Frank Farian Foto: Reprodução

Quem foi Frank Farian, polêmico produtor que criou o Milli Vanilli

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Profissional da indústria, que trabalhou com nomes como Boney M e Stevie Wonder, faleceu aos 82 anos na última terça-feira (23)

Podemos dizer que existem dois tipos de produtor musical. O que se enfia no estúdio com os artistas para gravação de seus álbuns, compartilhando sua experiência técnica e artística para dar aquele “talento” nos arranjos e gravações previamente compostas, e aqueles que dão um passo para trás no processo: farejam buracos no mercado da música, sons e personagens que o público quer, mas ainda não encontra no cenário musical, e “inventam” uma nova banda para tapar esse buraco (e ganhar rios de dinheiro). Este era o caso do polêmico Frank Farian, falecido ontem (23) aos 82 anos.

Apesar de já ter trabalhado com grandes nomes, como Stevie Wonder e Meat Loaf, foram as suas “criações” que mais lhe renderam sucesso financeiro, além de processos judiciais e muita dor de cabeça. Foi ele quem viu, em dois ambiciosos garotos negros na Alemanha, uma oportunidade em transformá-los em estrelas mundiais. Assinou um contrato com o Milli Vanilli, impediu-os de cantar no próprio disco, contratando músicos de apoio para gravar suas vozes e obrigando-os a dublar nos shows e, quando a farsa foi descoberta, tirou o corpo fora, jogando os meninos aos lobos.

Repetiu a fórmula que já havia usado com o grupo de disco music Boney M, cujo líder Bobby Farrell também dublava todas as canções no palco. Em ambos os casos, só se esqueceu de avisar o público. No caso de Milli Vanilli, os fãs se sentiram traídos, a ponto da dupla ter sido obrigada a devolver o Grammy que havia ganhado em 1990.

Farian não foi o primeiro produtor musical a criar grupos sob encomenda. Phill Spector, icônico nome do cenário musical, já o fazia desde os anos 50. Praticamente todas as boybands que você curtiu na adolescência também passaram pelo mesmo processo, incluindo as coreanas que hoje arrastam consigo milhões de fãs.

A diferença é que, nestes casos, os artistas tinham realmente algum talento. E, claro, existem milhares de grupos musicais fabricados no mundo da música pop. Mas o “azar” de Farian foi que Milli Vanilli ficou grande demais.

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Muitas das táticas usadas pelo produtor alemão acabaram se popularizando após os anos 90, com truques de estúdio que acabam sendo levados para o palco, com a intenção de cobrir algumas insuficiências técnicas de artistas que, por exemplo, podem ser bons compositores ou ótimos dançarinos, mas fracos nas performances ao vivo.

Se Milli Vanilli existisse hoje, passariam longe da execução pública que sofreram. E, talvez, estivessem nas mãos de Frank Farian até seus últimos dias de vida.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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