Eminem mata alter ego Slim Shady Foto: Travis Shinn/Reprodução

Quem foi Slim Shady, personagem que Eminem acaba de matar?

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Novo álbum do rapper vem para provar que ele “está decidido a enterrar o macho escroto que habitou seu corpo”, segundo Jota Wagner

Em seu novo álbum, The Death of Slim Shady (Coup de Grâce), Eminem foi direto desde o título: Slim Shady, espécie de alter ego criado por ele em 1997 e que o acompanhou por toda a carreira, está morto. Mas, afinal de contas, quem é o personagem, e por que matá-lo? Para entender, é preciso contextualizar.

Por muitas vezes, artistas de rap escolheram trilhar o caminho do escândalo para conseguir chamar a atenção. Versos fortes, metendo o dedo na ferida expondo problemas sociais sem papas na língua, ou atacando todo mundo, como uma metralhadora giratória, sem se preocupar com as consequências.

Uma estratégia que deu certo por muito tempo. Aquela coisa da inconsequência do jovem, o grande sabe-tudo, conhecer formas fáceis para resolver qualquer problema do mundo que quer mudar. Como disse sabiamente Antônio Abujamra no programa que apresentava na TV Cultura, Provocações, “nós deixamos que os jovens pensem que podem mudar o mundo”. No entanto, conforme vão sendo apresentados às complexas situações da vida adulta, fichas vão caindo. Eis o momento em que nos damos conta de que não é tão simples assim.

No caso de um músico, o passar do tempo também se reflete em suas letras, que geralmente vão ficando mais complexas, à medida que também crescem as incertezas, as dúvidas e a resiliência. Muitos abaixam o tom, dedicando um bom tempo em suas entrevistas para justificar os excessos da juventude. Alguns, porém, simplesmente os renegam, avisando ao público que “mudaram”. Foi o caso de grandes nomes do rap como Lil Wayne, Jay-Z, Beastie Boys, Mac Miller e… Eminem.

Para provar que está decidido a enterrar o macho escroto que habitou seu corpo, a ponto de ter atacado os grupos que lutam pelos direitos LGBT+ ao vivo durante a cerimônia do Grammy, em 2001, o rapper lançou The Death of Slim Shady (“a morte de Slim Shady”, em português) na última sexta-feira, 12. O capítulo final de um personagem que foi chocante em uma época em que detonar verbalmente e falar sem pensar ainda não era usado por políticos em campanha para presidente.

Quando criou o personagem, Eminem tentou dar uma sabonetada na polêmica das letras que estavam chegando ao público. Segundo o rapper, Sim Shady não era ele, mas um vilão que atacava todo mundo, não tinha educação e nem senso de ridículo. Com tal álibi, Marshall Bruce Mathers III, nascido no Missouri em 1972, considerou que teria carta branca para descer a lenha em quem bem entendesse. Caso alguem reclamasse, bastaria dizer que não era ele, mas Slim Shady o autor da deselegância.

Shady está morto, pelas mãos de seu próprio criador, talvez por agora ser desnecessário, talvez por ser obsoleto. Quando um artista resolve mudar, baixar as armas, parte de seu público (a que não cresceu) geralmente torce o bico, correndo para chamar o ex-ídolo de “vendido”. A outra parte agradece. E no caso de Eminem, é a maioria. Muitos fãs estão considerando The Death Of Slim Shady como o melhor álbum de sua carreira. Deslumbres à parte, o rapper realmente anda encabeçando uma nova onda: a de resgatar a estética tradicional do hip-hop, o que agrada a muita gente.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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