Brasileiros no Grammy Foto: Reprodução

Saiba quais foram os brasileiros que já fizeram bonito no Grammy

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Cerimônia, que até o ano 2000 não tinha uma edição dedicada à música latina, já premiou diversos brasileiros

Domingão, dia 4 de fevereiro, o mundo voltará suas atenções para o Óscar da música”, o Grammy. Artistas do alto escalão do mainstream, além de produtores e músicos instrumentais, concorrem pela almejada estatueta que, até o ano de 2000, não tinha uma edição separada, dedicada à música latina.

Isso não significa que artistas de origem latina não concorrem (ou concorriam) com americanos. Tanto que Anitta foi indicada como Artista Revelação em 2023, perdendo para Samara Joy.

Em um mercado historicamente dominado pelos Estados Unidos, ser um brasileiro indicado é uma mostra de que seu trabalho realmente tem chamado a atenção da crítica, público e mídia ao nível mundial.

Muitos músicos conquistaram experiência internacional fazendo turnês, gravando em parceria com colegas gringos e até atingindo status de cult em revistas especializadas e círculos de conhecedores. Indicações e premiações, no entanto, significam que conseguimos pular o muro e cair dentro da festa da grande indústria musical. Dar um chapéu no colonialismo e ser admitido no seleto clube, ainda que a contragosto.

A própria criação do Grammy Latino pode ser vista, de certa forma, como uma estratégia para manter a turma do lado de fora do cercadinho. “Bem, reserva lá um espaço para os latinos!”

Antes disso, o Grammy tinha uma categoria chamada “Global Music”, aos moldes da extinta Melhor Filme Estrangeiro, do Óscar. Um julgamento para a música estadunidense, e outro para “a rapa”, que colocava na mesma competição artistas argentinos, brasileiros, japoneses, senegaleses…

Os brasileiros que romperam os portões

Na primeira edição, o clube reconheceu o talento de um brasileiro que vivia nos Estados Unidos. Em 1959, Laurindo Almeida, violonista e compositor nascido na pequena Miracatu, no interior de São Paulo, deu início a uma aventura sensacional no mundo do Grammy: foram 11 indicações e seis prêmios!

Almeida foi um dos grandes responsáveis pela difusão da bossa nova nos Estados Unidos, gênero que ganharia o mundo e ainda renderia prêmios a alguns conterrâneos. Tocou com Garoto, Villa-Lobos e Pixinguinha. Foi para os Estados Unidos acompanhando Carmen Miranda.

Em sua estreia no Grammy, venceu na cateogoria Melhor Engenharia de Som e Melhor Performance de Música de Câmara (Duets With The Guitar). Em 1961, Melhor Performance Instrumental de Solista Sem Orquestra (Spanish Guitar) e Melhor Performance de Música de Câmara (Conversations With The Guitar), além de Melhor Composião Clássica (Discantus). Em 1964, levou o troféu de Melhor Álbum de Grupo de Jazz com The Girl From Ipanema, já nas ondas da bossa nova.

A vez dos Gilberto

A Garota de Ipanema passeava pretensiosa por entre as praias da música mundial. Logo no ano seguinte ao troféu dado a Laurindo Almeida, a reinação dos penetras era comandada agora pela família Gilberto.

Astrud Gilberto levou o prêmio de Melhor Performance Pop Feminina de 1965 pela música, vejam, The Girl From Ipanema. João Gilberto ganhou o de Álbum do Ano, uma das mais prestigiadas categorias da cerimônia, com o disco Getz/Gilberto, ao lado de Stan Getz.

Os saudosistas de plantão devem estar se revirando ao ler que Garota de Ipanema, em 1965, era “pop”. Sim, a era de ouro do jazz foi consumida em massa nos Estados Unidos, sem medo de experimentações.

O conceito de pop para o Grammy era um tanto quanto saboroso também nos anos 70. Tanto que o prêmio de Melhor Performance Pop de 1973 foi dado a Eumir Deodato, por sua sensacional Also Sprach Zarathustra. O genial pianista carioca ainda frequentaria, no futuro, os corredores do grêmio com mais indicações.

Uma década mais tarde, em 1984, uma das maiores honrarias do prêmio foi entregue, pela importância da obra, à cantora lírica Bidu Sayão e a Heitor Villa-Lobos, por Bachianas Brasileiras Vol. 5.

Kings of the world (of music)

Na categoria que era, antes do Grammy Latino, a destinada às produções fora dos Estados Unidos, os brasileiros também fizeram bonito. O time de colecionadores do troféu representa a nata da música brasileira em sua época. Como dito, os que apavoraram os gringos com sua qualidade técnica.

Afinal, para ser indicado ao Grammy, era preciso ser ouvido lá. Caso notório o do grande Sérgio Mendes, que cruzou os EUA com sua banda Brazil 66. O doido é que Sérgio só conseguiu levar o troféu de Melhor Disco de Global Music em 1993, quase 30 anos após o estrondo sucesso que fez nas terras lá de cima. O motivo: a categoria Global Music só foi criada em 1992.

Outro artista brasileiro de grande expressão internacional, principal no mundo do jazz, bateu o record brasuca de dois trofeus na mesma categoria (Melhor Álbum de World Music). Foi Milton Nascimento, em 1995 e 1998. Caetano Veloso levou em 2000, e Gilberto Gil, em 2002.

Uma vertente do jazz chamado pela academia de “jazz latino” também foi criada, em 1995, para organizar as indicações. Tom Jobim, em 1996, e Eliane Elias duas vezes (2016 e 2017), venceram.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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