L7 em SP L7 no Carioca Club, em SP. Foto: Fernando Yokota/Divulgação

Review: “Não precisamos de bolas”; em clima íntimo, L7 brilhou em SP

Music Non Stop
Por Music Non Stop

Nos clássicos da era grunge, nos solos que arrepiam os pelinhos do braço e na atitude sem concessões, L7 mostrou de novo que é uma banda essencial

Por Bruna Monteiro de Barros

Fotos: Fernando Yokota/Divulgação

Se na primeira vez que o L7 veio ao Brasil, em 1993, foi o fator surpresa que levou à catarse plateia e palco do Hollywood Rock, 30 anos depois — vulgo o último dia 20 —, foi a sorte de um amor tranquilo que deu o tom na noite roqueira do Carioca Club, em São Paulo.

Galera de preto, maciçamente mais velha, cantando tudo e ovacionando no final de todas as canções encontra uma banda tranquila, plena, bem-humorada e tocando extremamente redondo.

A promessa era um show de sucessos, o The Best Of. Assim, 9 das 23 músicas apresentadas em 90 minutos foram de Bricks Are Heavy, o disco de 1992 produzido por Butch Vig, do Nirvana, que trazia o hit absoluto, Pretend We’re Dead. Mas não só.

Tinha Everglade, a terceira e a primeira a tirar o povo do chão, e Shitlist, um clássico que encerrou a apresentação antes do bis, com as mãos todas socando o ar e gritando com Donita Sparks a palavra-título.

Outro super “best of” do álbum, Monster fez dobradinha com Fuel My Fire, um dos pontos altos, com muito bate-cabelo e mergulho do palco.

L7 em SP

L7 no Carioca Club, em SP. Foto: Fernando Yokota/Divulgação

Nos anos 90, Donita, Suzi Gardner, Jeniffer Finch e Dee Plakas abusavam da atitude punk, com muita contestação e causação, para chocar e se firmar no cenário machista. No Reading Festival, em 1992, se desestruturaram por conta de problemas técnicos, fizeram um show ruim, levaram vaias e bolas de lama, o que culminou com a frontwoman jogando o OB na plateia (uma lenda do rock’n’roll, aliás).

Bom, nada como a maturidade, a segurança e a autoafirmação. No Carioca Club, não faltaram problemas: uma guitarra que caiu logo no começo do show, microfonia a partir da segunda música, que só foi resolvida na metade da apresentação, guitarras e vocais com baixo volume por um bom tempo… Nada disso abalou.

Suzi passou o show inteiro no seu canto, intimista, com seus solos impecáveis, sua tiara de gatinho e óculos escuros. Dee brilhou como um relógio na sua bateria. Donita, enérgica, tocava e cantava muito, levantando o povo e batendo cabeça em sincronia com Jennifer, de cabelos vermelhos no baixo e voz.

L7 em SP

L7 no Carioca Club, em SP. Foto: Fernando Yokota/Divulgação

Sparks falou poucas vezes, xingou Trump, se solidarizou com mulheres que sofrem abuso e tirou um barato de um cara que subiu no palco pra mergulhar na plateia, embaçou e precisou de uma ajudinha do segurança: “Acho que ele quer casar com a Patricia”, disse, ao acabar de tocar Non-Existent Patricia.

O palco, aliás, esteve aberto para os saltos durante todo o show. Uma hora decidiram segurar a subida só para as meninas. Parece civilizado, mas a roda pegou fogo. Uma mina teve que sair do front para respirar bem na música que ela mais gostava, Fuel My Fire, do álbum Hungry For Stink, de 94. Perguntei sua idade: 37 anos (ou seja, tinha 8 quando saiu a faixa preferida).

Quando a galera gritava em peso “L7, L7, L7!”, Donita rebolava e balbuciava “L7, L7, L7”, rindo. Suzi mandou um “I love you” para alguém ali na frente do palco. O clima era de intimidade.

Nos pedais que nos levam a Seattle, nos clássicos da era grunge, na pegada headbanger, nos solos que arrepiam os pelinhos do braço, na atitude sem concessões dessas quatro mulheres únicas, o L7 mostra de novo e sempre que é uma banda de rock essencial.

E, antes de as luzes se acenderem, o grupo fez todos gritarem os clássicos e deliciosos versos de Fast & Frightening, que elas fizeram contra a ideia estúpida de que mulheres rebeldes teriam colhões: “Got so much clit she don’t need no balls. She’s fast, she’s lean, she’s frrrrrrrrrrrrrrrrrightening” (“Ela tem tanto clitóris que ela não precisa de bolas. Ela é rápida, ela é magra, ela é assustadoooooooooora”).

Pois é, nós não precisamos de bolas.

Setlist

  • Deathwish (Smell the Magic)
  • Andres (Hungry for Stink)
  • Everglade (Bricks Are Heavy)
  • Scrap (Bricks Are Heavy)
  • Shove (Smell the Magic)
  • Stadium West (Scatter the Rats)
  • One More Thing (Bricks Are Heavy)
  • Mr. Integrity (Bricks Are Heavy)
  • Slide (Bricks Are Heavy)
  • Can I Run (Hungry for Stink)
  • Human (Slap Happy)
  • Bad Things (The Beauty Process: Triple Platinum)
  • Monster (Bricks Are Heavy)
  • Fuel My Fire (Hungry for Stink)
  • Fighting the Crave (Scatter the Rats)
  • Drama (The Beauty Process: Triple Platinum)
  • Non-Existent Patricia (The Beauty Process: Triple Platinum)
  • Wargasm (Bricks Are Heavy)
  • Pretend We’re Dead (Bricks Are Heavy)
  • Dispatch From Mar-a-Lago (single)
  • Shitlist (Bricks Are Heavy)

BIS

  • American Society (Smell the Magic)
  • Fast and Frightening (Smell the Magic)
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