Way Out West: o festival indie sueco que parece ter saído de um conto de fadas
Lalai Persson conta sobre o charme do rolê, cuja edição 2024 começa nesta quinta-feira
Gotemburgo é a segunda maior cidade da Suécia, o que não quer dizer que é uma cidade grande. Com pouco mais de 600 mil habitantes, é uma zona portuária, verde e vibrante durante o verão, com ótimos restaurantes e muitos parques. Foi nela onde me casei há exatamente 11 anos. Na época, para justificar o fato de os amigos desembolsarem uma quantia considerável de reais, eu marquei a data uma semana antes de um dos maiores festivais de música do país, o Way Out West. Foram duas celebrações, a oficial e a na pista.
Desde então, tento sempre voltar à Suécia para celebrar meu aniversário de casamento. Por isso, cá estou a bordo de um voo low fare rumo a mais uma edição do evento que, por razões óbvias, virou um dos meus favoritos do mundo. Mas não é só a data simbólica que o torna especial. O Way Out West, ou WOW para os íntimos, é definitivamente um exemplo. Nele, eu vislumbro os festivais do futuro, ou melhor, do presente, porque as pautas são urgentes: line-up inclusivo com equidade de gênero desde 2017, comida 100% vegetariana e tem o tema sustentabilidade girando por tudo, começando por uma parceria com a empresa de trens local para incentivar o público a fazer a viagem peloo sistema ferroviário, em vez de voar a partir de outras cidades.
Detalhe: esses temas tão atuais, como equidade de gênero, inclusão e sustentabilidade, são prioridades para o WOW desde a sua criação em 2007. Em 2012, aderiram ao vegetarianismo, que reflete em uma emissão de carbono por refeição de 0,38kg CO2e — a recomendação da WWF é 0,5kg CO2e. No ano passado, adotou apenas material circular para produzir produtos de merchandise.
Além disso, é um festival lindo de morrer, com produção impecável, que acontece em um grande parque central em Gotemburgo. São cinco palcos espalhados por todo o parque (sendo dois principais, que se alternam entre os shows, um no meio da floresta e outro dedicado à música eletrônica), área para talks, bar de vinho natural e champagne, bar de cervejas artesanais, bar de coqueteis e opção de menu assinado por chefs estrelados da Suécia, que criam um restaurante pop-up no meio da floresta com produção digna de casamento de princesa.
É um evento para adultos cansados como eu no quesito conforto. Permite a entrada de menores de idade, mas estes não têm acesso aos bares. Por isso, não dá para circular para lá e para cá com um drink na mão – a não ser cerveja ou vinho -, o que eu acho ótimo, porque com o preço da coroa sueca, é um alívio não poder beber tanto assim. Todos os bares têm cercadinho com vista para os palcos. Os banheiros químicos são todos vips, com iluminação, descarga e pia funcionando o tempo todo. Quer me fazer feliz em um festival? Ofereça banheiro limpo e confortável. Há também ótimas áreas de descanso, mesa de ping-pong e pontos de água potável por todos os lados.
O line-up raramente desaponta. Por ser de porte médio, é possível ver nossos artistas favoritos muito próximos, o que é uma dádiva para uma pessoa de baixa estatura como eu. Para esta edição, que rola entre os dias 08 e 10 de agosto, as grandes estrelas são PJ Harvey, Air tocando Moon Safari, Fred Again, Jack White, James Blake, Pulp, Jessie Ware, Slowdive, L’Imperatrice, The Kills, Glass Beams, Big Thief, Eris Drew & Octo Octa, Yves Tumor, André 3000, The National, Peggy Gou, Fever Ray, Skepta, Blondshell, entre outros nomes emergentes e artistas consagrados pela Geração Z que eu confesso: deixei para conhecer ao vivo.
Já a área VIP é VIP de maneira peculiar. Nada de lugar privilegiado para assistir aos shows. É uma área escondida de acesso restrito com um line-up menor de shows e DJ sets acontecendo ao longo dos dias. Tem um restaurante e bar, além de espreguiçadeiras à beira do lago, e é onde fica a área de imprensa. Quem não é VIP, mal sabe o que está acontecendo do outro lado do longo corredor que leva até o local. É o famoso quiet luxury: elegante e discreto.
Quando os palcos se encerram um pouco antes da meia-noite, os clubs de Gotemburgo abrem suas portas para abrigar o Stay Out West, com uma programação tão interessante quanto a diurna. Nesta edição, um dos destaques é Thurston Moore. Paralelamente, acontece também uma mostra de cinema com cerca de 40 filmes, todos eles focados em música.
Tem algum defeito? Aham. Acontece em uma época que costuma chover, por isso eu já me vi em algumas edições de galocha e capa de chuva resistente para dar conta das tempestades — inclusive, uma está prometida para a sexta-feira.
Uma curiosidade: a Suécia tem uma política super-restrita de drogas, então o Way Out West é um evento praticamente clean nesse assunto.
Bora desfazer as malas e começar a circular pela cidade. Acompanhem a cobertura no Instagram do Music Non Stop!