Banda que teve Radiohead como abertura retorna depois de 30 anos
Hard Light marca a volta do Drop Nineteens, um dos mais importantes grupos do shoegaze
O Drop Nineteens é uma banda norte-americana de shoegaze de Boston, Massachusetts, formada em 1990 pelos colegas da Universidade de Boston, Greg Ackell e Chris Roof. Os dois recrutaram Paula Kelley, Motohiro Yasue e Steve Zimmerman para dar início ao projeto.
Originalmente ativo de 1990 a 1995, o grupo passou por mudanças significativas na formação após o lançamento de seu álbum de estreia, Delaware, em 1992. Depois de ficar praticamente dois anos fazendo turnês pela Europa e Estados Unidos, alcançou muito sucesso na Inglaterra, chegando a abrir shows das turnês Modern Life Is Rubbish, do Blur e Rid of Me, da PJ Harvey; e tendo até o Radiohead como banda de abertura de seus próprios shows.
Até que um turbilhão de acontecimentos chacoalhou demais a cabeça de alguns integrantes. A vida na estrada não é para todo mundo, embarcar numa turnê é como mergulhar no escuro para alguns. Desentendimentos levaram a baixas significativas. Saíram Paula Kelley, Motohiro Yasue e Chris Roof. Em seu lugar, entram Megan Gilbert, Justin Crosby e Pete Koeplin.
Em 1995, com dois álbuns lançados, o Drop Nineteens se dissolveu, voltando somente em 2022, quando Ackell anunciou a sua reforma, com formação similar à original. E agora, em novembro de 2023, o grupo lançou seu primeiro material novo em 30 anos, através do terceiro álbum, Hard Light.
Hard Light
“Tenho lutado para encontrar uma resposta para a pergunta: ‘por que agora?’. Qual foi o catalisador para voltarmos depois de tanto tempo?. A melhor resposta que posso dar é que este foi o primeiro momento na minha vida, desde que parei de fazer música, em que fiquei curioso para ouvir como o Drop Nineteens poderia soar. E só havia uma maneira de descobrir!” — Greg Ackell.
Quase 30 anos depois de seu canto de cisne não intencional, portanto, o Drop Nineteens está de volta com um novo álbum. Ackell e Zimmerman se reuniram com a guitarrista e vocalista-fundadora Paula Kelley e o guitarrista principal Motohiro Yasue; o baterista da era National Coma, Pete Koeplin, completa o quinteto.
Boa parte do público original da banda sobreviveu ao tempo para abraçar esse novo trabalho, que tem tudo para atingir ainda mais pessoas, provocando uma renovação completa.
Um álbum que começa com um dedilhado de guitarra já ganha muitos pontos comigo, ainda mais se ele tiver aquele timbre que fez com que a sonoridade do grupo se tornasse cultuada por tantas décadas. Durante os 50 segundos iniciais de Hard Light (tema que dá nome ao álbum), um sentimento melancólico e triunfante toma conta: 30 anos depois, a magia shoegaze voltou!
Scapa Flow foi o primeiro single que a banda divulgou depois que anunciou a sua volta, em 2022. A faixa veio acompanhada de um videoclipe dirigido pelo próprio Ackell, que traz imagens antigas de um naufrágio — “Scapa Flow” é o nome de um braço de mar localizado na Escócia.
A parti daí, vem uma sequência com três de minhas preferidas. Gal começa com uma batida leve e sequenciada de bateria, enquanto as guitarras vão deslizando, diluíndo noises etéreos e densos… A música apresenta o novo lado do Drop Nineteens. Um frescor!
Logo depois, entra Tarantula, com uma pegada que me lembrou uma fase boa do Ride, mas com os vocais característicos de Greg Ackell e um refrão que gruda na cabeça e bota a gente para assobiar. O jogo de guitarras dessa música também é marcante.
Fechando a trilogia, chega a primeira com os vocais totalmente comandados por Paula Kelley: The Price Was High é deliciosamente dançante e mostra uma faceta mais pop da banda. A música foi escolhida para ser o terceiro single de trabalho e ganhou um belo videoclipe, protagonizado por Paula.
Rose With Smoke é um interlúdio — pelo menos, foi assim que senti ao perceber que eles colocaram uma música instrumental no meio do álbum. Sua espinha dorsal é um dedilhado de guitarra, e a psicodelia dos Nineteens permeia ao fundo em camadas etéreas e impregnadas do mais puro shoegaze.
Mais uma que virou single, A Hitch mescla o que há de melhor na identidade do grupo, calcada entre os álbuns Delaware (1992, Caroline Records) e National Coma (1993, Caroline Records). Aqui, percebemos um excelente jogo de guitarras, com destaque para o trabalho do guitarrista Motohiro Yasue, que devolve os Nineteens direto ao posto de onde nunca deveriam ter saído.
Lookout é uma espécie de baladinha com violões. E Another One Another talvez seja uma das músicas que mais tem a ver com um recomeço; é um tema feliz, radiante, estradeiro. A letra é tão legal e o jeito como é executada é tão delicioso, que eu a teria escolhido como single.
Policeman Getting Lost começa com violões e a voz doce de Paula — é uma baladinha triste e ótima para ouvir no fim do dia (ou no começo de uma nova manhã). Paula Kelley deveria cantar mais.
Fechando com T, o disco mostra mais uma vez a identidade sonora presente em Delaware de uma maneira repaginada e atual. É puro suco de Drop Nineteens: um shoegaze psicodélico, doce e etéreo, com as guitarras dronadas em forma de mantra noise, os vocais divididos entre Ackell e Kelley, as tramas de Steve Zimmerman e Pete Koeplin.
Como é bom ver uma de suas bandas preferidas voltar, ainda mais dessa maneira, com uma obra beirando a perfeição! Hard Light não é um álbum qualquer. Ele marca a volta de uma das bandas mais importantes do shoegaze norte-americano.