Selvagem Foto: Divulgação

“A Selvagem capturou o Zeitgeist do DJ open format”, diz Trepanado, às vésperas dos 11 anos da festa

Flávio Lerner
Por Flávio Lerner

Comemoração será neste fim de semana, com datas no Rio e em SP, atrações do naipe de Antal, Floating Points e Soichi Terada e B2B inédito

Um dos eventos mais legais do circuito eletrônico de São Paulo é a Selvagem, projeto iniciado despretensiosamente por Trepanado e Millos Kaiser, em 2011, e que hoje continua sob a batuta do primeiro.

A ideia era simplesmente de tocar o que eles e os amigos curtiam — “um som mais solar”, como diz o próprio Trepanado, que inclui uma pesquisa refinadíssima de house e disco com fortes pérolas do boogie brasileiro.

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Edição da Selvagem em 2023. Foto: Divulgação

Mais de uma década depois e o projeto cresceu para muito além do que se imaginava. No ano passado, em celebração aos dez anos da label, rolou a realização do primeiro Festival Selvagem. Já neste final de semana, a festa comemora 11 anos em grande estilo, tanto no Rio (sexta, 24) quanto em SP (sábado, 25). Ambos os eventos terão gigantes do seu nicho na cena global: o britânico Floating Points e o japonês Soichi Terada.

Além disso, a celebração vem junto da turnê mundial de 25 anos do conceituado selo holandês Rush Hour, que estabeleceu um forte vínculo com a Selvagem nas últimas duas temporadas, e estará representado por um de seus fundadores, Antal.

Antal, inclusive, deve fazer o primeiro B2B de sua história com Floating Points, conforme nos foi revelado pelo anfitrião Augusto Olivani — aka Trepanado —, em um breve papo sobre o momento atual, segredos e legados e o que ele já está planejando para o próximo ano da Selvagem.

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Augusto Olivani, aka Trepanado. Foto: Divulgação

Flávio Lerner: Olhando para trás, qual o sentimento em chegar ao aniversário de 11 anos da Selvagem? Você idealizava ou projetava que as coisas chegassem ao ponto que chegaram?

Trepanado: É um sentimento um pouco maluco. Nem de perto eu imaginava que a Selvagem chegaria a esse ponto quando a gente começou em 2011. Era basicamente um lugar que a gente tinha encontrado pra tocar as músicas que gostava e reunir os amigos — e as pessoas que sentiam falta de ouvir um som um pouco mais solar no circuito de São Paulo.

É uma realização muito grande, de um sonho que eu tinha desde 2005, e um sentimento de muita responsabilidade também.

Como manter uma festa relevante, atraindo as pessoas, trazendo novidades e inovando, mas mantendo sua essência, depois de tanto tempo?

É preciso se manter fiel à sua visão de lá de trás. A Selvagem é a festa que tem liberdade para misturar os mais diferentes tipos de som, para trazer esse tempero brasileiro… A gente tem a legitimidade, no Brasil, de misturar as mais diferentes influências. Eu acho que a Selvagem capturou esse Zeitgeist do DJ open format.

E ao mesmo tempo, a gente tem esse esforço gigante de se manter atualizado, sempre tocando coisas novas, e acho que esse é um dos motivos pelos quais mantemos o nosso frescor.

E a minha vontade também é de, cada vez mais, abrir a Selvagem para outros DJs brilharem. Quero que os artistas tenham, na festa, a liberdade de tocar o que eles sempre quiseram.

Ao trazer uma pesquisa mais refinada e baseada no Brasil, você considera que a Selvagem foi fundamental para mudar a cara da cena eletrônica brasileira, que hoje em dia é muito mais familiar a vocais em português e samples de boogie brasileiro? Seria este o seu maior legado até então?

Quem precisa dizer isso são as outras pessoas (risos), mas eu tendo a concordar. Quando a gente começou a tocar músicas brasileiras dançantes, tipo house, disco ou boogie, causava uma estranheza. Ao longo do tempo, acabou que exatamente várias dessas músicas foram as que se tornaram os hinos de Selvagem, né?

Teve mais gente também que começou a fazer a parte disso, desde 2015, 2016, e isso foi se naturalizando. Hoje, eu sei que várias outras festas transitam por um universo musical parecido, e eu acho, sim, que tem uma influência nossa.

Fico bastante orgulhoso que esse tenha sido um legado. Não só poder compartilhar essas descobertas, como fazer disso uma coisa de repertório que hoje as pessoas curtem, acham legal e está incorporado no circuito. É uma grande conquista.

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Edição da Selvagem em 2023. Foto: Divulgação

Como se deu o processo de curadoria para essas festas de aniversário?

Foi um papo que surgiu um pouco depois do Festival Selvagem no ano passado. Eu troquei uma ideia com o Antal, ele disse que estava nessa missão de comemorar os 25 anos da Rush Hour, e que ele achava que tinha muita sinergia com a Selvagem.

De cara, eu virei e falei que trazer o Soichi Terada de novo para o Brasil era um sonho. E aí a gente discutiu alguns outros nomes que não estavam exatamente disponíveis para essa data. Eu sabia que o Floating Points, a princípio, não estava disponível. Mas, por sorte, depois voltamos a sondar, e nosso desejo acabou se concretizando. Foi uma questão de timing, muita paciência e muitos e-mails trocados.

Não foi um lineup fácil de colocar de pé, a gente não tem esse costume de trazer tantos gringos, mas eu tenho certeza de que não teria outro melhor. Contando aqui para você em primeira mão, deve rolar um back to back entre Antal e Floating Points, que é algo que nunca aconteceu.

Ele só tocaram juntos uma vez, num Dekmantel, com o Hunee junto. Mas só os dois, vai ser a primeira vez.

Tem alguma outra novidade legal da Selvagem que você gostaria de compartilhar conosco?

Além do B2B entre Antal e Floating Points, a vontade é de fazer uma segunda edição do festival em 2024, que foi um golaço nosso no ano passado, e talvez voltar a fazer festas de dia — algumas menores. Sair um pouco desse desse ciclo de festa noturna e gigante.

Pelo que eu tenho observado, mesmo morando fora, voltou esse desejo [no Brasil], o mesmo de quando a gente começou no Paribar, de ter alguns eventos mais diurnos, que sejam mais inclusivos… E trazer, movimentar mais gente nesse processo.

Serviço

Selvagem 11 anos x Rush Hour 25 anos [RJ]

Local: Terrasse Rio – Avenida Almirante Silvio de Noronha, 300 – Centro, Rio de Janeiro/RJ
Data: 24 de novembro (sexta-feira)
Horário: A partir das 20h
Atrações: Floating Points, Antal, Soichi Terada, Trepanado, Érica e Nina Roq
Ingressos: A partir de R$ 110,00 via Ingresse

Selvagem 11 anos x Rush Hour 25 anos [SP]

Local: Centro de Eventos Arena Pinheiros – Av. Eng. Billings, 2300 – Jaguaré, São Paulo/SP
Data: 25 de novembro (sábado)
Horário: A partir das 23h
Atrações: Floating Points, Antal, Soichi Terada, Trepanado, Cauana, Crazed (BR), DJ Paulão e Pista Quente
Ingressos: A partir de R$ 120,00 via Ingresse

fatboy slim com bandeira da house music
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Flávio Lerner

https://flaviolerner.medium.com/

Editor-Chefe do Music Non Stop.

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