Ed Motta - 2023 Ed Motta. Foto: Divulgação

Com 14º disco, o Ed Motta que nos interessa voa alto e impressiona o mundo, mais uma vez

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Behind The Tea Chronicles é mais uma prova de que o artista é um dos grandes da história do jazz-funk brasileiro

No Brasil, existem dois Ed Motta. Um, para quem nunca ouviu nada de sua música além do hit pop Manoel, e outro, muito mais interessante e encantador, para quem realmente está atento à sua obra. O músico é, aqui e no mundo, figura chave e atuante no jazz-funk, único herdeiro de Cassiano declaradamente, uma das suas primeiras influências musicais.

Behind The Tea Chronicles, 14º álbum de sua carreira, cumpre sua função de cristalizar a redoma que o protege daqueles que jamais se deram ao trabalho de escutar alguma coisa feita pelo artista. Dentro dela, Motta reina solitário. Basta olhar a ficha técnica das músicas: “escrito por Ed Motta, produzido por Ed Motta, interpretado por Ed Motta”.

É assim que sua mente funciona. Ele toca todos os instrumentos e cuida dos arranjos. O que o faz ainda mais genial, principalmente para aqueles que se permitirem ouvir o novo disco de ponta a ponta.

Quando comete o erro de botar os pés para fora de seu reino, é só confusão. Ed se perde em um mundo cujas regras não conhece. É por isso que a maioria dos brasileiros o conhece devido às suas declarações controversas, aos memes, às excentricidades.

Uma busca rápida no Google retorna uma dezena de matérias contando que ele “tirou a barba na pandemia”.  As polêmicas passadas o fazem pauta de fofoca. É preciso garimpar fundo para saber que ele já dividiu palco com Roy Ayers, Incognito e Chucho Valdéz, por exemplo.

Não espere encontrar outra Manoel ou Colombina em Behind The Tea Chronicles. Já faz tempo que Ed Motta desistiu de se aventurar no mundo exterior, fazendo pop sofisticado. Em mais um ótimo disco, o artista se mantém no que sabe fazer melhor.

Assim como seus pares no estilo, como o próprio Roy Ayers, Isaac Hayes, João Donatto e Cassiano, não se trata de música fácil. É um labirinto harmônico.

Como era de se esperar, pelo mundo afora o novo álbum, lançado em 20 de outubro, está voando. Bateu rápido meio milhão de audições no Spotify, e só tem recebido elogios.

Para a All Music, Motta “oferece caleidoscópicas combinações e reinvenção de sons, estilos e gêneros que o influenciaram”. A Maximum Volume o descreve como “um tesouro a ser descoberto, de incrível amplitude vocal”, e a UKVibes começa sua resenha classificando-o como uma “lenda da música contemporânea brasileira”.

E é esse Ed Motta o que nos interessa!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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