Nu Azeite Fabio Santanna (à esquerda) e Bernardo Campos – foto: divulgação

Vai uma água de coco ai? Nu Azeite está de volta sintetizando o melhor do Rio de Janeiro

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Dupla carioca acaba de lançar o single Água de Coco, pelo selo Cocada, braço tropical do alemão Get Physical. A nova música precede o segundo álbum, que sai em setembro, e vem acompanhada de um remix de Diogo Strausz, hidratado de verão carioca.

As características que, somadas, garantem a um disco o rótulo de “música regional” são bastante comuns para nós:  um ritmo ancestral presente no folclore de determinado lugar, instrumentos específicos, formas de se construir a música ou temas que retratam um estilo de vida.

Porém, em alguns momentos na história da música, determinados artistas ou discos chamam a atenção de todos para algo a mais. O que ouvimos nos transporta a um determinado ponto do território e do tempo, transformando a audição (ou a dança, no caso do Nu Azeite) em uma espécie de imersão antropológica.

Se alguém um dia alguém lhe perguntar como é viver no Rio de Janeiro, apenas sugira que essa pessoa escute Nu Azeite.

Quando a dupla lançou seu primeiro álbum, em janeiro de 2021, uma onda de saudosismo tomou conta de muita gente. O Rio de Janeiro, do final da década de 1990 em diante, foi uma das cidades que mais abraçaram a house music. Mais do que isso: recebeu, cozinhou, serviu num prato, degustou e — como nenhuma outra capital — temperou com seu modo de vida leve e desencanado.

O Nu Azeite trouxe então o protagonismo da house, em seu sentido mais amplo, para as praias cariocas. Lá atrás, enquanto São Paulo entrava de cabeça na onda tech-house de selos como Swag e Red Melon, DJs de muito talento como Rafael RM2, Mr Spacely e Marquinhos Meskita botavam a cidade para dançar o que então era rotulado como a “house de São Francisco”. Bombavam as festas de buracos como o Copacabana Club, o modernoso Zero Zero e o improvável Dama de Ferro (e seu lendário afterhours).

Antes mesmo dessa época, sob a regência de Felipe Venancio ou durante os áureos tempos da Bunker 94, projetos como o Super Chocoboys, de Nego Moçambique e Daniel Mazzuca, davam a pinta de que o Rio iria muito além do techno, a locomotiva que movimentava a cidade graças ao mestre Maurício Lopes e Ricardinho NS.

Fosse só isso, Nu Azeite já teria cumprido o seu papel. No entanto, tem muito mais formiga neste piquenique. O som da dupla formada por Bernardo Campos e Fabio Santanna ainda chama pro jogo outra marca registrada das pistas de dança cariocas desde os anos 1970. O boogie criado, após a era disco, por gênios do pop como Lincoln Olivetti e Sandra de Sá, recheado de elementos (nas letras e no ritmo) únicos, reflexo da amálgama praia-morro que só a Cidade Maravilhosa tem.

Quando Olivetti começou a botar a sua cara na produção de discos, totalmente influenciado pelos bailes black cariocas (o movimento Black Rio), direcionando-os para as discotecas, todo mundo começou a colar em seu estúdio. De Rita Lee a Tim Maia, a onda era Olivettizar o som.

Lincoln Olivetti

Lincoln Olivetti, o mestre do boogie e produtor de inúmeros álbuns de sucesso no Brasil.

Dali em diante, a música dançante do Rio tinha uma cara. Lulu Santos, Fernanda Abreu… todos os grandes ídolos da cidade beberam – ou mais ainda -, se embriagaram nesta fonte.

E é nesta mesmíssima fonte que Fabio Santanna, metade do Nu Azeite, se hidratou. Fabio cresceu nos bailes do subúrbio do Rio. Mais do que se divertir, contou ao Music Non Stop que os bailes são responsáveis pela formação de identidade de toda uma geração no Rio.

Quando esta bagagem cultural se juntou com a de Bernardo Campos, cria do movimento houseiro do Rio, fez-se o tsunami de caipirinha musical chamado Nu Azeite.

 

Vai uma Água de Coco aí?

Água de Coco é o primeiro single do álbum Vem Pro Mar, que será lançado às vésperas do Rock’n’Rio 2022, festival que receberá o Nu Azeite como uma das atrações do palco dedicado à música eletrônica. Se é para apresentar o que está por vir, a dupla dá uma senhora carteirada em ti, querido ouvinte.

Com um claro upgrade na sofisticação da produção dos grooves e arranjos, Água de Coco não rompe com absolutamente nada do que encantou geral no primeiro disco do Nu Azeite. Amplifica, no entanto, sua veia boogie. Enquanto descreve, nas letras, aquele rolezinho de domingo pelo Rio em busca dos amigos na praia, a dupla desce a mão em batidas que te fazem correr para procurar os patins escondido nos confins do guarda-roupa.

“Cem por cento natural, pra você ficar relax, coco é sensacional”

Bora, então!

A música ganha também, no lançamento, um remix bem bacana de Diogo Strausz. A versão do músico e DJ do bairro das Laranjeiras traz velocidade e um sabor disco house à faixa. Não tem como fugir: segue absolutamente carioca.

Pegue sua Água de Coco, tempere (caso aqui da redação) ou não com seu destilado predileto e brinde à volta do Nu Azeite.

 

 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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