Muita fumaça, muita bebida, muito sexo: c’est bien Serge

Vinte anos sem o genial Serge Gainsbourg (1928-1991)

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Muita bebida, muito cigarro e muito sexo. Esse era o Serge

Um dos artistas mais completos da história da música, um cara sem nenhum filtro ou pudor, um dos cidadãos mais memoráveis que a França já produziu, Serge Gainsbourg partiu desta pra melhor há exatos 20 anos.

Musicalmente seu legado é enorme, eclético e atemporal. Não bastasse a sua discografia, ele passou pra filha Charlotte o bastão da boa música. Ela é hoje uma cantora de sucesso no mainstream, apesar de ter as raízes fincadas no underground, igualzinho ao papai.

Olha como tô véia. Há exatos 10 anos eu era correspondente da Folha em Paris e escrevi esta matéria, que republico abaixo:

CAIXA TEM OBRA COMPLETA E INÉDITAS

Com “Gainsbourg Forever”, caixa comemorativa que reúne os 16 discos de estúdio de Serge Gainsbourg, além de dois CDs inéditos, a obra do cantor volta a ocupar lugar de destaque nas lojas de disco francesas. O “coffret Gainsbourg” (“estojo Gainsbourg”), cuja edição será limitada em 3.200 unidades, virou objeto de desejo. E não é à toa. É a primeira vez que a obra completa de Gainsbourg sai na França de uma só vez. Em breve, os discos estarão à venda separadamente.

Idealizada pelo ex-assessor de imprensa de Gainsbourg, Jean-Yves Billet, a caixa vem acompanhada de um livreto de 85 páginas que traz, em texto e fotos inéditas, a história do cantor que adorava as mulheres. Nos dois CDs inéditos, há gravações ao vivo, versões de estúdio que nunca saíram da gaveta, além de jingles.
Jean-Yves Billet recuperou na gravadora Vivendi-Universal a primeira gravação de Gainsbourg, um LP prensado em acetato, em 1958, com cinco músicas, entre elas, “Le Poinçonneur des Lilas”, que acabou se tornando o primeiro sucesso do cantor.
A gravação, que registrou pela primeira vez seu talento, agradou aos executivos da Philips, apesar dos palavrões em algumas letras. A partir dali, Lucien Ginzburg virava Serge Gainsbourg, o pianista que queria seduzir mulheres bonitas com sua arte.

Suas letras, desde os primeiros discos, deixavam os senhores da companhia de discos com um certo nó na garganta. Em “Nº 2”, de 1959, Gainsbourg já começava a cantar o amor pelas lolitas (“Jeune Femmes et Vieux Messieurs”), característica que explodiria no cultuado “Histoire de Melody Nelson”, de 1971, citado por gente como Madonna e Beck como disco inspirador de suas carreiras.
Em seu quarto disco (“Nº 4”), Gainsbourg começava a mostrar sua faceta de bad boy. Cantou o amor ao cigarro, a Baudelaire e ao álcool sobre melodias ingênuas de twist. Ganhou o codinome de “romântico moderno”.

Em 1964, com “Gainsbourg Percussions”, o francês começou um namoro com a percussão africana e chegou a compor uma marchinha de Carnaval (“Les Sambassadeurs”) com um trocadilho impagável mesclando as palavras “sambista” e “embaixadores”.

Misturando vida particular e arte, Gainsbourg lança em 69 “Jane et Serge”, com sua nova musa, a modelo e atriz Jane Birkin. A dupla escandaliza meio mundo com “Je T’Aime Moi Non Plus”. Em 1971, com Jane na capa, Gainsbourg lança seu primeiro disco conceitual, “L’Histoire de Melody Nelson”, um fracasso de vendas na época que acabou se tornando disco de referência para a música pop dos anos 90. Nos últimos discos, se transforma no personagem rabugento e midiático Gainsbarre. Habilidoso com as câmeras, Gainsbarre não chegava aos pés da excelência de Gainsbourg no estúdio.

En Melody, uma das músicas que ajudaram a imortalizar o maravilho Histoire de Melody Nelson

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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