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TUM, de Lovefoxxx (CSS) e Chuck Hipolitho, traz amor indie com a cara de SP

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Um amor, que começou como flerte na noite paulistana há 20 anos, virou banda com disco e gigs importantes no CV

O TUM já nasceu estrelado. Formado por Lovefoxxx (Cansei de Ser Sexy) e Chuck Hipolitho (músico com longa estrada no underground paulistano), o duo tem um aninho de vida e já apresenta um CV de respeito: estreou nos palcos no festival Popload, em outubro de 2022, sua primeira vez no rádio foi “apenas” na emissora inglesa BBC 6 e, no último fim de semana, debutou em solo pernambucano com um show intimista na edição de 20 anos do festival Coquetel Molotov, em Recife.

15 dias antes, havia se apresentado em outro ótimo festival do NE, o Mada, em Natal/RN.

Trecho do programa de Chris Hawkins na BBC 6 com a faixa Moana, do TUM

Estava ali sentada vendo o show da dupla no Coquetel quando pensei o quanto Lovefoxxx e Chuck são a cara de São Paulo. Ambos foram e são lendas da cena indie da cidade, e foi nesse cenário que em um belo dia, 20 anos atrás, se conheceram e se apaixonaram. Depois, se perderam. E foram se encontrar por acaso na rua, em 2022. Bateu (tuuuuum) aquele clima de novo, e eles não se largaram mais.

Chuck e Lovefoxxx, o TUM. Foto: Jazzie Moyssiadis/Divulgação

Em outubro de 2023, a dupla lançou seu primeiro disco, GEMA, que foi composto com Chuck e Lovefoxxx a 700 km de distância, cada um em seu respectivo quarto/estúdio. Na noite dessa quinta (26), aconteceu o quarto show oficial da dupla, no Artsy Club Studio, em São Paulo, dentro do projeto Artsy Club Live.

Fiquei supercuriosa para saber como essa história de amor engatou e virou música. Abaixo, um resumo do bate-papo que rolou em Recife, no camarim, logo após o show no Coquetel Molotov.

Music Non Stop: Primeiramente, queria perguntar da onde veio essa ideia de vocês se juntarem — ou se vocês nunca se desjuntaram. Como é que é?

Chuck: A gente se conheceu há mais de 20 anos, em 2001. A Luísa [Hanaê Matsushita, a Lovefoxxx] me reconheceu na Rodoviária Tietê e veio falar comigo. A gente engatou um romance na época, se via de vez em quando, se falava. Quando se encontrava, além de transar, a gente falava muito de música, que era uma inspiração pra ela e tal. Isso foi antes do Cansei de Ser Sexy. A gente se reencontrou na rua, casualmente, e começou a se aproximar cada vez mais. Ela me mandou um “oi” e eu falei: “nossa, não vou perder a chance de me reconectar com ela!” — era tudo o que eu mais queria!

Lovefoxxx: Nessa época eu era assistente do [estilista] Caio Gobbi, eu na B.A.S.E., [Director’s] Gourmet, Torre, sabe assim? Só pra uns lugares muito gays, de música eletrônica. Quando eu conheci o Chuck, comecei a ir pros lugares de rock, Funhouse, Sub Jazz, Orbital… Eu tinha 17 e amava essa cena bem gayzona.

Chuck: E eu já tinha banda, o Forgotten [Boys], e achava que para a Luísa não era um lugar legal de ela estar, sei lá. Uma hora, a gente acabou se afastando, e ficamos 20 anos sem nem se falar. Daí, rolou o sucesso do Cansei. Via a Luísa acontecendo de várias maneiras. Ela foi pra outro planeta, né?

Eu sempre a tive na memória como uma pessoa que passou pela minha vida e que eu achava muito incrível. Me sentia privilegiado de ter feito parte de um começo dela. Mas eu lamentava muito não ter mais contato. Cheguei a procurá-la, mas era impossível chegar nela. Chegou uma hora que era só através de, sei lá, escrever para um empresário…

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Foto: Jazzie Moyssiadis/Divulgação

Lovefoxxx: É que eu não leio e-mail, não respondo, sabe? Não vejo TV, não sou uma pessoa muito fácil de de se comunicar. E também morei um tempo fora do Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, a gente fazia muito show fora. Mas, em 2015, eu voltei. Foi quando decidi ir morar na Amazônia, comecei a pintar, e daí a gente se encontrou em 2016.

Music Non Stop: Depois vocês perderam contato de novo?

Chuck: Eu tentei manter contato, tentei continuar falando, puxando algum papo, pra ver se tinha alguma conexão, mas ela não tava em SP…

Lovefoxxx: Fui pra Amazônia e depois eu vendi tudo que eu tinha. Vendi um apartamento com máquina de lavar, geladeira, e fui para o Sul. Comprei um terreno, enquanto isso o Chuck ia me escrevendo. Eu não estava respondendo… Daí, em 2022 o Popload chamou o Cansei pra tocar no festival e vim pra São Paulo…

Chuck: Foi aí que eu pensei: “essa é a minha chance”. Aí eu falei: “meu, e aí? Vamos marcar?”. Eu nem pensava que iria encontrar a Luísa e engatar um romance logo. A gente se reencontrou ali no bar Bandeira Bandeira, matou a saudade, ficou conversando, bebeu, e depois nunca mais se separou. Isso foi em julho.

Ela estava morando em Garopaba/SC, e a gente foi se reencontrando cada vez mais, conversando, matando a saudade, sabendo cada vez mais o mundo da vida do outro.

A gente queria ficar tanto perto um do outro o dia inteiro, que a gente começou a fazer música.

Lovefoxxx: Eu estava pintando, e aí eu fiz uma música com a [musicista e skatista] Karen Jonz, porque se eu gravasse os vocais, ela me pagaria uma passagem para eu vir e ficar com o Chuck. Aí eu gravei e me diverti muito. Só que ele tem cinco bandas, né? Pensei que não fosse querer fazer música, mas ele falou “sim” na hora.

banda Tum

John & Yoko? Foto: Jazzie Moyssiadis/Divulgação

Music Non Stop: Como foi o processo de fazer música juntos?

Chuck: A gente começou a trocar bases. A Luísa só trabalha com sentimento, né? Então começaram a vir músicas que tratavam da gente, do nosso passado, do nosso presente — coisas que não eram o que ela estava habituada a escrever. Então a gente começou a fazer um negócio que era novo e original pra nós dois, e aí foi aparecendo o TUM.

Music Non Stop: E esse nome?

Chuck: TUM era o nome da pasta com as músicas.

Lovefoxxx: Sabe assim, quando você está assistindo um drama, quando está vendo o Jurassic Park, e aí os dinossauros saem do controle? Daí vem tipo um subwoofer que faz “TUUUM”, tipo, para anunciar uma coisa que vai acontecer? Tipo assim: “Ah, a calcinha caiu no chão, TUM!”.

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Foto: Jazzie Moyssiadis/Divulgação

Music Non Stop: É tipo a onomatopeia do bafo!

Lovefoxxx: Arrasou! Daí a gente foi fazendo as músicas pra nós mesmos, não fizemos pensando em mostrar pras pessoas. Fizemos em dois meses as sete músicas do álbum, compartilhamos com o Lúcio [Ribeiro] e ele falou: “pô, vocês querem tocar no Popload?”. E assim foi!

Ganhamos 40 minutos pra tocar no festival, e nem tínhamos todas as músicas. Era um negócio super-íntimo que falava da gente, e tinha show marcado. Aí a gente foi indo, né? Voltei pra São Paulo de mala, cuia e os meus gatinhos, nosso filhos biológicos.

Chuck: A gente tá morando lá no apartamento onde eu já morava.

Music Non Stop: E você lançaram de forma independente o disco, né?

Chuck: A gente tá gostando de performar, mas é emoção mesmo. Adoramos fazer as coisas da banda, mas zero compromisso com tudo que todo mundo acha que tem que ser feito para ter banda.

Não queremos assinar contrato com ninguém, porque nós vamos lançar a música do jeito que a gente quiser. Se a gente quiser publicar um peido, a gente publica e apaga no dia seguinte. Nada mais punk, viu? Eu também comecei a trabalhar num estúdio…

Lovefoxxx: E no final do ano a gente vai fazer o show do CSS no Primavera Sound, e o Chuck vai tocar bateria.

Chuck: Eu já comecei a ensaiar. Eu falei: “mano, foda-se, essa é a coisa mais legal que vai acontecer na minha vida”. Então, assim, essas coisas… elas ocupam o lugar da paixão e da energia, parecido com o que a gente estava fazendo.

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Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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