Para além de Pedrinho: 7 canções famosas inspiradas em pessoas reais
Pedro Domingos do Prado ficou famoso na canção da Jovem Dionisio. E está longe de ter sido o único
“Sabe a minha avó? Então, foi ela que inspirou essa música” — devem contar, por aí, netos pelo mundo para incrédulos amigos em alguma festa.
De fato, muitas da inspiração para letras e canções vêm de fatos, e também pessoas, reais. Pedro Domingos do Prado, o Pedrinho que inspirou a Jovem Dionisio, faleceu na noite dessa segunda-feira (25), aos 65 anos, deixando um legado inimaginável para o grupo curitibano, que bombou no ano passado com Acorda, Pedrinho — canção inspirada no curioso hábito de Pedro em tirar cochilos no boteco e jogar sinuca.
Mas além dele, há muitos outros. Histórias trágicas, grandes homenagens e até sacanagens sem tamanho.
Veja abaixo outras sete músicas famosas inspiradas em pessoas reais!
O samba do Arnesto
Adoniran Barbosa encontrou Ernesto Paulelli em um boteco no centro de São Paulo, em 1938. Lá pelas tantas, virou para o amigo e, ao se despedir, disse-lhe: “Arnesto, vou fazer um samba pra você”.
Incrédulo, já que Barbosa era um baita contador de histórias, seguiu com a vida. Até que ouviu no rádio a música Samba do Arnesto, e reparou em seus versos: “Arnesto nos convidou prum samba, ele mora no Brás. Nós fumo e não encontremo ninguém…”
A música contava a história de um cara que deu uma baita mancada nos amigos. Tudo só piorou quando Adoniram confirmou a história da música e ainda entregou quem era o “homenageado”. Paulelli, claro, ficou puto. E quando encontrou o autor pessoalmente, foi tirar satisfações.
O cantor, sem perder a malandragem, justificou ao amigo, sorrindo: “Arnesto… você sabe como é! Sem mancada, não dava samba!”.
Morte a 170 quilômetros por hora
A Day In The Life, dos Beatles, funciona quase como um noticiário de jornal. Foi lendo o inglês Daily Mirror, por sinal, que John Lennon soube da morte de Tara Browne, herdeiro da fortuna gerada pela cervejaria Guinness.
Tara bateu seu carro, que dirigia sob efeito de álcool e drogas, em um cruzamento em Londres. Estava com a modelo Suki Potier, que acabou sobrevivendo ao terrível acidente, em dezembro de 1966.
Ambos eram figuras chave do cenário de contracultura inglês conhecido como Swingin London.
“Ele estorou os miolos em um carro. Não notou que o semáforo havia fechado. Um monte de gente parou pra ver. Eles já tinham visto aquele rosto antes”, cantou Lennon.
De olho na mulher do amigo
Leonard Cohen foi amigo, na década de 60, do escultor canadense Armand Vaillancourt. No entanto, nos encontros com o camarada, a escultura que mais apreciava era sua namorada, a dançarina Suzanne Verdal.
Cohen cultivava um amor platônico pela garota e, como dizia Roberto Carlos, “amando loucamente a namoradinha de um amigo meu”, compôs e lançou, em 1967, Suzanne. Com esse título mesmo, para não deixar dúvidas.
Na música, canta “e você então quer viajar com ela. Você quer viajar sem destino. E você sabe que ela vai confiar em você, que tocou seu corpo perfeito com a mente”.
Quem nunca? Quem sempre!
Publicar um poema para a namorada do amigo, sendo você o Leonard Cohen, é golpe dos mais baixos da história da música. Quem resistiria?
Tanto que, em seu website, Verdal se intitula “artista, dançarina e musa de Leonard Cohen”.
É pra mim ou não é, caraca?
Quando se trata de David Bowie, é claro que a coisa não seria simples. Quando ele lançou The Jean Genie no álbum Alladin Sane, Cyrinda Foxe, uma das criadoras do clube nova-iorquinho Max’s Kansas City, sacou na hora que a música era pra ela.
Afinal, Bowie disse que faria uma canção para Foxe, e ainda perguntou, quando a visitou no Max’s: “que tipo de música você quer?”. Foxe respondeu preferir algo no estilo dos Yardbirds, e revelou, em entrevistas posteriores, que, realmente, a canção tem muito da banda.
Apesar de ter confirmado a história à época, Bowie acabou revelando que, quando escreveu a letra, estava pensando, na verdade, em Iggy Pop, figura tão intensa e ácida quanto os versos da música. “Comendo todas as giletes e puxando os garçons.”
A amizade entre os dois estava começando, e Iggy, no auge da loucura, era um furacão na noite de Nova Iorque.
Tem mais: “Jean Genie”, o título da canção, refere-se ao poeta e dramaturgo francês Jan Genet.
Geno, Geno, Geno!
Geno Washington, soulman lider do The Ram Jam Band, está longe de ser uma pessoa “comum”. No entanto, a homenagem apaixonada que recebeu em um dos maiores hits da banda Dexys Midnight Runner, de Manchester, fez, sim, com que o cara fosse eternizado e procurado por toda uma nova geração de jovens. E isso acontece até hoje.
A letra de Geno é um tributo à influência máxima do grupo. E a beleza de versos como “inspiração acadêmica não me trouxe nada. Mas você, sim, o lutador que venceu”; ou “você me alimentou, me criou, e eu sempre vou lembrar seu nome” figuram em uma canção que conta a história de uma noite em que o vocalista Kevin Rowland assistiu a um show de Geno.
Vai, furacão!
Assim como A Day In The Life, Hurricane, a canção de onze minutos de Bob Dylan, também é baseada em uma história jornalística.
Dylan leu a autobiografia de Rubin “Hurricane” Carter, um boxeador que foi injustamente preso, acusado de assassinar três pessoas em uma lanchonete norte-americana.
Em seu livro, Carter descreve as inconsistências absurdas que rolaram, tanto em sua prisão quanto no julgamento, mais um exemplo do latente racismo na sociedade da época. Dylan então se uniu a Jacques Levy para escrever a letra, eternizando não só o episódio, como também a figura de Hurricane Carter, uma vez que a música se tornou um dos grandes sucessos da discografia do cantor.
“Esta é a história de Hurricane, um cara que as autoridades resolveram acusar de algo que ele nunca fez. O jogaram numa cela, e ele poderia ter sido, um dia, campeão mundial” — contou Dylan.
Carter ficou 15 anos na cadeia e só foi solto em 1985, após a anulação de seu julgamento.
Saia justa
Uptown Girl colocou seu autor, Billy Joel, em uma tremenda saia justa. Traduzindo para o idioma sãopaules, a música fala de um cara da periferia que é gamado em uma patricinha de Moema. E isso gerou uma curiosidade geral. Quem é a garota impossível para o pobretão da canção?
O amigo Howard Stern, que andava com Joel na época em que a música foi composta, conta que o cantor estava falando da modelo nova-iorquina Christie Blinkey. Tempos depois, a imprensa fuxiqueira se lembrou que, quando a música foi escrita, Billy Joel namorava outra modelo rica, Elle MacPherson.
Então a confusão se formou. Ou Joel estava de olho em outra garota enquanto namorava MacPherson, ou estava detonando a própria namorada na canção.
A confusão só foi desfeita anos depois, quando Joel e Stern revelaram os bastidores da criação. Quando bebiam juntos na casa de Joel, falavam sobre garotas de uptown, parte rica da cidade. Howard Stern então disse: “será que um dia seria possível a gente sentar na mesma mesa que Elle, Christie e Whitney Houston”?
Billie foi então ao piano, e começou a escrever a música Uptown Girls. Assim mesmo, no plural. Foi a mudança de última hora na gravação, mudando a letra para o singular, que incendiou a fogueira.
“Vou tentar arrumar uma garota de uptown. Ela tem vivido em seu mundo de pães branquinhos, assim como alguém de sangue quente pode. E agora, ela está procurando por um cara de downtown. É isso o que eu sou.”