Annie Nightingale Foto: Reprodução

Inglaterra dá adeus a Annie Nightingale, uma das mais importantes DJs de sua história

Jota Wagner
Por Jota Wagner

DJ da rádio BBC deixou um legado incrível à divulgação da música eletrônica no Reino Unido

Poucos profissionais foram tão importantes para a divulgação de novos artistas do que os DJs de rádio. Poucas rádios valorizaram tanto o trabalho dos DJs como a gigante estatal inglesa BBC. E poucos DJs foram tão importantes para a história da música como Annie Nightingale, que nos deixou no último dia 11, aos 83 anos de idade.

Conhecida pelo seu entusiamo com novos e estabelecidos artistas de diversos gêneros musicais diferentes, do punk ao breakbeat, Annie foi a primeira DJ mulher da Radio 1 — maior das estações da BBC —, onde por mais de 50 anos! Abriu caminho, portanto, para toda uma geração feminina, além de pavimentar a carreira de uma porção de novos artistas.

A DJ, que também se aventurou na TV com o programa The Old Grey Whistle Test, nasceu no bairro de Osterley, Londres, em 1940. Começou como repórter de TV, em uma subsidiária local da BBC, até que sua paixão pela música a levou ao posto de apresentadora de uma estação que falava com milhões de jovens ávidos por música, em 1970.

Por 12 anos, foi a única DJ mulher da emissora, e jamais deixou de lutar para que esse cenário mudasse. A natureza de sua profissão, levar nova informação musical para as pessoas, contribuiu para potencializar em Annie uma personalidade generosa e inclusiva. A DJ, que já nasceu com “night” no sobrenome, foi corresponsável por bombar não só artistas, mas cenários musicais inteiros, como fez com o breakbeat.

Annie Nightingale

Annie Nightingale e Paul McCartney. Foto: Reprodução

Para se ter uma ideia do seu tamanho na cena musical inglesa, ela fazia parte do mais íntimo círculo de amigos dos Beatles. Soube da relação de John Lennon e Yoko Ono meses antes do assunto se tornar público. Se liga: ainda que jornalista e apresentadora de uma grande rádio, jamais divulgou informações sobre o clã mais famoso do mundo sem sua autorização. Mais do que isso. Disse não à proposta de namoro de um deles, Paul McCartney.

Nightingale tinha em si a essência do que é ser DJ. Sempre brigou para comandar os horários noturnos da emissora, momento em que poderia experimentar mais, ou seja, tocar o que quisesse e achasse válido para seu público. Rejeitou diversas propostas para apresentar programas em horários diurnos, dedicados ao mercado de música mainstream.

Sabia, também, do seu papel como a primeira DJ mulher na BBC. Lutou, desde o início da carreira, contra o sexismo no mundo da música, e incentivou garotas a seguirem seus passos no mundo da discotecagem.

Artistas e colegas DJs deixaram sua homenagem, durante todo o final de semana, à importância do seu trabalho no Reino Unido. Annie Mac, Zoe Ball, Lauren Laverne, dentre tantos outras, que viram em sua carreira um impulso para entrar no mundo da música.

Paixão, coragem e muita música. Este foi o legado deixado por Annie Nightingale ao mundo da discotecagem mundial.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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