Com mais de 300 mil pessoas em três dias, Lollapalooza 2022 encerra com nomões do hip hop como escolha da homenagem a Taylor Hawkins

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Último dia do Lollapalooza 2022 tem uma confusa homenagem ao baterista Taylor Hawkins, do Foo Fighters, morto na véspera do festival. O resultado foi boa parte do público indo embora mais cedo.

A noite de domingo nascia com um confortável friozinho e nuvens cinzas e pesadas pairavam sobre o ar, mas o que caiu, não foi somente água. Choveram pontos de interrogação na cabeça das pessoas que ficaram até o final do festival em frente ao palco Budweiser para assistir ao show em homenagem a Taylor Hawkins no horário que seria do Foo Fighters, às oito e meia.

A nata do rap brasileiro estava lá: Emicida, Mano Brown, Criolo, DJ Nyack, DJ KL Jay, Bivolt, Drik Barbosa e Rael. A apresentação seria encerrada com um show do Planet Hemp.  Todos talentosos, guerreiros, merecedores daquele e de qualquer outro palco dos grandes festivais que rolam no Brasil. No entanto, posiconar o pelotão de elite do rap nacional para homenagear uma das maiores bandas de rock de todos os tempos pareceu fora de lugar.

Todos os holofotes, vibrações, sentimentos e lágrimas deveriam ser direcionadas a Hawkins e em solidariedade aos parceiros do Foo Fighters. Na abertura do show, a guitarrista Mônica Agena cantou e tocou My Hero, chamando a galera que pagou para ver a banda e resolveu não pedir o reembolso para perto do palco. Também presente na homenagem, a banda brasileira Ego Kill Talent tocou uma versão redonda de Everlong no finalzinho, antes da tradicional queima de fogos que encerra o Lollapalooza.

A partir daí a apresentação começou a ir para outra direção. Emicida foi chamando convidados para o palco, mandando faixas como o Hip Hop é Foda, política, protestos, colocações sobre a dureza do povo periférico. Nenhuma palavra fora do lugar. Afinal, este é o papel da cultura hip hop e é por isso que ela conquistou a todos. O problema é que Taylor Hawkins, que de periférico não tinha nada, muito menos de rap, acabou sendo empurrado para fora do festival como as nuvens que passaram por ali. Vários convidados nem sequer citaram o nome de Hawkins durante o seu feat.

Quem apareceu para levantar a plateia foi Marcelo D2 e o Planet Hemp.  D2 teve a consciência e a elegância de lembrar a todos o motivo de estarem ali. Abriu um show com um discurso bastante emotivo sobre a morte do músico, lembrou da dificuldade que os artistas enfrentam e estendeu sua dedicatória a outros que também foram embora cedo, como Chico Science e Sabotage. O Planet Hemp mostrou saber quem era Taylor Hawkins e que realmente sentiam a perda.

Como era de se esperar, o público (já menor, uma vez que as pessoas estavam aproveitando o momento para deixar o festival mais cedo) recebeu os hits do Planet Hemp de braços abertos, mostrando o quão grandes foram entre os anos 90 e 00.

Tarde com chuva, queda de sistema e ótimos shows

Djonga

Djonga – foto: divulgação Lollapalooza

A chuva, ainda que indecisa, causou contratempos na tarde de domingo. Derrubou o sistema que controlava a entrada, fazendo com que milhares de pessoas ficassem paradas em filas do lado de fora do autódromo. Alguns shows sofreram pequenos atrasos, pois havia iminência de tempestade.

Pelo terceiro dia consecutivo, o festival estava lotado. A imensa quantidade que gente que aproveitava o domingo não teve problemas com alimentação, banheiros e demais facilidades, o que é um senhor ponto positivo para um evento deste tamanho.

Idles fez um show incrível e frenético. Eis uma atração que poderia ter sido movida para o último horário.  O vocalista Joe Talbot fez o público cantar em uníssono o nome de Taylor Hawkins várias vezes durante a apresentação.

Com um público surpreendentemente grande, Black Pumas mandou uma apresentação emocionante, cheia de soul no mais puro significado da palavra.  Os brasileiros Marina Sena, Djonga, Gloria Groove (que superlotou a plateia no palco Perry) e o haitiano-canadense Kraytranada fizeram bonito e foram grandes destaques deste domingo.

Com alma lavada e ossos doendo, esperaremos o próximo Lollapalooza, desta vez com menos percalços para a organização (muita gente estava com o ingresso comprado desde 2019, esperando a edição adiada por causa da pandemia). Se há um ponto positivo a ser destacado, foi a habilidade da organização em manter tamanho festival em pé debaixo de tanta pancada.

Em sua nona edição no Brasil, o Lollapalooza recebeu um total de 302.235 que puderam consumir mais de 68 horas de música nos três dias do festival. Na sexta (25), foram 100.980 pessoas. O sábado (26) contou com 103.000 pessoas e o último dia, domingo (27), teve 98.255 pessoas.

Confira também a cobertura de sexta e sábado.

 

 

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Fotos: divulgação Lollapalooza

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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