém pra substituir o iluminador. Estavam até pensando em cancelar o desfile! Daí foi o começo de tudo: eu me ofereci pra fazer o que nunca tinha feito rs! Quando o Angelo me pegou mexendo nos equipamentos ficou louco e pediu pra eu não mexer em mais nada ali. E comentou com o Cesar: o Johnson é um bom profissional, mas na área dele, que é a manutenção! Mas como eu já estava há uma hora fazendo o ensaio com as modelos, o Cesar convenceu o Angelo a ver o ensaio comigo operando a luz. Ufa, ele gostou e aprovou. Daí comecei a fazer todas as terça-feiras. E a turma de quarta, quinta, sexta e sábado viu e também gostou. Aí saí da manutenção e comecei a trabalhar todas as noites. Depois do Columbia fui pra B.A.S.E, Lov.e, Stéreo e agora D-Edge.

Music Non Stop – O que você faz exatamente na cabine? Você se descreve como light jockey, mas você cuida do som também, né?

Johnson Teles – Sim, a maioria do tempo sou light jockey, mas também cuido do som preparando a cabine montando os setups e lives e ligo toda a casa pra abertura.

Todo mundo quer uma foto com Johnson, aqui a galera do rock, a promoter Vivi Flaksbaum e o DJ Focka

Music Non Stop – Você trabalhou no Lov.e muitos anos e depois foi pro D-Edge, dois clubes que ajudam a contar a noite eletrônica de São Paulo. Como se sente fazendo parte importante desse história, mesmo sem necessariamente as pessoas em geral te conhecerem?

Johnson Teles – Eu me sinto abençoado por tido a sorte de trabalhar nos melhores clubes de São Paulo e ter feito os primeiros afterhours do Brasil, no Hell’s Club.

Music Non Stop – Os DJs e produtores têm um respeito enorme por você, como é sua relação noite após noite com eles?

Johnson Teles – Melhor impossível, com muito respeito e carinho.

Music Non Stop – Já disseram que você parece o Ricardo Villalobos?

Johnson Teles – Sim ! O próprio Villalobos olhou pra mim e ficou apontando pra ele e pra mim pra ele e pra mim, hahaha. Eu não sei falar inglês, mas toda vez que ele vai tocar no D-Edge, ele me olha com uma cara divertida e me dá um abraço. Além disso, ele sempre elogia a minha iluminação.

Music Non Stop – Tem alguma história legal de amizade que nasceu na cabine com algum DJ?

Johnson Teles – Meu querido amigo Fabiano Zorzan (Propulse). Ele chegou pra tocar e me surpreendeu falando: fiz uma música pra você! Cara, eu fiquei muito feliz com essa bela homenagem.

Johnson com os DJs Magal e Edu Corelli

Music Non Stop – Como são seus horários de trabalho? Como você faz pra passar tempo de qualidade com sua família?

Johnson Teles – Depende muito do evento, já teve festa que fiquei 24 horas direto, mas geralmente trabalho das 22h até as 5h30. Durmo pouco para aproveitar ao máximo com a família.

Music Non Stop – Qual a sua formação profissional?

Johnson Teles – Não tenho faculdade, fiz alguns cursos.

Music Non Stop – Como você cuida da sua audição?

Johnson Teles – Infelizmente não cuido, ja perdi 40% da audição, são mais de 25 anos nas cabines com os retornos no máximo, se eu abafar não escuto o som da pista. Mas tem o lado bom da história, a minha mulher reclama e eu não escuto hehe.

Light jockey até a alma

Music Non Stop – Já teve que tomar alguma atitude mais drástica porque o artista estava completamente doido?

Johnson Teles – Sim, teve um DJ, que não quero citar o nome. Ele se achou no direito de me puxar pela camiseta e gritar comigo. Dei um tranco nele e saí da cabine.

Music Non Stop – Finalmente, tem alguma dica pra quem quiser tentar a sorte como light jockey?

Johnson Teles – Tem que gostar muito do que faz e abrir mão de muitas coisas, como convívio com a família, amigos, feriados e finais de semanas.

Sacou?

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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