Rock The Mountain: festival rústico no meio da serra carioca atrai 50 mil pessoas com line-up 100% feminino

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Pluralidade e simplicidade marcaram o primeiro final de semana da edição comemorativa de dez anos

Juntando cerca de cem mulheres da música brasileira de diferentes gêneros musicais, representando do techno ao carimbó, o festival Rock The Mountain, que aconteceu no último sábado (04) e domingo (05), em Itaipava, região serrana do estado do Rio de Janeiro, atraiu 25 mil pessoas por dia, avolumando um giro de 50 mil pessoas em seu décimo aniversário.

Os ingressos haviam se esgotado havia vários meses para esta que foi uma edição marcada pela presença das mulheres em todos os palcos do festival. Estavam lá desde artistas que habitam o mais alto escalão da MPB até musas da discotecagem, como KENYA20Hz, Cashu, Tata Ogan e Valentina Luz.

Marisa Monte estava bem falante e à vontade no palco do Rock The Mountain. Foto: Divulgação

No sábado, nomões como Marisa Monte, Maria Rita, Iza, Negra Li, Dona Odete, Sandra de Sá, Jup do Bairro e Alcione lotaram os dois palcos principais (Floresta e Estrela), erguidos em harmonia como a cenografia natural do parque, lotada de vegetação atlântica.

Nos palcos menores, como o Magic Disco, uma boatezinha erguida dentro de uma tenda, a música de pista dos anos 70 aliada à participação especial de drags deu ares de locação do filme Priscilla, a Rainha do Deserto, enquanto o estreante Casa do Rock dava a impressão de estar num boteco de beira de estrada no Texas.

O clima de ballroom no palco Magic Disco, com DJs e drags fazendo a festa. Foto: Monique Dardenne/Music Non Stop

No domingo (6), foi a vez de ver ícones como Maria Bethânia, Pitty, Margareth Menezes, Majur, Marina Sena, Karol Conká, MC Carol e Daniela Mercury se revezando nos dois palcos maiores, enquanto DJs de música eletrônica como Lys Ventura, Evehive e Jacquelone, e artistas da nova cena de música brasileira, como Katu Mirim, Bixarte, Luísa e os Alquimistas e Tuyo, animavam a parcela mais indie do público.

Maria Bethânia fez um show que misturou hits, versão de Clube da Esquina e participação da Lan Lan. Foto: Divulgação

No total, oito palcos absorveram a programação de música, e a tal da experiência de festival foi complementada com área de alimentação, tirolesa, balão, roda gigante e instalações de arte, atraindo um público composto por todas as idades, com muitas crianças e bebês, inclusive.

Realizado dentro do Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes, em Itaipava, o Rock The Mountain tem se posicionado como um dos mais sustentáveis do país, com práticas como água potável gratuita em bebedouros, praça de alimentação 100% vegana, plantio de mudas e compensação de emissão de crédito de carbono através de compra de crédito.

A verdade é que, a olhos nus, para o público, talvez a coisa mais sustentável seja a integração das marcas apoiadoras com o ambiente em que estão inseridas. No lugar de grandes estandes com ativações caríssimas, cenografias rústicas e até ingênuas não destoavam do agradável espaço, por vezes até simplório, do parque.

Palco Floresta, o maior do festival, por onde passaram nomes como Iza, Marisa Monte e Daniela Mercury. Foto: Divulgação

Outro ponto positivo em prol da sustentabilidade foi a escolha do line-up 100% feminino, coisa que outros festivais parecem temer. Construída em parceria com o Women’s Music Event, a programação acabou funcionando para atrair um público massivamente dominado por mulheres, o que acabou entregando um clima pacífico. Quase que um retrato da indústria fonográfica, as bandas de boa parte das headliners eram formadas majoritariamente por homens, assim como as áreas técnicas do evento.

“Num ano marcado por perrengues e experiências ruins em festivais, o que mais me agradou no Rock The Mountain foi o básico bem feito. Tinha pessoas mais velhas, famílias… Até o cansaço foi diferente. Não era o de quem teve que se degladiar para pegar comida ou ir ao banheiro, mas uma fadiga normal de quem bateu perna por dois dias seguidos”, disse a jornalista Laura Damasceno, frequentadora assídua de festivais pelo Brasil.

A ausência de chuva também ajudou a evitar situações caóticas no festival.

Momento fofura

No domingo, a cantora Preta Gil, que teve seu show cancelado no festival por motivos de saúde, foi convidada a subir ao palco pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, que se apresentava no palco Floresta, o maior do festival.

“Estou muito feliz de estar aqui ao lado de Margareth, e na próxima edição estarei aqui com certeza e farei um show inteiro”, disse, emocionada. Juntas, elas cantaram as músicas Sinais de Fogo e Passa em Casa.

A presença da cantora Rita Lee, através de uma obra de arte inflável, gerou um dos pontos mais concorridos para abastecer o público com fotos instagramáveis. A obra, de mais de sete metros de altura, foi criada pelo coletivo de arte multidisciplinar Cool Shit.

O Rock The Mountain volta a acontecer, com line-up espelhado, no próximo final de semana, no mesmo endereço. Os ingressos estão esgotados.

Serviço

Rock The Mountain (fim de semana 2)

Datas: 11 e 12 de novembro

Horário: das 11h às 04h

Local: Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes – Itaipava, Petrópolis, Rio de Janeiro

Ingressos esgotados

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.