Kraftwerk Kraftwerk. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Kraftwerk anuncia temporada com nove shows diferentes em Los Angeles

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo pioneiro da música eletrônica ocupará o Walt Disney Concert Hall para tocar todos os seus álbuns na íntegra

Como convencer o Kraftwerk a tocar em sua cidade? É fácil: basta apresentar aos quatro alemães e sua equipe um projeto absolutamente megalomaníaco, reforçando a mensagem da gigantesca (e merecida) importância do grupo. Além disso, o espaço deve apresentar condições técnicas nunca vistas em um show e painéis audiovisuais em 3D. Vira, também, ter alguma ideia “diferente”. Importante: ser capaz de cumprir o rider técnico da banda, o mais detalhado e extenso do planeta.

Moleza, né?

Los Angeles cumpriu a missão, convencendo Ralf Hütter (único remanescente da formação original) e seus comparsas Henning Schmitz, Fritz Hilpert e Stefan Pfaffe. O Kraftwerk fará não um, mais nove shows diferentes na cidade, a partir do dia 21 de março. Em cada apresentação, tocará na íntegra um álbum, completando, ao final da temporada, toda a sua discografia.

O lugar escolhido é o Walt Disney Concert Hall, com capacidade para mais de duas mil pessoas. A escolha não foi ao acaso. A casa foi projetada pelo canadense Frank Gehry e levou 16 anos para ficar pronta, com acústica e recursos aclamados, prontos para receber as viagens 3D dos alemães.

Vale lembrar que, após a morte de Florian Schneider, um dos integrantes admitidos para a nova formação é um VJ, o artista visual Stefan Pfaffe. Resta, para os outros três, a operação dos sequenciadores de som.

Os shows dos autodenominados “trabalhadores da música” já foram vistos algumas vezes no Brasil. Sua última passagem pelo país foi em 2023, no C6 Fest. Desde o início, em 1970, quando criavam os próprios instrumentos para executar sua sonoridade futurista e inovadora, suas apresentações sempre ofereceram uma imersão sensorial.

O Kraftwerk não é uma banda, mas um livro. Tudo, em sua trajetória, faz parte de um muito bem escrito romance de ficção científica. As raríssimas entrevistas à imprensa, o lendário estúdio Kling Klang, que não tinha campainha ou telefone, e cujo endereço jamais foi divulgado, o cuidado com o visual, a ponto de terem avatares e maquetes robóticas para apresentar as “personagens” e, claro, os espetáculos incríveis imersos no que há de mais novo em tecnologia sonora e visual.

A influência dos caras na música pode ser medida ao time de personalidades que apresentaram sua admissão no Rock And Roll Hall Of Fame, em 2021. David Bowie (em depoimento póstumo), Martin Gore (Depeche Mode), Pharrell, Run DMC, Afrika Bambaataa, The Human League e James Murphy (do LCD Soundsystem).

“Para muitos de nós, a música que fazemos já era influenciada pelo Kraftwerk sem ainda nem temos percebido”, disse Pharrell. Darryl McDaniels, do Run DMC, mandou: “esses quatro branquinhos da Alemanha estão no coração da black music”.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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