Lollapalooza 2022. Foto divulgação

Lollapalooza 2022. Primeiro dia do festival começa com tempo celebração e sucesso de público. E termina em luto.

Jota Wagner
Por Jota Wagner

A primeira noite da tão esperada edição brasileira do Lollapalooza começa com tempo bom, shows incríveis e sucesso de público. Mas termina com um tremendo banho de água fria: a morte de Taylow Hawkins, baterista do Foo Fighters, principal atração do festival

O primeiro dia do festival Lollapalooza 2022 precisa ser relatado ao contrário. Do final para o início.

Em meio à multidão que retornava para casa formando uma procissão de festeiros esgotados, o assunto era o mesmo: a morte de Taylow Hawkins, baterista do Foo Fighters, encontrado morto em um quarto de hotel em Bogotá, aos 50 anos. A banda, responsável pelo grande final do festival, faria o último show do Lolla no domingo à noite. A turnê sul-americana foi imediatamente cancelada e a banda já marcou seu retorno aos EUA.

Lollapalooza 2022. Foto divulgação

O protagonismo de sexta-feira, primeiro dia do festival, foi dado à cultuada banda The Strokes, responsável há 20 anos pela retomada do rock como fenômeno jovem em seu aclamado Is This It. Mais do que acostumados a grandes festivais, a banda de Julian Casablancas fez um show cansado, com a vibração de quem bate o cartão segunda-feira no escritório de contabilidade. Indiferente, talvez, para os milhares de fãs que esperaram para ver o grupo, que mandou um biz (raro no Lolla) tocando New York City Cops, reservando uma alegria extra a quem teria de encarar a muvuca do metrô.

Ao contrário da experiência globetrotter dos meninos, Doja Cat aproveitou sua estreia no Brasil para roubar a noite. Acompanhada por um mar de gente, não escondeu a emoção de ser recebida pela multidão, declarando seu amor pelo país, pela plateia, e quebrando o coreografado roteiro do show com sorrisos deslumbrados. A garota roubou a noite, sabia disso e não escondeu o sentimento. E o público retribuiu.

A noite rolou quente e seca, para tristeza dos vendedores de capa de chuva. Uma multidão que superava a maioria dos municípios do país transitava de um lado para o outro do imenso, imenso autódromo de Interlagos. A oferta de luzes coloridas, logotipos, lounges e fogos de artifício completavam a “experiência” do festival, que envolve passar a maior parte da noite circulando atrás de bebida, comida, banheiro e palcos, enquanto se ouve pedaços de shows que rolam neste universo projetado para extrair de nós toda e qualquer energia disponível.

Caribou, queridinho máximo da nação Music Non Stop, aconchegou a noite quente que chegava com uma apresentação que uniu a dance music noventona com maquiagem psicodélica, fluída e elegante. Sun, seu hit absoluto no Brasil, ganhou uma execução eterna que honrou a sinergia astral que regia tudo o que estava acontecendo por ali.

Caribou. Foto reprodução

A primeira impressão que toma conta de quem chega ao festival é justamente sua magnitude. O Lollapalooza, mais do que qualquer outro rolê em São Paulo, toma conta da cidade. O evento criado por Perry Farrell em 1991, com o propósito de ser uma turnê de despedida de sua banda, a Jane’s Addiction, acabou se tornando uma das maiores potências festeiras do planeta, retardando até o próprio fim da banda, que sempre se apresenta em suas edições pelo mundo.

Triste coincidência é o fato de que o próprio Jane’s Addiction cancelou sua apresentação às vésperas do festival, assim como os australianos do King Gizzard & The Lizard Wizard, devido à infecção de Covid19, vírus que retardou a edição do festival em quase três anos em São Paulo.

Apesar do clima generoso, uma estranha nuvem circula o festival do autódromo de Interlagos.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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