Mano Brown e Emicida Foto: Luciana Prezia/Reprodução

Pelas mãos de Emicida, Mano Brown recebe prêmio de “Ícone do Ano” da GQ Brasil

Flávio Lerner
Por Flávio Lerner

Rapper foi condecorado na esteira dos seus títulos de Doutor Honoris Causa

Mano Brown foi condecorado com o título de Ícone do Ano pela GQ Brasil. A premiação rolou nessa última terça-feira (05), durante a cerimônia Men of the Year 2023, que rolou no Hotel Rosewood, em São Paulo. O rapper recebeu a honraria das mãos de Emicida, que foi quem anunciou o grande vencedor da categoria final do evento.

Segundo a GQ, Emicida rasgou elogios ao rapper, enaltecendo a importância dele e do seu grupo, os Racionais MC’s, para jovens das periferias:

“Quando eu subi no palco com vocês pela primeira vez no Rio de Janeiro, você não salvou só eu, você salvou uma geração inteira. A quebrada escuta Racionais de um jeito e a quebrada escuta de outro. Enquanto os boys escutam Racionais e falam: ‘os caras são carrancudos, são mal-humorados’, pra nós, Racionais sempre significou vida, amor, união, perseverança, ‘levanta a cabeça e segue em frente, não desista de você’. Foi isso que você, o Ice Blue, o Edi Rock, o KL Jay fez com cada um de nós”.

“Vocês deram um país para nós lutarmos. Mostraram para nós que vale a pena lutar por um país, cerrar nossos punhos, usar nossa inteligência para construir um mundo que a gente acredita que merece. ‘Jamais aceite um país menor do que vocês merecem’, foi isso que vocês falaram e vêm falando para todos os moleques pretos de quebrada desde que começaram. Eu nunca me imaginei aqui entregando esse troféu para você, mas hoje estou aqui como um molequinho que perdeu o pai de um jeito muito violento aos seis anos de idade e que encontrou no disco de rap que ele tinha uma figura paterna. E essa figura paterna fez com que eu estivesse aqui hoje. Sem você, eu não existiria. Muito obrigado, Mano Brown”, complementou Emicida.

Mano Brown Ícone do Ano

Capa da nova edição da GQ Brasil. Foto: Reprodução

“Quantas vezes eu me senti menos homem. Quantas vezes eu tive que lutar para me sentir homem. Quantas vezes a Eliane colocou seis reais do lado do meu travesseiro para que eu pudesse sair e procurar emprego. Notas de dois, notas de um. Esses 35 anos, quantas coisas a gente passou… Eu também não me imaginava aqui, igual o Emicida. O normal seria eu falar: pô, não vou. Vou ficar assistindo jogo [de futebol]. Tenho vergonha, essa roupa não vai me servir e tal. Mas eu entendo também que tenho que abrir espaço para que outras gerações venham. Me sinto representado por vocês: Cabelinho, Mitico, Emicida”, respondeu Brown.

O prêmio de Mano Brown vem na esteira de seus dois títulos de Doutor Honoris Causa concedidos pela Universidade do Sul da Bahia e pela Unicamp (este, no caso, foi para os quatro Racionais).

“Doutor, mano! Nunca mais posso ser pego com maconha; documento do carro não pode atrasar e, se alguém me xingar, não posso revidar. É a minha vida tomando uma direção que ainda não conheço. Precisarei aprender a viver assim. Vou melhorar diariamente para honrar esse prêmio, porque isso não é brincadeira. A minha vida mudou e não quero errar”, disse à GQ Brasil. E complementou:

“Fico lisonjeado pelo reconhecimento, mas trata-se de uma conquista que inclui todo o movimento do rap. Essa é a luta dos Racionais, do Sabotage, do Facção Central, do MV Bill, do Dexter, do RZO, do Djonga, do Emicida e de tantos outros. O nosso maior prêmio; o resto é disfarce e teatro. Roupa da Louis Vuitton, Gucci, isso vira entretenimento, mas não a finalidade. Precisamos colocar o nosso povo no caminho do conhecimento, porque essa é a riqueza que vai nos libertar”.

A entrevista completa pode ser lida na nova edição da revista, que chegou às bancas nesta quarta-feira (06). Na loja virtual, ela se encontra esgotada no momento desta publicação.

Flávio Lerner

https://flaviolerner.medium.com/

Editor-Chefe do Music Non Stop.

× Curta Music Non Stop no Facebook