Blue Monday Stephen Morris, Tom Chapman, Bernard Sumner, Phil Cunningham and Gillian Gilbert. New Order anuncia transmissão ao vivo de seu show no O2, em Londres. Foto divulgação

Com as camisetas “Blue Monday”, New Order engaja na luta contra o suicídio

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo inglês vem emprestando sua imagem (e a de seu maior hit) à causa

O ato extremo de dar cabo à própria vida tem sido um problema latente na sociedade em que vivemos. Se considerarmos que costuma acometer as pessoas mais jovens, a situação fica ainda mais chocante.

Os números se comportam de forma diferente em cada região. No Reino Unido, a terra do New Order, a taxa de suicídios é estável desde um preocupante pico ocorrido em 1981. Hoje, está em torno de 16 (para cada cem mil habitantes) em homens e seis em mulheres. Em ambos, a maioria das ocorrências rola entre 45 e 54 anos de idade, segundo estudo do governo britânico.

Nos Estados Unidos e no Brasil, no entanto, a situação é bem diferente. Nos EUA, a taxa de ocorrências cresceu 35% desde o ano 2000, e hoje está em 22 (para cada cem mil habitantes) entre os homens, e cinco para mulheres. É alarmante, no país, o número de suicídios entre crianças, a partir dos 10 anos.

Já em nosso país, alguns números são realmente assustadores. Desde 1980, a perda de vidas aumentou 60%. Ainda assim, segue com números mais baixos do que Estados Unidos e Reino Unido. Por aqui, a taxa entre homens é de 9,9 (para cada cem mil habitantes), e 2,6 entre mulheres.

Os fatores são múltiplos e, obviamente, bem diferentes para cada faixa etária. Entre os adultos, a solidão, problemas com vícios (geralmente ocasionados por outros fatores psicológicos prévios), a pressão pela adequação a padrões sociais financeiros em uma sociedade se contrapondo a um sistema que dá sinais de falência são os principais vilões.

Já entre os jovens, o poder altamente destrutivo das redes sociais, com suas campanhas de difamação e exposição, figura entre as principais causas da evolução do sintoma.

Blue Monday

Nome do principal sucesso da banda inglesa New Order, Blue Monday virou “marca” de camiseta dedicada a recolher fundo para organizações inglesas que lutam contra esses números alarmantes. Desenvolvidas em parceria com o designer Peter Saville e a CALM, organização que monitora e combate o suicídio no Reino Unido, as peças trazem versos da música e tem o objetivo de manter a todos com os olhos abertos a quem está à nossa volta.

Já em seu segundo lançamento, a camiseta traz o verso “How does it feel?”, ou “como é a sensação?”, estampado, bem como o logo e o contato da CALM. A peça custa 30 libras — aproximadamente 180 reais —,  e terá um terço das vendas revertidos para a organização.

Vale lembrar que o New Order é um projeto musical egresso da banda Joy Division, que acabou graças ao suicídio de seu vocalista, Ian Curtis, em 1982.

A expressão “blue monday” (segunda-feira triste) é geralmente associada a uma campanha da companhia de viagens Sky Travel, que nomeou a terceira segunda-feira de janeiro como o dia mais triste do ano.

No entanto, seu uso remonta ao século XVIII. Trabalhadores chegavam a seus empregos de ressaca na segunda-feira, após passarem todo o final de semana bebendo. Com o crescimento do uso das drogas recreativas, a partir dos anos 60, era usado como referência à depressão causada pelos baixos níveis de serotonina no cérebro, reflexo dos abusos do final de semana.

A música contra o suicídio

A banda de Bernard Sumner tem caminhado — também devido às suas tragédias — em direção oposta à romantização do abuso praticado pelo universo pop por décadas. O movimento pode (e deve) ser seguido por muitas outras estrelas da música, donas de enorme influência sobre o comportamento das novas gerações.

Iniciativas como essa são mais do que bem-vindas, e, vale reforçar, a campanha da Blue Monday é restrita a organizações do Reino Unido.

Alô, artistas brasileiros! Bóra comprar essa ideia?

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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