São Paulo São Paulo – foto: divulgação WWCF

Fomentar e organizar a cultura periférica: as demandas de SP para o “World Cities Culture Forum”

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Conferência de 2023 está rolando desde quarta-feira na capital paulista. Conversamos com Aline Torres, Secretária de Cultura de SP

Desde quarta-feira (25), mais de cem líderes e gestores de cultura de diversas cidades do mundo estão em São Paulo para um intercâmbio de ideias e experiências no tema. Trata-se do World Cities Culture Forum, conferência que reúne essas personalidades anualmente, em uma das cidades-membro da rede global.

Estão presentes o Prefeito de Vancouver, Ken Sim, Touria Meliani, Secretária de Cultura de Amsterdã, Enrique Avogadro, Secretário de Cultura de Buenos Aires, e Tommaso Saachi, Secretário de Cultura de Milão. Realizado em pontos como o Sesc Pompeia, o Auditório Ibirapuera, o Teatro Municipal, a Pinacoteca e o Centro Cultural São Paulo, o evento conta com representantes de mais de 40 cidades, de vários continentes, durante três dias de programação.

— Por mais que existam diferenças de cultura organizacional, no final das contas, nossas dores são as mesmas. Minha expectativa é de que a gente consiga fazer trocas interessantes, para que possamos implementar políticas públicas positivas na cultura. Entender o que está dando certo em Londres, por exemplo, conhecendo as respostas que eles têm para cada proposta. E também, apresentarmos nossas deficiências. Ouvir e compartilhar — conta Aline Torres, Secretária de Cultura da Cidade de São Paulo, em entrevista ao Music Non Stop.

São Paulo tem o desafio de dar fluidez à gigantesca produção criativa da cidade, em especial às distribuídas pelas periferias, historicamente marginalizadas e, na mesma proporção, oprimidas. Não é tarefa fácil.

— Pegamos relatórios do Ministério Público, que tem vários tipos de denúncia, e falamos muito com a Polícia Militar. Tem dois lados muito complexos. Um é dos moradores da região, que também têm seus direitos privados, afinal, não conseguem dormir por causa da música alta, não conseguem trafegar com seus carros, o ônibus tem de mudar de trajeto de maneira irregular, sem aviso… Mas também temos o lado do menino e da menina que é MC, que precisa de um espaço para poder cantar, e do público. Querendo ou não, a rua é o lugar onde tem o entretenimento para essa população jovem. O lugar onde tem uma barraquinha de comida barata, onde a moradora consegue levar os filhos para se entreterem, no final de semana, para ter convivência. Ainda é o momento da escuta — seguiu.

Aline Torres, Secretária de Cultura da cidade de São Paulo. Foto: Divulgação

É uma disputa complicada de administrar. Resta esperar quais ações resultarão da análise desse momento de escuta, que leva também em consideração outros aspectos dos encontros, como o econômico.

— A gente não pode negar o que é o movimento do funk. Economicamente, é de mudança de vida e, também, importante para a saúde mental dessa galera muito jovem que, do dia para a noite, está com sua voz em todas as plataformas de streaming do mundo, ganhando dinheiro com uma música rodando por aí. Esse fluxo tem uma vertente financeira, econômica, que só quem está dentro dele sabe que existe, e que é muito forte.

A orientação da conversa para a cena funk paulistana dá-se graças à recente criação da Coordenaria das Políticas Públicas do Funk, em 2023, nos moldes do Núcleo de Hip-Hop (SMC/HIPHOP), criado em 2004 pela Prefeitura, em atividade até hoje. Uma estratégia cujo objetivo é ajustar o foco para enxergar cada cena do universo musical da periferia de uma forma individualizada, mesmo sabendo que ela é, como Torres admite, plural.

— Antes de criar a coordenaria [do funk], a gente começou a ter essas conversas, de maneira institucional, pela Secretaria de Cultura, mas não tínhamos um representante, um ponto focal, que entendesse disso. Desde o começo do ano, começamos a conversar com as subprefeituras, Ministério Público, conselho tutelar, porque tem um publico infantil muito grande dentro dos fluxos. E com algumas pessoas que são ligadas ao movimento do funk, de cada região. Começamos pela Cidade Tiradentes, região que tem muitos bailes e um número muito grande de MCs — conclui Torres.

Organizar os eventos privados e de rua, amansar o cassetete da polícia militar de São Paulo e prover um ambiente saudável para o cenário cultural da cidade, respeitando o ecossistema das periferias, são alguns dos desafios da Secretaria de Cultura de uma das maiores (e mais desiguais) cidades. Ouvir como é a realidade do tema em outros lugares do mundo, sempre, traz efeitos positivos e intercâmbio de estratégias.

Que o World Cities Culture Forum nos traga boas, e práticas, ideias!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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