Du Serena, da Be On Entertainment, fala sobre curadoria e produção do festival, que rola neste sábado (18)
Um dos maiores festivais de house e techno do mundo, o holandês DGTL rola no Brasil desde 2017. No entanto, foi depois da edição 2019, que recebeu muitas críticas em termos de infraestrutura e organização, que a Be On Entertainment, de Du Serena, Silvio Conchon e Edu Poppo — responsável por festas e festivais conhecidos da cena eletrônica nacional, como Tribe e Warung Tour São Paulo —, assumiu as rédeas do evento.
Em 2022, o primeiro DGTL São Paulo sob nova direção foi bastante bem-sucedido, e a empresa ganhou a confiança para seguir com a licença da marca holandesa. E assim como bandas e músicos costumam ser testados pra valer em seus segundos álbuns, vamos descobrir na noite deste sábado, 18, no Complexo Canindé, se a produtora continua com o bom trabalho.
Abaixo, você lê o papo que bati com Du Serena para saber mais sobre a produção, curadoria e novidades deste DGTL. Já Jota Wagner conversou com Breno Prince, diretor de sustentabilidade da Be On, sobre o tema. Leia aqui.
Flávio Lerner: Depois de uma edição com muitas reclamações de infraestrutura, vocês assumiram o DGTL em 2022 e nitidamente melhoraram a experiência. Qual o segredo?
Du Serena: Na verdade, a gente está seguindo o nosso padrão. Não tem muito segredo. A gente se preparou muito para o pós-pandemia. Quando os eventos voltaram, é nítido como o nível da entrega que a gente fazia subiu, graças a um time muito bem preparado.
Claro que os holandeses nos ajudam muito em tudo, principalmente na experiência de luz e de som, que é uma característica muito forte do DGTL, mas a gente já está num modus operandi de entrega do nosso padrão.
Ainda assim, muita gente reclamou dos preços nos bares, sobretudo da água, como tem rolado em outros festivais. Nada pode ser feito em relação a isso?
Eu nem vi que reclamaram sobre a água. Acho, sinceramente, que é um padrão dos nossos eventos, não são preços que estão fora da realidade. Não existe almoço grátis, né? Não dá pra exigir estrutura, line-up, som e luz de primeira qualidade e não querer pagar por isso. Existe uma matemática para sustentar tudo que é feito aqui dentro, e parte dela é no bar.
Na verdade, os preços das coisas só sobem, né? Pós-pandemia, o valor dos DJs triplicou, o dólar subiu pra caramba, os nossos fornecedores aumentaram de valor, porque está tudo mais caro. O cobertor é curto, tira dali e põe daqui. Não tem muita mágica a ser feita.
Como funciona a curadoria?
É feita em quatro mãos [os três sócios da Be On mais os holandeses]. A gente fala que precisa abrasileirar — tropicalizar — o DGTL, porque há coisas que funcionam lá que não funcionam aqui e vice-versa, e eles entendem isso.
A gente se dá muito bem. Conhecemos muito bem a marca, sabemos o que funciona, o que não funciona, o que a gente pode fazer, o que a gente não pode… Há algumas exceções de sugestões de artistas que a gente dá e eles não aceitam. “Ah, esse cara não combina com a nossa marca.” Mas é um que outro.
A proposta é trazer música nova, artistas novos — se possível, que nunca vieram para o Brasil. Valorize quem te mostra música nova, não é? E o DGTL faz essa parte muito bem.
Até que ponto a Be On tem respaldo para definir esse planejamento e fazer as escolhas artísticas?
Temos uma liberdade razoável, principalmente em produção. A marca é deles, e a gente tem uma licença de operar no Brasil. Mas eles confiam bastante em nós depois da edição do ano passado — tanto que o time de produção nem veio fazer um checklist preview, como tinha feito em 2022. Mas quando é sobre o lado artístico, aí realmente é uma coisa mais em conjunto.
Existem parâmetros pré-estabelecidos? Do tipo, X% das atrações vai ser do estilo tal, X% vai ser de artistas mulheres, X% de brasileiros…?
Sim, tem isso. Um dos pilares do DGTL é a diversidade, a inclusão. Eles querem dar voz para as mulheres, para todos os tipos de pessoas, e levam isso muito, muito a sério.
E eu acho legal também que eles querem dar slots de headliner para os brasileiros, o que é muito difícil de ver nos outros festivais, mesmo os daqui.
Não lembro exatamente se a ideia foi nossa ou deles, mas o fato é que tá sendo aplicada e a gente vai manter.
Quais você considera que serão os grandes diferenciais do DGTL São Paulo 2023?
Primeiro é o design de luz, do Bob [Roijen, stage designer do DGTL], que cria uma identidade muito poderosa. O outro é a ideia de trazer artistas novos. Acho que 90% dos artistas do palco Boiler Room, as pessoas não conhecem.
E mais a parte de inclusão e sustentabilidade. Sustentabilidade é um assunto que hoje está muito em evidência, é um assunto que a gente vai ter que tratar com extrema seriedade daqui pra frente. A geração nova… A minha filha tem oito anos, se eu deixo a torneira pingando, ela fala: “papai, não pode, vai acabar a água do mundo!”. Meus sobrinhos, de 18 anos, também são muito preocupados com isso.
Tive o prazer de ir duas vezes na Holanda, e meu… Eles estão a anos luz da gente. Nós fazemos 50%, 60% do que a gente poderia fazer e do que eles fazem lá. Mas as coisas que estamos fazendo aqui são muito legais, né? Hoje a gente tem uma pessoa gabaritadíssima, como o Breno, para cuidar desse setor. Porque ou a gente faz isso, ou o planeta vai falecer.