Caetano Veloso Transa Caetano Veloso no exílio, em Londres, em 1971. Foto: Reprodução

Por que “Transa”, de Caetano Veloso, é tão especial? Álbum será tocado na íntegra em SP

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Depois de apresentar ao Rio, cantor traz show do disco de 1972 a São Paulo, em duas datas no Espaço Unimed

Caetano Veloso se sentia vivo caminhando pela Portobello Road, em Londres, ouvindo reggae pelas ruas. Assim cantou em Nine Out Of Ten, segunda faixa do disco Transa, lançado em 1972 e gravado no ano interior, produzido por Jards Macalé e com participações de Gal Costa e Angela Ro Ro.

De fato, o reggae ajudava a manter Caetano vivo, muito longe de casa. Ao lado do amigo Gilberto Gil, se enfiou na comunidade jamaicana local, em uma época em que Bob Marley, papa do gênero, ainda não tinha conquistado repercussão mundial.

Transa faz parte do universo dos discos que envelheceram bem. Não traz, em sua tracklist, nenhum superhit, a ponto de suas faixas terem sido deixadas meio de lado nos shows que Caetano voltou a fazer no Brasil, depois da volta para casa.

O álbum maturou, e foi mais um lançamento brasileiro que teve seu valor reconhecido graças ao culto aos grooves raros que tomou conta do país na década passada, comandada por DJs e colecionadores de discos de vinil. Hoje, é obrigatório em qualquer lista de melhores discos nacionais de todos os tempos.

É, também (raridade hoje em dia), um LP para ouvir inteiro, do começo ao fim. Suas faixas são coesas e sugerem uma viagem pela cabeça de Caetano e os quadris de Macalé, durante uma época de exílio, quando refletia sobre si e a terra natal 24 horas por dia.

Traz, de cabo a rabo, a experimentação cosmopolita exigida na Londres do começo dos anos 70, principalmente quando os artistas eram estrangeiros. Apesar de oculto nos acordes e percussões, o reggae está presente na forma de existir; no jeito de poetizar as dores da alma.

Veloso assume — e isso é uma das maiores qualidades da obra — o valor da música brasileira. E a contribuição cultural causada pela mistura com a fuligem das calçadas londrinas.

A gravação, feita no formato jazzístico, em sessões majoritariamente ao vivo, traz uma profundidade gigantesca a Transa. O faz orgânico, de forma que passeia pelos diversos cantos do cérebro de quem o escuta com a devida atenção. Nos coloca dentro do estúdio. Ou, melhor, coloca o músico e sua banda dentro de nós.


Trazido ao Rio de Janeiro no começo do mês, o show especial, em que Caetano Veloso toca o disco na íntegra, chega a São Paulo no final de semana. A apresentação de sábado (25), no Espaço Unimed, esgotou rapidinho. A trupe providenciou uma data extra, na segunda-feira (27), ainda com ingressos disponíveis.

Ao cantor, nunca faltou reconhecimento. A Transa, sim. O show é uma oportunidade de recuperar a energia única do álbum, e também de testemunhar a incrível capacidade do artista em renovar sua legião de fãs.

Serviço

Caetano Veloso apresenta Transa

Local: Espaço Unimed – R. Tagipuru, 795 – Barra Funda, São Paulo/SP
Datas: 25 e 27 de novembro (sábado e segunda)
Horários: Abertura: 20h. Início: 22h (dia 25); Abertura: 19h30. Início: 21h30 (dia 27)
Ingressos: Esgotados para o dia 25. Disponíveis para o dia 27, a partir de R$ 340,00, via Ticket360
Classificação: 16 anos

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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