Tame Impala - Deadbeat

Deadbeat

Tame Impala

Alt-pop / Indie dance | 2025

7.0/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

O Tame Impala acaba de lançar nesta sexta-feira (17) um novo álbum, Deadbeat. Hmm… é melhor reformular: Kevin Parker lançou um novo álbum do Tame Impala. Apesar de seguir usando o nome da banda que revolucionou o indie rock psicodélico em 2010 diretamente da Austrália, com o seminal disco InnerSpeaker, estamos falando agora de praticamente outro projeto.

Isso porque, conforme Parker foi centralizando o processo criativo do Tame Impala, o grupo foi deixando aquela sua sonoridade rasgada, de caminhos melódicos completamente inesperados e pegada rock’n’roll. “Gravar uma bateria? Ah, sei não, melhor programar aqui uma batida eletrônica” (Deadbeat tem, inclusive, uma faixa “eletrônica raiz”, Ethereal Connection).

Compondo, gravando e executando os processos, o maluco foi cooptado pelo planeta pop, que adora sair em busca de gênios de estúdio para dar uma repaginada quando preciso (recentemente, Kevin caiu nas graças de Dua Lipa, e produziu seu último disco).

Para se ter uma ideia do quanto o timbre do Tame Impala é desejado, seu líder chegou a criar um sintetizador, o Orchid, vendido como capaz de fazer com que qualquer músico crie com o estilo de som característico da banda. Inédito. Eis que, em 15 anos de vida dentro do show business, o cara foi se isolando em seu mundo fantástico. Impressionou a todos com sua banda maluca, ganhou dinheiro, foi comprando todos os equipamentos de estúdio que desejava e se isolando em seu Parkinho (desculpe, não resisti).

A música de hoje é a do Kevin Parker produtor, que faz tudo sozinho, trancado em casa. Tanto que é ele o modelo da capa, com a filha no colo. Deadbeat Dad significa pai ausente, que não cumpre seus compromissos financeiros ou afetivos.

Bem, devaneios nostálgicos devidamente choramingados, há vitórias na guinada pop eletrônica de Kevin Parker. A maior delas é subir a régua da música feita para as grandes massas. Seu trabalho é fundamental para nos lembrar de que dá para fazer música boa de rádio, de festival, para grandes audiências, sem repetir estéticas musicais à exaustão. Obsolete, oitava música de Deadbeat, poderia estar em um álbum dos Backstreet Boys. Eis que Parker dá ao som uma entortada. Sobe um tom ali, faz uma mixagem esquisita, e algo mais interessante aparece em meio a uma música de construção simples. Este é o seu grande trunfo.

Ao longo da história da música, muita gente já apareceu vendendo caminhões e, ainda assim, trazendo algo fresco e muito bem feito. Michael Jackson, Stevie Wonder, Beyoncé, Bruno Mars… A grande maioria, no entanto, vindo do soul, do funk, e de seu filho bem arrumado, R&B. A sacada de Parker é fazer a mesma coisa vindo do indie rock e da Austrália.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.