Rosinha de Valença Rosinha de Valença. Foto: Reprodução/YouTube

Quem é a brasileira que entrou na lista dos maiores guitarristas de todos os tempos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Rosinha de Valença ficou na posição 162 de 250 do novo ranking da Rolling Stone. João Gilberto é o outro brasileiro selecionado

A bossa nova segue como o grande cartão postal da música brasileira. Pelo menos é o que mostra a nova lista da revista americana Rolling Stone, com os 250 maiores guitarristas e violonistas de todos os tempos.

Enquanto guitarristas de grandes bandas brasileiras de sucesso internacional, como Sepultura e Angra, ficaram de fora do seleto grupo, dois representantes do instrumento, nascidos na terrinha, entraram para o ranking: João Gilberto, óbvio e notório criador de um estilo único de tocar violão, foi um deles. A agradável surpresa, no entanto, ficou para a carioca (e pouco conhecida entre seu povo) Rosinha de Valença.

Passeando pela lista, percebemos que três movimentos históricos andam tomando conta dos curadores convidados.

O primeiro é revisitar a participação das mulheres como mestras do instrumento. A “mãe do rock’n’roll’, Sister Rosetta Tharpes, apontada em sexto lugar, e o violão de Joni Mitchel, em nono. Vários ícones femininos do rock, blues e country também ganharam seu espaço. Desde Kim & Karen Deal, do Breeders, até Poison Ivy, do The Cramps. Estranhamente, a incrível June Millington, da Fanny, ficou de fora.

Além disso, percebemos também que o estilo “pé no amplificador e solos intermináveis”, tão apreciados pelos fãs do rock clássico, vão dando lugares ao reconhecimento de artistas que exploram o lado mais cru, experimental e rítmico do instrumentos. Entraram no Top 250, por exemplo, St. Vincent, Viv Albertine (The Slits) e até mesmo a japonesa Wata (Boris).

Em terceiro lugar, mas não menos importante, está a descentralização do modo EUA–Inglaterra de avaliar a música. Guitarristas de todos os cantos da terra não plana estão por ali. Africanos, asiáticos, sul-americanos e dois nascidos aqui na república federativa brazuca, tão sofrida nas desigualdades, mas gigante na música.

Dois, aliás, é pouco, em nossa modesta e bairrista opinião.

A lista deixou de fora os notáveis do universo da música clássica. Não espere, portanto, ver ícones como Andre Segovia, John Williams e Julian Bream. Mas há nomes do jazz, flamenco, afrobeat e, claro, uma predominância dos roqueiros. Jimi Hendrix segue no topo.

João Gilberto é uma unanimidade. Na posição 142, criou um estilo sofisticado e minimalista de tocar violão, transformando suas gravações em um exercício de imersão em cada nota, cada vibração da corda ressonando na caixinha de madeira do seu instrumento.

A surpresa veio por conta de Rosinha de Valença

Valença, município do sul do Rio de Janeiro, é o local onde nasceu Maria Rosa Canellas, em 1941. Compositora, cantora e violista, ajudou a pavimentar o chão onde outros construíram a bossa-nova.

Autodidata, aos 12 anos de idade já esmerilhava no violão. Foi apresentada a Baden Powell e Aloysio de Oliveira. A partir daí, a carreira seguiu vibrante como as cordas de sua viola. Gravou com Sergio MendesMartinho da Villa, e teve como último lançamento oficial, no ano de sua morte (2004), o disco Namorando a Rosa, pela gravadora Biscoito Fino.

Rosinha estava há 12 anos em coma, devido a uma lesão cerebral causada por um infarto. Ao todo, foram 14 álbuns na carreira desde seu debut, Apresentando Rosinha Valença, em 1963.

The 250 Greatest Guitarists of All Time foi publicada pela Rolling Stone nessa sexta-feira (13). Veja a lista completa aqui.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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